sábado, 9 de abril de 2011

PALAVRAS QUEM BEM DEFINEM O HOMENAGEADO:

“Enquanto a meta da maioria dos filmes é o mero entretenimento, o tipo de obra cinematográfica no qual acredito vai além: ele compele o espectador a examinar uma ou outra faceta de sua própria consciência, o que estimula o pensamento e estabelece o fluxo dos sucos mentais”.

E, só para que não pensem que estas palavras são vãs, estes são apenas três dos vários momentos em que o autor das palavras acima transcritas demonstra que cumpria a risco aquilo em que ele acreditava: o questionamento da lei dos homens em “12 Homens e uma Sentença” (1957), a inevitabilidade da tristeza traumática em “Equus” (1977) e um belo canto de cisne em “Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto” (2007). Por tudo isto, eu grito: descanse em paz, Sidney Lumet!

Wesley PC>

QUE EU ME LEMBRE, ESTE FOI O PRIMEIRO FILME BÚLGARO QUE VI, MAS A TESE DE QUE “A ARTE TRAZ SOFRIMENTO” É BEM ANTERIOR...

“Uma bailarina que dá tudo de si, mas que, apesar dos esforços, descobre que nunca conseguirá o papel do Cisne Branco – Odeta – no balé 'O Lago dos Cisnes', de Tchaikovsky, e que nunca será a prima ballerina na companhia de balé. Apesar da decepção, ela persiste obsessivamente na tentativa de aperfeiçoar seu talento”.

Quando li a sinopse acima, na página virtual do canal pago Eurochannel, fiquei apreensivo: “Cisnes Negros” (1984), pouquíssimo conhecido filme do diretor búlgaro Ivan Nichev, é a demonstração mais precisa de que o melhor filme do Darren Aronofsky não passa de um largo engodo imitativo? Para minha sorte – e a dele – o filme búlgaro segue uma vertente enredística muito diferente daquela que é promulgada em “Cisne Negro” (2010): apesar de a busca da perfeição ser comum às bailarinas de ambos os filmes, os empecilhos actanciais que se manifestam num e noutro caso são bem diversos. No filme norte-americano, a dificuldade da protagonista é interpretar o cisne malévolo do título singular; no filme búlgaro, o desafio é superar os cisnes malévolos do título plural.

De chofre, é-me abstruso dizer o quanto gostei (ou não) do filme búlgaro: existencialmente complexo e narrativamente árduo como fazia tempo que eu não me deparava, sou facilmente obrigado a admitir que não entendi o filme! Tanto que, por vezes, cria que estava a cochilar durante a exibição ou que meu cansaço decorrente do sobejo de trabalho burocrático no dia me deixava com amnésia imediata, tornando-me incapaz de reter as informações disseminadas pelo filme, mas, não, ele é muito complicado mesmo, esquisito, culturalmente hermético. Acho que eu teria que ser um pouquinho búlgaro para experimentá-lo melhor...

Mesmo sem ter compreendido o filme, gostei de sua mensagem final: “nem sempre podemos evitar a derrota, mas sempre se pode evitar a rendição”... E, enquanto eu ouvia uma canção da paulista Tulipa Ruiz, que dizia que “a ordem das árvores não altera o passarinho”, lembrei que um fato inusitado é urgente de ser comentado aqui: o novo bolsista do setor em que trabalho mora num abatedouro! Chegou para trabalhar às 18h de ontem e disse que está com problemas para organizar o seu horário, pois, além de estudar Engenharia de Pesca, ele precisa acordar muito cedo todos os dias para matar galinhas. Ele não me pareceu má pessoa, mas, com estes antecedentes profissionais, como confiar?

Voltando ao diretor Ivan Nichev, sobre o qual nunca ouvi falar, estão programados mais quatro de seus filmes para este mês de abril no Eurochannel, sendo que o tema das conseqüências psicológicas desnorteadoras volta em títulos como “Estrelas no Cabelo, Lágrimas nos Olhos” (1977) e “Ivan e Alexandra” (1989), que me deixaram muitíssimo interessado. E, só para validar o quanto o filme destacado no primeiro parágrafo deste texto é raro, a única imagem adequada que encontrei do mesmo é esta que acosto à postagem, que diz pouco, muito pouco sobre ele... Mais desdiz do que diz, aliás!

Wesley PC>

quinta-feira, 7 de abril de 2011

E, MAIS UMA VEZ, LEIO UM ROMANCE ANTIGO MUITO, MUITO DEVAGAR...

Comecei a ler “A Religiosa” (1773), de Denis Diderot, há mais de uma semana. É um romance curto. Na edição que estou em mãos, inclusive, somente 183 páginas separam o final do início. É tudo narrado como se fosse uma longa carta: a protagonista, rebatizada Irmã Santa Susana, narra a um interlocutor defensivo as agruras vivenciadas nos conventos em que fora obrigada a demonstrar uma vocação religiosa que não possuía. Sua mãe traíra seu pai antes de morrer e ela foi o fruto deste adultério. A fim de purificar o erro, ela, a inocente filha do pecado, é lançada num palco de atrocidades cometidas em nome da religião, de uma imitação espúria e malévola do que não deve ser religião. E, num momento dramático, um advogado lança a citação abaixo em julgamento:

Fazer voto de pobreza é comprometer-se por juramento a ser preguiçoso e ladrão; fazer voto de castidade é prometer a Deus a constante infração da mais sábia e mais importante de suas leis; fazer voto de obediência é renunciar à prerrogativa inalienável do homem, a liberdade. Quem observa estes votos é criminoso; quem não os observa é perjuro. A vida claustral é dos fanáticos ou dos hipócritas”.

Não ouso dizer que concordo com estas palavras enfezadas. Sou um religioso, sou tendenciosamente solitário, sou claustrofílico. Por estas e outras, leio este livro com uma vagareza pensada. Sabe quando se sente dor durante a leitura? Então... Deixa eu ir dormir, que, amanhã cedinho, eu trabalho!

Wesley PC>

“I STILL HAVE (NOT) A FLAME GUN FOR THE CUTE ONES”...

Sou fã de Cat Power. Por isso, sei que este verso-chave da canção “Nude as the News” funciona melhor contigo na versão negativa e lamentosa do que no tom de orgulho ferido e vingativo da canção original. Minha arma de fogo para os meninos bonitos é falha, quase inexistente...

Emularam por aí que dia 07 de abril é considerado “o dia do jornalista”. Como tal, os profissionais abarcados por este título dedicaram parte do dia à cobertura de um evento trágico no Brasil. De minha parte, eu participava de minha primeira simulação de entrevista coletiva, onde fui tachado de “sindicalista”. E, por mais que eu tentasse pensar noutro assunto, esta temível demonstração de que, no plano sensacionalista, bad news are good news” mexia comigo...

Voltando ao trabalho que exerço: sentado num balcão de atendimento ao aluno, ouvi os protestos de um rapaz de mais ou menos 25 anos, estudante de Direito que me procurou a fim de dar entrada num processo de afastamento por atestado médico. Havia um curativo em sua testa, decorrente de um acidente acontecido na academia em que ele se exercita durante as noites. Halteres despencaram sobre seu rosto, ferindo-lhe de maneira dolorosa, mas não a ponto de ele processar a empresa de Educação Física em que se exercitava: “a culpa foi minha”, admitiu, “eu que insisti para levantar mais peso do que podia suportar!”...

Aí foi a vez de um aluno de Engenharia Civil me telefonar: “oi, tu te lembras de mim? Sabes dizer se a tua chefa já chegou? Preciso entregar um documento a ela...”. “Que documento?”, perguntei eu, afirmativamente. “Se disser respeito àquele problema de que tu me falaste ontem, já está tudo resolvido”. “Sério?!”, perguntou ele, espantado, acrescentando elogiosamente: “tu tens mesmo a moral!”. E, definitivamente, moral é algo que eu não sei se tenho agora...

Wesley PC>

quarta-feira, 6 de abril de 2011

SALDO APROVISIONADO NO DIA...

Conforme prometido, a citação bancária: apesar de possuir os álbuns “Breakaway” (2004), da Kelly Clarkson e “Rudebox” (2006), do Robbie Williams em casa faz tempo, nunca me interessei em ouvi-los. Ontem, tive acesso a ambos os discos, crente de que estava financiando a vacuidade ‘pop’. Para minha branda surpresa, uma ou duas faixas do disco britânico me chamaram a atenção pela pesquisa rítmica e o disco estadunidense fisga-nos pelo uso experimentado de fórmulas xaroposas de identificação dramática. Assim sendo, a versão de Robbie Williams para “Bongo Bong and Je Ne T’Aime Plus” (anteriormente cantadas por Manu Chao) e a entonação de sofrimento que Kelly Clarkson adota em “Addicted” compensaram positivamente meus pré-conceitos justificados acerca dos discos em pauta. O saldo foi aprovisionado. E tem muito mais de onde veio isso...

Wesley PC>

terça-feira, 5 de abril de 2011

O MELODRAMA ENQUANTO EFEITO PROPAGANDÍSTICO:

Quando eu cheguei ao trabalho, na tarde de ontem, deparei-me com uma notícia de duas páginas num famoso hebdomadário brasileiro sobre a estréia na HBO da minissérie em cinco capítulos “Mildred Pierce” (2011), dirigida por Todd Haynes e protagonizada por Kate Winslet. Estes dois referenciais artísticos eram suficientes para me motivar a assistir a tal minissérie, mas o fato de ela ser uma adaptação renovada de um filme clássico hollywoodiano ainda não-visto também servia como chamariz adicional. Não titubeei: o texto da jornalista Isabela Boscov era tão bem-escrito e empolgado que eu não resisti. Sai às pressas do meu setor de trabalho para chegar em casa a tempo de ver o capítulo de estréia, conforme descrevi aqui.

Para além de todo o entrosamento positivo entre eu e minha mãe durante os momentos que identificamos traços de comparação positiva entre nossa própria história familiar e a da protagonista, cabe aqui um elogio direcionado ao talento directivo de Todd Haynes, que, mais uma vez, presta uma homenagem egrégia ao cinema melodramático de outrora, conforme já fizera em relação a Douglas Sirk no ótimo “Longe do Paraíso” (2002). Agora, o alvo de sua genial paleta dramática é o filme de Michael Curtiz “Almas em Suplício” (1945), em que uma dona-de-casa recém abandonada pelo marido adúltero arranja um trabalho como garçonete e é desprezada pela filha mais velha, numa trama que inspirou a telenovela “Vale Tudo” (1988-1989, de Gilberto Braga. Aguinaldo Silva e Leonor Bassères), em que a personagem de Glória Pires humilha a personagem de Regina Duarte, sua mãe, por ter vergonha de seu emprego como vendedora de sanduíches numa praia. Desde bem antes, preciso ver o filme original, visto que, se for tão bom quanto (ou melhor que) a minissérie atual da HBO, mexerá bastante com meus canais lacrimais inassumidos...

Wesley PC>

segunda-feira, 4 de abril de 2011

RELATO NÃO TÃO FALSO DE ATIVIDADES QUE POTENCIALMENTE INTERESSAM A QUEM GOSTA DE SABER ESTÓRIAS DE VIADO:

Puta merda! Por que aquele menino bonito que trabalha no atendimento da Biblioteca não estava lá hoje para me atender?! Logo hoje?! Pôrra, hoje que eu estava precisando de uma ilusão com cheiro de macho burocrata. Sorte que as palavras de encorajamento de Friedrich Engels estavam registradas em livro e vieram em meu auxílio: “o autor que chega aos trinta anos (...) sem cortes do censor não vale nada. Os guerreiros cobertos por cicatrizes são os melhores”. Ele escreveu isso em 09 de dezembro de 1939, numa carta pessoal. Mais de 70 anos depois, a exortação ainda é demasiado válida. Caralho, cabrunco da pôrra. Só porque eu não sou acostumado a xingar. Não é xingar que eu quero. Quero terminar de baixar “Plein Sud” (2009, de Sébastien Lifshitz), quero caminhar até minha casa sem me preocupar com os medos de minha mãe, que me ligou desesperada há pouco, advertindo-me que houve um tiroteio no Rosa Elze. É como se eu estivesse com vontade de xingar de novo, por dentro. Mas xingar como?! Se xingar é coisa ruim, o que eu acho ruim é o que vem de Satanás. Mas falar muitas vezes o nome desta entidade maléfica corresponde a uma invocação. E, neste exato momento, 34% do arquivo do filme já estão integralizados. Prefiro esperar o restante do arquivo a ficar na fila do Ministério do Trabalho. Mil vezes não! 1989 vezes não. Preciso ver este filme. Preciso ajudar quem precisa de ajuda. Preciso de quem precisa de mim. Ah, porcaria, faz de conta que isso tudo foi um desabafo!

Wesley PC>

domingo, 3 de abril de 2011

SABER SEU NOME NÃO É SUFICIENTE!

“ – A fim de manter as aparências, dividiremos uma suíte, como se fossemos casados...
- Sou católica apostólica romana. Por isso, esta suíte terá dois quartos.
- Odeio quando a religião separa.
- A religião e uma porta trancada.
- Tu não precisas te preocupar: não fazes o meu tipo.
- Inteligente?
- Solteira...”


Nunca que eu fosse imaginar que “007 – Cassino Royale” (2006, de Martin Campbell) me tocaria tão pessoalmente quanto ele me tocou. Vi o filme como se estivesse a cumprir uma obrigação profissional, pois cria que Daniel Craig fosse inadequado para o papel e não aprecio o tom de ação incessante que o limitado diretor neozelandês Martin Campbell atribui a seus filmes mais conhecidos [“007 Contra GoldenEye” (1995), “A Máscara do Zorro” (1998) e “Limite Vertical” (2000), entre eles]. Surpreendi-me ao deparar com um protagonista humano, frágil e que, mesmo sendo um mulherengo contumaz (vide o diálogo que serve de epigrafe a esta postagem), não se furta a uma intensa paixão motivacional. Quando dei por mim, estava cativo do clima de traições cruzadas do filme, muito bem orquestradas, sou obrigado a dizer, pelo roteiro eficaz do presunçoso Paul Haggis, entre outros. Se, por um lado, minha mãe embasbacava-se com a beleza madura da atriz Judi Dench, por outro, eu transferia-me emocionalmente para o avatar contratual do protagonista, imaginava-me no lugar dele, vivenciando não somente aquelas aventuras complicadas, mas sendo obrigado a reverter conceitos profissionais em razão de uma paixão inesperada. E, para tanto, saber que Chris Cornell interpreta a canção-tema (“You Know My Name”) ajudou pouco: filme muito bom, um sinal!

Wesley PC>

AH, UM TONICO DESTES EM MINHA VIDA...!

Organizando as idéias: segundo relato de alguns amigos íntimos, dois estudantes universitários provenientes da cidade de Paripiranga – Bahia foram quase assaltados na madrugada de quinta para sexta-feira, no bairro em que moro. Ao lado de uma dezena de pessoas, estes estudantes foram perseguidos por uma dupla de malandros dopados, que atiraram grandes pedras contra a casa de uma menina, que ficou com medo de transitar pelo local, deste dia em diante...

Em verdade, muitos outros aspectos (sociológicos, historiográficos, dramático-subjetivos) podem ser extraídos do evento acima, do qual não participei, mas fiquei sabendo a partir de diversos relatos. Entretanto, optei por este preâmbulo paripiranguense por interesses bem definidos: em minha concepção exógena, Paripiranga é uma cidade pequena, interiorana, dotada daquele charme rural que tanto me encanta utopicamente. E alguém de quem gosto muito veio de lá. E tive a oportunidade de falar muito sobre este alguém na madrugada de ontem para hoje, quando brinquei de Verdade, Conseqüência ou Conseqüência com alguns amigos.

Na manhã posterior a esta brincadeira, assistimos a mais uma injustamente sub-valorizada pornochanchada brasileira, “Volúpia de Mulher” (1984, de John Doo), no qual uma mocinha interiorana engravida do namorado matuto e, quando é expulsa de casa por recusar-se a casar com ele, é obrigada a (quase) se submeter à prostituição para financiar uma operação delicada em seu filho recém-nascido. À medida que o filme evolui, infelizmente, a sinceridade declarada em sua nostálgica seqüência de abertura cede espaço a pretextos eróticos cada vez menos interessantes, em que a felicidade da protagonista é construída sob os auspícios da morte do melhor personagem do filme (a “puta velha” Lili Marlene, muito bem interpretada, no tom certo de afetação bem-intencionada, por Romeu de Freitas), mas o uso inventivo de ‘flashbacks’, por parte do diretor, me levava a reviver várias e várias vezes durante a projeção a maravilhosa seqüência de abertura, em que dois jovens caipiras fazem sexo numa cachoeira como se isto fosse a coisa mais natural do mundo, porque realmente é. Uma cena linda, em que ficamos sabendo que o nome do personagem que engravidou a protagonista é Tonico, mas não se sabe quem é o ator que o interpreta. Bonito ele...

E, quem me conhece de perto, sabe bem o quanto esta postagem é carregada de induções subliminares. Queria muito concentrar-me no filme, elogiar o que ele tem de relevante, onde ele erra, destacar por que ele deve ser resgatado e dignificado para além de suas convenções sub-genéricas, mas... Não deu, desta vez não deu, literalmente!

Wesley PC>

“BELA LUGOSI’S DEAD” OU O DISFARCE REPETITIVO...

Fiquei sem Internet durante o sábado: a Velox estava com problemas e, como tal, alguns de meus devaneios “góticos” perderam-se em função de novos eventos, que se acumularam e se amontoaram em meu cotidiano repleto de erros com e sem aspas: erros e “erros” me acompanham igualmente. E a canção-título do primeiro ‘single’ do Bauhaus será executada pela segunda vez seguida enquanto escrevo isto...

Tanto a dizer: por onde começar? Por onde começar? Disfarçar a angústia e falar da música? Disfarçar que a angústia é também razão de felicidade existencial e agradecer por ter amigos tão diferentes de mim que, nas horas certas, mostram-se como iguais? Repetir a canção pela terceira vez, depois desta segunda execução? Pedir desculpas e perdões, como eu sempre faço? Ai, Deus, por que dói tanto?! “Porque tu não estás morto como o Bela Lugosi!”, brinca uma versão sardônica de minha consciência. E eu aceito este chiste como verdadeiro – se bem que o Bela Lugosi tornou-se imortal... Eu ainda não. Mas estou tentando, juro que estou... Ou não.

Ou não.
Ou não.
Ou não.
Alguns recebem o “sim” como resposta.
Eu aceito a alternativa do não.

Wesley PC>