domingo, 29 de março de 2009

O QUE É UMA BIOGRAFIA?


Basicamente, “a história de vida de uma pessoa”, mas, dentro desse processo histórico-vitalício, algumas ações são preferidas em detrimento de outras. O que condiciona estas escolhas? A quem agrada tal seleção eventual?

Pensar nestes questionamentos após a sessão de “Control” (2007, de Anton Corbijn), nesta madrugada, só me fez valorizar ainda mais o filme, gostar ainda mais das opções sinópticas que o diretor estreante escolheu a fim de retratar a angustia existencial e epiléptica de Ian Curtis (1956-1980), vocalista da banda inglesa Joy Division.

Enquanto Rafael Torres chateou-se porque o roteiro prestou pouca reverência ao processo criativo da banda (exemplo: não é mostrado como as amarguradas canções do grupo foram compostas), eu encantei-me deveras com a insistência do roteirista Matt Greenhalgh em focar-se nos conflitos amorosos do protagonista, o que é perfeitamente compreensível quando sabemos que o filme foi baseado numa biografia escrita pela ex-esposa de Ian, Deborah Curtis (vivida no filme por Samantha Morton), cujas atenções matrimoniais precoces foram substituídas pelo fascínio inevitável que o vocalista sentiu pela belga Annik Honoré (vivida pela igualmente encantatória Alexandra Maria Lara). Apaixonei-me pelo filme, apaixonei-me pelas paixões do personagem, apaixonei-me pelos filmes que ele via, apaixonei-me pelas canções que ele compôs, que, conforme sabemos, tornaram-se influências basilares para as futuras composições do brasileiro Renato Russo, artista cujo trabalho foi minuciosamente apreciado pelos habitantes de Gomorra nesta manhã de domingo.

Fiquei tão encantado com o filme, que resolvi vasculhar mais alguns dados sobre o vocalista e a maravilhosa banda de que ele fez parte e deparei-me com esta imagem surpreendente, a última fotografia que sua esposa registrou dele, em frente à filha, no mesmo ano em que ele se enforcou voluntariamente. Vida é uma coisa complicada. O quanto olhar para esta imagem inequivocamente angustiada me faz ressignificar suas antológicas canções? O quanto? Talvez o melhor seja deixar o próprio compositor se expressar:

“Eu estou envergonhado das coisas que eu fiz
Eu estou envergonhado da pessoa que eu sou
(...) Mas se tu pudesses ver apenas a beleza
Destas coisas que eu nunca poderei descrever
Destes prazeres que são uma teimosa distração...
Este é meu único prêmio da sorte:
Isolamento, isolamento, isolamento”...


Wesley PC>

2 comentários:

Unknown disse...

a biografia e uma coisa muito boa mesmo

Martins disse...

Por acaso entrei no blog e fiquei surpreso como escreve bem. É claro objetivo e criativo. Pena que nem sempre os assuntos são bons. E bom que você o torna agradável tratando-os ou com irreverencia ou mais seriedade do que lhe caberia. PARABÉS !

PS. Siga o conselho do sua amiga chorona. Leve isso a sério.