terça-feira, 31 de dezembro de 2013

"NA PIA, A LOUÇA SUJA ME FAZ LEMBRAR DA ROUPA SUJA NO TANQUE QUE A VIDA É"...

Aos 72 anos de idade, Ney Matogrosso lança mais um disco: "Atento aos Sinais" (2013). Até a manhã do último dia do ano, não sabia desta informação. Quando voltava de um ensaio fotográfico numa cachoeira na cidade de Macambira - onde posei nu, mais uma vez! - ouvi algumas canções do referido disco, deveras elogiado pelos amigos ao meu redor. Pedi que o namorado do motorista repetisse uma faixa em particular, "Noite Torta", composta por Itamar Assumpção, na qual consta os versos que intitulam esta publicação: a ouvi três vezes seguidas e gostei bastante!

Daqui a uma hora, as pessoas comemorarão o Ano Novo. Ao longo desta semana, pensei comigo mesmo nas tradições que manterei quando estiver morando sozinho: fogueiras de São João, com certeza; pisca-pisca no Natal, nem pensar!

Ainda não tive tempo de ouvir o disco mencionado com a atenção que ele merece, visto que, segundo um dos presentes, "foi o melhor lançamento do ano, de longe!". Não duvido de sua opinião. Amanhã, estarei ouvindo e cantarolando as faixas, ao lado de minha família. E, neste exato momento, sinto fome, mais uma vez. Não sairei de casa hoje! O mundo é bom...

Wesley PC>

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

PÁGINA 285:




“Eu me limitava simplesmente a insinuar que os indivíduos extraordinários tinham direito – claro que não um direito oficial – a autorizar a sua consciência a saltar por cima de certos obstáculos, e unicamente nos casos em que a execução do seu desígnio (às vezes salvador, talvez para a humanidade) assim o exigisse”.

O que me leva à indagação conclusiva: sem ter lido “Crime e Castigo”, obra máxima do Fiódor Dostoiévski, segundo os críticos literários, como poderia eu ter esperança de fazer sexo (penetrativo) com um homem bonito algum dia?

Wesley PC>

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

IMPRESSÕES PESSOAIS SOBRE UMA QUARTA-FEIRA QUE PARECEU DOMINGO:


Por volta das 17h, resolvi ingerir Coca-Cola, refrigerante que costumeiramente evito, mas que, naquele momento em especial, servia como um indutor masturbatório, visto que a visão de uma bunda deliciosa, parcamente coberta com tecido alaranjado, me deixou simbolicamente excitado. Na TV, começava um filme muito elogiado por alguns conhecidos: “Heleno” (2011, de José Henrique Fonseca), sobre um famoso jogador do Botafogo, Heleno de Freitas, que, na década de 1940, brilhou nos gramados brasileiros, não obstante estragar a sua vida com empáfia, promiscuidade sexual e uso continuado de algumas substâncias tóxicas. Iria morrer na década seguinte, por conta das complicações de uma sífilis, odiado por alguns, esquecido pela maioria...

No filme – visualmente influenciado por “Gilda” (1946, de Charles Vidor), inclusive na escolha da fotografia em preto-e-branco e na vestimenta da cantora de tango com quem o jogador se envolve – há pelo menos uma seqüência maravilhosa: em sua narrativa alinear, vemos Heleno de Freitas passeando pela praia com um amigo, já decadente. Alguns garotos pedem-lhe um autógrafo, mas ele responde de forma ríspida, visto que, depois que sua esposa casa-se com outro homem, levando consigo o filho pequeno, o jogador passa a detestar crianças. O amigo insiste para que ele agrade aos meninos, o que leva Heleno a surtar: “darei um autógrafo àquele que conseguir me socar no queixo!”. Um dos guris, o mais alto, consegue, e Heleno lhe dá uma determinada quantia em dinheiro, com a seguinte recomendação: “gaste-o todinho com sorvete e cinema, não fique o dia inteiro jogando futebol. Há outras coisas além disso na vida – e elas são muito boas!”. Voltei a ficar excitado nesta cena, apesar de o filme ser insípido e de o protagonista Rodrigo Santoro está desenxabido, não obstante oferecer-nos uma boa personificação...

No quintal, enquanto eu via o filme, meu irmão gritava, embriagado: “quando eu estiver com o meu revólver, meto bala em qualquer viado que vier me chamar aqui em casa!”. Na varanda, nossa cachorra ‘poodle’ estava aprisionada, pois mordera o pé de minha mãe no dia anterior. O diretor do filme é filho do extraordinário escritor Rubem Fonseca, ao passo em que, do lado de fora, o portador da bunda deliciosa que me fez ingerir Coca-Cola após vários meses se embebedava, parecia feliz, cercado de amigos e uma mulher que o amava... Viver é bom!

Wesley PC>

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

“CUIDADO COM A ESQUERDA”: “DEPOIS QUE EU VIREI HIPPIE, NUNCA MAIS QUERO SABER DE GUERRA... SÓ AMOR!”

Os dois jargões intercalados no título estão contidos em “Se Meu Dólar Falasse...” (1970, de Carlos Coimbra), filme que vi por mero acaso, a fim de afastar o fastio natalino, mas que, ao término, será defendido entusiasticamente por mim como uma das melhores comédias do cinema brasileiro!

A trama, visivelmente inspirada no clássico hollywoodiano “Deu a Louca no Mundo” (1963, de Stanley Kramer) reúne diversos comediantes, numa produção faustosa da Boca do Lixo – antes de virar o pólo de produção erótico-contestatória que tanto me interessa – cujo roteiro é repleto de geniais e coerentes reviravoltas: logo no início, a costureira Madame Bisisica (Dercy Gonçalves) recebe a proposta de uma de suas clientes milionárias e repleta de neuroses (pois ela é chique, e “é chique ter neurose!”) de ajudá-la numa transação comercial, pois ela estará ocupada. Tudo o que Bisisica precisava fazer era receber uma estatueta das mãos de um negociante japonês e assegurar que, em sete dias, lhe pagaria a quantia de quinze mil dólares, afinal entregues pela cliente Verushka (Zélia Hoffman). O problema é que o dinheiro vai parar no lixão, por causa de um atabalhoamento familiar/empresarial na boutique de Bisisica, sendo o montante monetário encontrado por um grupo de mendigos liderado por um intelectual apelidado de Comendador (Borges de Barros, maravilhoso). Enquanto Bisisica, sua filha e seu genro (este último interpretado pelo galã David Cardoso, que, aqui, é também diretor de produção) vão à sede da prefeitura municipal descobrir o destino do caminhão de lixo e se deparam com um entulhamento burocrático, o Comendador e seus amigos Tisiu (Grande Otelo, soberbo como sempre) e Catifunda (Zilda Cardoso, hilária), além de outros dois, entre eles um profeta anti-luxo (Sadi Cabral), trocam as notas estadunidenses encontradas no lixão por um valor abaixo da taxa de câmbio, no boteco de um português oportunista (Manoel Vieira), mais tarde extorquido pelo detetive, “com cara de cangaceiro de filme nacional” (Milton Ribeiro), que Bisisica contratara numa roda de capoeira. A estória se complica ainda mais quando se descobre que a estatueta comparada era apenas um esconderijo para tráfico de cocaína, de maneira que, no desfecho da trama, inúmeros tiros serão disparados, até que o personagem de Grande Otelo, “em nome das setenta e uma comédias que fez”, exige que o final do filme seja também legitimamente cômico. A ação retrocede e, na derradeira imagem, a própria Dercy Gonçalves, apresentando um programa de TV, entrega à sua personagem uma estatueta similar à que causou toda a confusão como prêmio por sua desenvoltura aventureira. “Vai começar tudo de novo, ...”, congela a personagem, antes do derradeiro “pôrra!”. E eu extasiado, ouso dizer que o filme é genial! (risos)

Por mais que eu tenha detalhado o entrecho, tem muito a ser visto e gargalhado ainda, sem contar que as piadas metalingüísticas são ótimas e a homenagem de Sebastião Bernardes de Souza Prata (nome verdadeiro de Grande Otelo) ao companheiro Oscarito nos créditos finais é emocionante. Por falar em Grande Otelo, a cena em que ele experimenta LSD numa comida de boate e sai dançando ao som de “Se Não Tem Abelha, Não Tem Mel”, superposta ao som de uma canção psicodélica britânica, merece figurar entre as mais açambarcantes da filmografia tupiniquim. Absolutamente extraordinária. Quem diria? Amei este filme!

Wesley PC>

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O BELCHIOR É QUEM TEM RAZÃO!


"Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava
De olhos abertos, lhe direi:
Amigo, eu me desesperava
Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 76
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português"

E, na última partida, eu venci. Bem diz a sabedoria popular: "sorte no jogo, azar no amor". E eu amo, eu amo, eu amo... 

Wesley PC>

"ELES SÃO MUITOS, MAS NÃO PODEM VOAR"...

Quando se ama, não se teme a humilhação: eu beijo pés, eu aliso joelhos feridos, eu limpo merda de cachorro, eu espero... e espero... e espero!

Nesta antevéspera de noite de Natal (sic), ouço o disco de estréia do Ednardo: "O Romance do Pavão Mysteriozo" (1974), baseado num livrinho de cordel que, obviamente, marcou a minha infância, como deve ter acontecido com muita gente. Conforme narro aqui, é neste disco que deposito a esperança de aprender algo que, neste ano de 2013, me capacite a enfrentar a tristeza tão inevitável quando intensamente vindoura...

Na porta de casa, mais cedo, eu fazia tocaia: esperava que "eles" fossem embora, mas eles não foram. Ao invés disso, "eles" que voaram com quem eu esperava... Minutos antes, eu sorrira, jogando Uno com seus parentes. "Arranca o meu sorriso do chão/ abre os meus braços na imensidão", canta o cearense Ednardo na nona faixa de seu belo álbum, "Alazão (Clarões)". E eu com fome, mais uma vez... Não importa o quanto comamos, sempre voltamos a sentir fome novamente. Com o amor é assim: o amor é fome!

Wesley PC>

"TEM MUITA COISA PIOR QUE SER BICHA: TER LEUCEMIA, POR EXEMPLO"...

Aproveitei uma escapadela de minha família para, finalmente, assistir a "O Exército Inútil" (1983), filme do Robert Altman cujo DVD eu havia comprado há alguns meses, mas, até então, não dispunha da oportunidade ideal para a sessão, visto que, além de ter quase duas horas de duração, eu tinha certeza de que o ritmo deste filme exigiria uma concentração redobrada, dada a sua origem teatral... Dito e feito!

Na trama, seis soldados (quatro recrutas e dois veteranos) compartilham um mesmo quarto: há a suspeita que um deles seja homossexual e os demais recriminam-no por conta disso. Um negro bêbado exaspera-se com ele e instaura uma situação de crise que desencadeará alguns assassinatos e a ameaça de sexo pederástico inter-racial, infelizmente não concretizado. Preferiram fazer a guerra ao invés de fazer o amor!

Durante a projeção, três personagens sexualmente insinuantes tomam banho: apenas Matthew Modine ousa mostrar o pênis sob uma cortina de fumaça. O clima sensual ronda todos os instantes, até que, numa situação climática, um dos personagens mais velhos pronuncia o chavão que intitula esta publicação: quem sou eu para discordar? Preciso ver uma jeba

Wesley PC>

domingo, 22 de dezembro de 2013

SÍNTESE PSICÓTICA DE DOMINGO À NOITE...


Triste, triste, triste, triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste... Com fome também!

Eu já disse hoje que amava o Hal Ashby? E que mesmo um filme que não "funcionou" tanto comigo funciona bastante? E que, vendo o filme, me imaginei educando o filho de meu irmão mais novo, que nasceu com um restinho de dedo numa das mãos, além de ter os olhos num tom cromático que parece ser azul-marinho. Tristeza é algo que pode ser enfrentado com determinação e - quem sabe? - algum planejamento...

Wesley PC>

A INFELICIDADE JÁ FAZIA MORADA ANTES DO FILME DO HAL ASHBY... E CONTINUA!


É incrível como essa tal de infelicidade se assolou novamente, mas, sem querer forçar a barra, talvez uma jeba resolva o problema. Pena que não é algo tão fácil de se encontrar hoje em dia. Nem tampouco era na fase em que o Hal Ashby estava vivo e fazia seus filmes sobre virgens e/ou rapazes despreparados para a vida, como aquele que Beau Bridges interpreta em "Amor Sem Barreiras" (1970), filme de estréia do diretor, um tanto irregular, mas incisivo e contestatório. É o que fica enquanto lamento, por enquanto...

Wesley PC>

sábado, 21 de dezembro de 2013

QUERO SER ÍNDIO (PARA ALÉM DO NATAL...): O CHORO PRESO PRECISA SAIR!

Escrevo com a alma irritada neste exato instante. Não queria, mas escrevo. Coisas ruins aconteceram em minha casa há pouco e, desde o início da semana que me sinto traído, abandonado, desdenhando por meus amigos (em especial, os cinéfilos): a oitava edição da Mostra de Cinema e Direitos Humanos da América do Sul está acontecendo em Sergipe e, graças a ela, estou descobrindo documentários contemporâneos absolutamente arrebatadores. Dentre eles, uma parcela corresponde ao que vem sendo chamado de “cinematografia indígena”, pois é realizada pelos próprios habitantes das tribos silvícolas sobreviventes do Brasil, que não raro trazem à tona a questão da própria auto-representação e o quanto isso se atrela à sobrevivência cultural de suas famílias. Estou saindo das sessões (vide exemplos aqui, aqui e aqui) absolutamente deslumbrado, mas não tenho com quem compartilhar: as sessões estão quase sempre vazias, chegando ao cúmulo de, numa delas, só ter eu na sala! Isso me deixa triste, ensandecido... E, sem saber a quem culpar, sinto raiva de mim mesmo!

Na tarde de hoje em particular, atingi um paroxismo depressivo e culpado tão intenso que, a fim de me desvencilhar de contatos fúteis ou desculpas escorregadias, desativei a minha conta no Facebook, que facilitava bastante o meus contatos com outrem (ao menos, quantitativamente) mas volta e meia engendrava algum desentendimento. Enquanto isso, meu irmão bêbado gabava-se de ter comprado um revólver. Emputecido de cólera que eu já estava, segurei o seu braço com força e disse que não permitia que ele falasse em armas na minha casa. Minha mãe chorou, meu irmão olhou para mim de forma iracunda. Disse-lhe que não tinha medo de morrer, que ele poderia me espancar até a morte se quisesse, mas eu não arredaria pé de minha decisão. Mais choro, mais raiva... Após alguns minutos, consegui contornar a situação, depois de precisar me ajoelhar no chão, beijar o meu irmão nos pés e ingerir uma dose de uísque caro. Eu estava ensandecido, mas fui obrigado a me acalmar para não causar uma tragédia (familiar) maior.

Passei umas duas horas conversando com meu irmão, que chorava feito uma criança, dizendo que me amava. Eu não sabia o que lhe dizer, como responder reciprocamente à sua declaração reiterada de afeto, mas, do meu modo, acho que me fiz entender. Porém, ele estava bêbado. Entupido de ‘crack’ e, ainda assim, queria mais. Quer mais! Acaba de sair de casa, como se nada do que conversamos e discutimos por tanto tempo tivesse importância imediata. E eu não sei se estou mais triste ou com raiva, mas, se por um lado, parece que não estou bem, por outro, aprendi muito sobre mim e os meus semelhantes nesta última semana de solidão imputada e infelizmente concreta. Minha vida mudou, portanto!


Wesley PC> 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A DIRETORA INSISTE EM BRIGAR COM O FILME, QUE INSISTE EM VIVER, MAS ELA NÃO DEIXA QUE ELE SEJA BOM, APESAR DOS GRITOS, DO VIGOR, DA PUJANÇA, DA COERÊNCIA, DA AUTOCRÍTICA INVOLUNTÁRIA...

Sybila Arredondo foi presa em 1985 por suspeitas de atividades terroristas e, mais tarde, quando presa novamente, foi condenada a quinze anos de prisão, dos quais cumpriu quatorze. Viúva do escritor peruano José María Arguedas, tem como sobrinha Teresa Arredondo, que resolveu documentar o reencontro com a tia em “Sibila” (2012), filme que vi há algumas horas e que ainda me causa forte irritação... Um dos motivos: nada do que foi dito até agora - nem sequer o fato de o filme ter um I na primeira sílaba do nome da protagonista, que é com Y! - importa fora de seu contexto familiar pequeno-burguês, irca!

Profundamente coerente em sua velhice, vivendo na França, Sybila insiste em tachar a sua sobrinha de ingênua, por crer que as atividades militantes em que ela se envolvera na juventude – e das quais não se arrepende – sejam encaradas como terrorismo. Quando a sobrinha diretora insiste em interromper os seus depoimentos para afirmar a sua discordância ideológica, Sybila não se contém: “tu estás a falar como se fosse o Bush!”. A diretora corta a cena neste ponto. Ele é um pouco mais que ingênua: ela nega-se a entender a tia militante, por mais que seu discurso proponha o contrário. Sybila recusa-se a admitir que o Sendero Luminoso era uma célula terrorista, recusando inclusive esta antonomásia, segundo ela um apelido pejorativo para um Partido Comunista Peruano legítimo!

Ao declarar esta raiva contra o posicionamento regressivo da diretora, não me atenho apenas às suas palavras, mas ao gesto reacionário que é o filme como um todo, que quase ameaça calar a imponente personagem real, envelhecida porém segura em suas crenças e atitudes: construído sob o signo da saudade e sob o elogio ferrenho da noção de família, Teresa Arredondo confessa que quase não ouviu falar sobre a tia na infância porque seus pais evitavam falar dela. Ela acha isso justificado e, quando confronta a sua tia, pergunta se ela não passa em como a sua filha Carolina lidou com a dor de sua prisão. Sybila não arrefece: “o que ela experimentou foi algo que fez com que ela tivesse uma vida, que ela relacionasse a sua própria vida com os apelos da nação!”. Teresa discorda, Sybila não passa a mão em sua cabeça conservadora: elas divergirão, a não ser que o diálogo se prolongue, mas a diretora é quem manda no filme, e encerra a projeção quando ele prova que pode ser vívido e interessante. Uma vergonha, um despautério. Mas o filme sobrevive, o filme grita, Sybila é uma personagem maravilhosa, para o País pelo qual ela lutou (apesar de ser chilena), para o mundo, para mim... E isso diz muito mais que ser a tia de alguém!

Apesar de forçar a emoção a todo custo, o filme obtém legitimamente - mesmo em sua faceta aburguesada -  em momentos como aquele em que Carolina, a filha da protagonista, encontra uma carta da mãe escrita num pedaço de papel higiênico, ou quando a diretora focaliza uma escultura em miniatura que mostra atrocidades infanticidas atribuídas aos radicais socialistas. Por estes momentos e pela magnífica personagem real, o filme vale muitíssimo (muitíssimo mesmo!) a pena!

Wesley PC>

QUANDO O PÃO FICA “TÃO DURO QUANTO CACETE DE TARADO”...

Finalmente assisti ao seminal (sem piada dupla) “Escola Penal de Meninas Violentadas” (1977, de Antônio Meliande), produção que disparou a violenta onda ‘sexploitation’ na Boca do Lixo, em que filmes e mais filmes sobre gurias nuas aprisionadas eram lançadas aos borbotões! Apesar de não ser efetivamente bom, o sadismo do roteiro merece ser destacado: na trama, uma lésbica obsessiva disfarçada de freira implanta uma filial da república de Salò num reformatório rural. Com a ajuda de um carrasco surdo-mudo e sexualmente ativo, ela subjuga diuturnamente as internas, com a alegação de que leva a crueldade a cabo para enfrentar o Diabo ao mesmo tempo em que parece estar aderindo às suas práticas. “É uma forma de enganar o demônio”, explica a louca. Não convence, mas isto rende seqüências de muito impacto, tanto conteudístico quanto formal (a direção de fotografia do próprio Antônio Meliande é muito boa, por exemplo) e erótico.

Num dado momento, quando se sente avassaladoramente tomada por desejo sexual por uma interna recém-chegada (Sueli Aoki), a freira pede para ser chicoteada por seu assecla aparvalhado, o que excita por extensão uma de suas noviças. De repente, o chão sob a cama parece pegar fogo! Mais tarde, ela despeja sal sobre uma garota cujas costas estavam repletas de feridas. A menina desmaia, obviamente. Em seguida, é a vez de obrigar uma revoltosa a comer lavagem de porco, rastejando na pocilga e, em seguida, beijar as suas mãos e agradecer a Deus pela comida concedida... Situações de muito impacto, não há como negar!

Os ‘flashbacks’ que explicam como as garotas foram parar no reformatório também são impressionantes: uma é quase estuprada pelo padrasto idoso e fortemente embriagado (ironicamente, ao som de uma canção cujo refrão é: “bebida não faz mal a ninguém/ eu bebo, sim, estou vivendo/ tem gente que não bebe e está morrendo”...); outra tenta se defender de uma curra e proteger a virgindade; uma terceira esfaqueia o cafetão; e por aí vai...

Apesar de não ser bom, insisto, tecnicamente o filme é impactante e, enquanto objeto de pesquisa, tenho muito o que abordar a partir desta obra tão importante (e, ao mesmo tempo, tão ignorada) para o contexto produtivo cinematográfico brasileiro: é mal-feito pacas, segundo critérios tradicionais de avaliação, mas é uma verdadeira demonstração de arrojo em seu enfrentamento criativo da penúria financiadora. Um filme seminal, portanto. Agora com duplo sentido, visto que é tanta guria com os peitos de fora que, na moral: quem gostava de bater punheta no cinema deve ter se esbaldado!


Wesley PC> 

MUITO MAIS (OU MENOS) QUE “UM RASKÓLNIKOV DO AUTO-EROTISMO” (TEXTO ESCRITO ÀS 23h08’ de 19/12/2013):

Em pouco mais de dois dias, consumi avidamente as duzentas e cinqüenta e oito páginas que compõem “O Complexo de Portnoy”, romance de Philip Roth que, quanto lançado em 1967, causou celeuma por ser “uma epopéia da masturbação”. A minha obsessão mui pessoal por este tema me obrigava a devorar o livro, devidamente recomendado por este resenhista, que, afinal, foi quem fez o imenso favor de me emprestar o livro. Apesar do talento inquestionável de seu elogiado autor, entretanto, o livro não funcionou muito comigo: ele envelheceu pessimamente, por causa da diluição da neurose hebraica tão bem levada a cabo por Woody Allen a posteriori, em seus filmes e livros de contos que abordam praticamente os mesmo temas...

No romance, acompanhamos uma longa sessão de análise de Alexander Portnoy, o complexado protagonista, que se confessa para o seu psicólogo, enfatizando o quanto o comportamento dominador de sua mãe (e também a passividade de seu pai, constantemente vitimado por prisões de ventre) o transformou num homem atormentado por ser incapaz de constituir família, tendo passado, conforme ele mesmo admite, “metade da sua adolescência num banheiro”. Por mais enumerativo que o narrador seja em relação aos seus atos masturbacionais, o livro enfada: é judeu demais, guetificador em excesso! Ao final do romance, inclusive, há um glossário de termos iídiche que são utilizados nos diálogos. Pensava que o livro faria jus às suas antonomásias, mas é um compendio de frustrações familiares edipianas. Não me atrevo a dizer que ele seja ruim, mas me frustrou deveras!

Seja como for, a leitura me trouxe à tona minhas reminiscências particulares com a masturbação: quando a descobri, aos doze anos de idade, aderi compulsivamente à sua prática, tendo sido flagrado em ato por dois vizinhos numa oportunidade quase esquecida... Já houve dias em que eu me masturbei mais de quatro vezes, que nem o protagonista do livro, mas asa minhas crises de culpabilidade eram diferentes: o meu catolicismo ferrenho de outrora me obrigava a uma constante negociata com a idéia do Deus punitivo desta religião, de modo que, até os vinte anos de idade, tenho relatos quantificados de quantas vezes ejaculei solitariamente. Hoje, sou muitíssimo mais tranqüilo em relação a esta prática – até porque tenho o saudável hábito de ingerir o próprio esperma, o que me proporciona um bem-estar duplicado – mas, na noite em que eu avançava o nono décimo de leitura do romance, deparei-me com uma situação pitoresca: estava numa cozinha, observando um rapaz que amo interagir com a sua namorada, que agora se instalou em sua casa como se fosse sua esposa. Ele a abraçava, a beijava, demonstrava que, se não a ama, ao menos compensa muitíssimo bem os seus favores sexuais. Quando ele foi banhar-se, prostrei-me à janela, na esperança de vê-lo nu. Consegui, o que, com certeza, redundará num ato onanista anterior ao sono. Porém, flagrei-me atordoado por sentimentos que se assemelhavam a um arremedo de ciúme. Não gostei disso! Tomara que a ejaculação em sua homenagem me expurgue desta sensação ruim. “Ven der putz shteht, ligt der sechel in drerd”, acrescentaria Alexander Portnoy, numa definição contida da página 124 da edição do livro que me emprestaram. Sabe o que quer dizer esta sentença? “Quando a pica se levanta, o cérebro se enterra no chão!”. Eu discordo deste determinismo pusilânime. O protagonista, além de desagradável e neurótico, trata de forma malévola as mulheres com quem se relaciona ao amadurecer, quando exerce uma função acessória na secretaria de Direitos Humanos da prefeitura da cidade em que vive, culpando à sua mãe por seus comportamentos. Ele é um hipócrita, um vilão ressentido. Não quero ficar assim: o Deus em que acredito (mas não o personagem) que me livre disso!


Wesley PC> 

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

AGORA EU TENHO CERTEZA: OS EGÍPCIOS POBRES E MANCOS MASTURBAVAM-SE DESDE ANTES DO FINAL DA DÉCADA DE 1950!

O título desta publicação é um absurdo truísmo, mas sirvo-me deste aspecto de manchete sensacionalista para atestar o quanto fiquei positivamente impressionado com “Estação Central do Cairo” (1958, de Youssef Chahine), mais um ótimo filme que eu descobri graças ao essencial guia “1001 Filmes para Ver Antes de Morrer” (no caso, na edição de 2008, de que disponho)...

Na trama, o próprio diretor interpreta um rapaz manco que, sendo adotado por um vendedor de jornais, trona-se também jornaleiro. Masturbador contumaz, ele coleciona recortes de mulheres nuas no mocambo onde vive, mas é obcecado por uma linda vendedora de refrigerantes contrabandeados chamada Hanouma (Hind Rostom), que, por sua vez, pretende se casar com o seu patrão Abu-Serih (Farid Shawqi). Este se interpõe com a decisão de alguns de seus empregados em se sindicalizarem, enquanto que, na estação ferroviária onde essas histórias acontecem, vários outros dramas cotidianos se intersecciona, como o sofrimento da garota apaixonada por um rapaz que vai estudar noutra cidade e que é rejeitada pela família dele, que não permite sequer que ela se despeça no dia de sua partida. Ela chora. Ele vai embora, acenando para sua irmã e seus sobrinhos... Enquanto isso, o jornaleiro esfaqueia uma amiga de Hanouma, enciumado com os delírios casamenteiros da moça, que servirão de tática empregada por seu pai adotivo para que ele vista as mangas de uma camisa-de-força como se fosse um manto nupcial...

Uma trama novelesca, eu sei, mas surpreendentemente conduzida para a época (e para o contexto muçulmano, claro!), com uma eficiente trilha musical de Mouad El-Zahry que, se não merece ser demoradamente elogiada aqui, é porque parece um plágio descarado da partitura de Miklós Rózsa para o clássico “Farrapo Humano” (1945, de Billy Wilder). Deveras providencial ter descoberto este gracioso filme egípcio quando o platonismo se instala violentamente sobre mim, como de praxe!


Wesley PC> 

“E, NESTA SOLIDÃO, SEM TER ALEGRIA, O QUE ME ALIVIA SÃO MEUS TRISTES ‘AIS’”...


“Amâncio soltou um ai.

[...]

Entretanto, Amâncio despertou com um novo gemido e levou ao peito as mãos que se ensoparam no sangue da ferida. Olhou em torno, à procura de alguém; mas o quarto estava abandonado. 

Então, fechou novamente os olhos estremecendo, esticou o corpo e uma palavra doce esvoaçou-lhe nos lábios entreabertos, como um fraco e lamentoso apelo de criança: - Mamãe!...

E morreu”.

(página 274 da edição que possuo em mãos neste exato instante).


A cena acima ocorre no vigésimo primeiro capítulo, o penúltimo, de “Casa de Pensão” (1884), romance de Aluísio Azevedo que terminarei de ler ainda hoje. No início da saga do protagonista Amâncio, foi impossível não compará-lo diretamente com “Ilusões Perdidas” (1843), de Honoré de Balzac, obra-prima literária [comentada aqui] que, por motivos muito fortes, abalou-me pessoalmente, visto que remete a uma amizade destruída pela má administração dos prazeres e volições terrenas.  Não obstante o seu propalado pendor naturalista tropical, a obra de Aluísio Azevedo despertou em mim semelhantes impressões: por mais diferente que sejam os alvos e/ou as vítimas, as armas de destruição são mui parecidas... Minha vida é uma sina, afinal!

Na trama de “Casa de Pensão”, o jovem Amâncio chega do Maranhão ao Rio de Janeiro para estudar Medicina. Não porque goste, não porque queira, mas para agradar aos seus pais, uma mãe complacente e terna e um pai rígido e aparentemente avessos a sentimentalismos. Logo associado a alguns amigos pândegos, Amâncio vai morar na localidade mencionada no título e, tendo muito dinheiro, atrai a atenção de seu suposto amigo João Coqueiro, proprietário da hospedaria ao lado de sua esposa bem mais velha, a francesa Madame Brizard. A fim de assegurar sua rentabilidade oportunista, João Coqueiro, ciente dos desejos carnais iridescentes de seu hóspede, convence a sua irmã solteira Amélia, dois anos mais velha que o outro, a seduzir Amâncio. Ela o faz: entrega-se concupiscentemente a ele, após um planejo cozimento desejoso. Ele, encantado com os jorros de gozo de que se beneficia, gasta aos borbotões. O problema é que quem passa a ter dinheiro sempre quer mais. E Amâncio apaixona-se por outra mulher, a esposa de um conterrâneo seu, protegido de seu tio, que foi quem primeiro o hospedou quando ele chegou ao Rio de Janeiro. Mas, como se percebe na citação que destaquei, o protagonista morre antes do desfecho do romance... É uma sina também?

Para além de uma ou outra vaticinação pretendida, na tarde de ontem confessei a alguns amigos que sou incapaz de me desapaixonar, acumulando todas as minhas paixões frustradas e/ou inalcançáveis em meu coração sequioso. Um dos meus interlocutores, entretanto, aquele que mais me conhece desde a adolescência, contestou se eu “superava” aqueles objetos passionais nos quais consigo empreender sucedâneos erotógenos. Não soube bem o que dizer, mas, diante dos exemplos trazidos à tona, parecia que sim: sou um platônico contumaz. Quando alcanço algo de quem eu me apaixono, posso me sentir apto a apaixonar-me por outrem, deixá-lo livre de minhas persecuções infindas. Conforme insiste um outro amigo, fruto justamente de minha paixonite, eu tenho uma intensa “vaidade de santo”...

Poderia discorrer mais sobre o excelente romance, traçando paralelismos entre o que ali acontece, a minha vida pessoal e os anseios de pessoas que me cerca(ra)m, mas acho que isto seria incorrer numa obviedade humilhante. Ao invés disso, suplico para que esta obra capital da literatura brasileira seja mais conhecida, lida, discutida, analisada, sentida, experimentada, evitada na prática (no que tange aos enganos ricamente descritos pela instancia narrativa). Epígrafe do livre, na primeira página de seu entrecho: “desconfia de todo aquele que se arreceia da verdade”. Como discordar?

Neste ponto, o leitor destas linhas talvez me pergunte: e o que tem a ver esta imagem masturbacional com tudo o que relato aqui, num tom deveras confessional, inclusive? Não cabendo a mim, por enquanto, responder, lanço-me à sorte do destino: que o tempo resolva a charada! Por ora, não me declaro arrependido por amar irrefreadamente nem tampouco lamento dolosamente os abandonos que se instalam sobre mim: não foi apenas culpa minha! Mas viver é bom... Por isso, Amâncio – tal qual o Lucien de Rubempré de outrora – é quem mais perde em toda a História (com H maiúsculo, para deixar a “indireta sentimental” mais evidente)!


Wesley PC> 

MAIS UM DIA COM JEAN GARRETT...


E ela espanca o cavalo. Depois chicoteia o negro. E deseja tanto o eqüino quanto o empregado. Linda a Helena Ramos com os cabelos loiros. Viúva, paranóica, obcecada. A história de vida (em potência psicanalítica, ao menos) de muitos daquela sala... Aldo Bueno é lindo. Luta capoeira numa cena, em que briga com um colega, que fica desfalecido no chão. Ele pede desculpas ao patrão, que retruca que seres humanos não são anjos. Fotografia de Carlos Reichenbach. "O diretor: Jean Garrett"; frase final a aparecer na tela: "o fim". Antes do ano 2013 acabar, tenciono rever "Mulher, Mulher" (1979). Aí eu volto aqui e digo que o Inimá Simões foi precipitado em sua crítica do filme, contida entre as páginas 42 e 44 desta excelente revista, cuja edição em pauta foi lançada em 1981, ano em que nasci. Ano que vem, aliás, completo 33 anos de idade. Serei virgem ainda? Tal qual uma viúva lúbrica...

Wesley PC>

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

PESSOA TRISTE É AQUELA QUE NÃO CHORA...

E, tendo visto mais uma obra-prima do Ozualdo Candeias, o média-metragem “Zézero” (1974), insisto em gritar que o torna um dos melhores diretores de todos os tempos e cinematografias mundiais não é apenas a qualidade de seus filmes, mas o fato de ter criado uma linguagem própria: cada uma de suas obras, além de contar com a sua participação/intervenção em diversas funções, é uma aula de armengue estilístico com intensa verve militante. É o que acontece aqui...

Logo no começo, um típico camponês recebe a visita de uma espécie de avantesma feminino, coberta de pedaços de película fílmica, mostrando-lhe diversas notícias sensacionalistas de jornal, tônica que é sarcasticamente acompanhada pela trilha sonora. O alvo da aparição é analfabeto, entretanto. Migra para a cidade, onde consegue um emprego como pedreiro. Manda parte do pouco dinheiro que consegue para a família enquanto trepa com prostitutas com o que sobra. Até que ele tenta violenta uma delas, que foge. Enquanto se masturba, ele constata que ganhou na loteria esportiva: ficara milionário! Porém, a sua família morrera num trágico acidente. “O que fazer agora com todo o dinheiro que ganhou?”, pergunta a sua consciência. “Enfia no cu”, repete a voz do avantesma, ais de uma vez, até que a sua boca fica congelada como se fosse um ânus. Genial!

Só por mostrar o pedreiro se banhando, num contexto trágico e mui realista, eu já desenvolvera uma relação pessoal de identificação e desejo com este filme soberbo. Mas o diretor caminhoneiro foi mais longe... Como não se encantar por ele? E querer chorar... Por estar vivo, por sobreviver!


Wesley PC> 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

SINTO-ME COMO UM LEGÍTIMO DELEUZEANO!

Conforme expliquei aqui, assisti a "O Perigoso Adeus" (1973, de Robert Altman) quase por acaso, mas, apesar de estar um tanto sonolento, não consegui dormir após a sessão, de tão impressionado que fiquei com o filme, com o modo genial como o diretor deixa de se preocupar com os percursos da imagem-movimento e fixa-se a um modelo de enquadramento múltiplo (tanto em nível imagético quanto sonoro) que antecipa o conceito de imagem-tempo, segundo diagnosticado pelo filósofo Gilles Deleuze. O fotograma anexado a esta publicação não deixa dúvidas acerca desta perspectiva diferenciada: tudo o que vejo agora é cotejado ao esquema teórico que relaciona o quadro cinematográfico (ou instante) ao "corte imóvel do movimento" e o plano a um "corte móvel na duração". É o caso, do mesmo modo que diversos casos subjacentes podem ser elencados nesta obra-prima. Pois eu precisarei pedir desculpas caso me ausente por alguns dias: estarei estudando, estarei amando, estarei em êxtase!

Wesley PC>

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

LEMBRAM QUANDO O PERSONAGEM DE ZÓZIMO BULBUL DIZ QUE O RACISMO NO BRASIL É TÃO DISSIMULADO QUANTO "UMA ARANHA CARANGUEJEIRA SOLTA NO SÓTÃO DE UM ORFANATO"? POIS ENTÃO, EU QUERO É MAIS!


Apesar de eu não saber cotar cabelo, sentir-me-ei honrado se dispor de novas oportunidades para dialogar com um mestrando em Sociologia - com interesse evidente e reiterado nas questões raciais que engendram opressão sociais classistas - sobre aquilo que sentimos durante a sessão do maravilhoso "Compasso de Espera" (1973, de Antunes Filho)... Em outras palavras: não tenho medo de ser idiota, muito menos de comportar-me apaixonadamente, além de interessar-me cada vez mais pela pesquisa do chamado "cinema negro brasileiro". Ele merece!

Wesley PC>

PARA QUE NÃO DIGAM QUE EU NÃO FALO SOBRE O QUE TODO MUNDO FALA...

Apesar de minhas críticas recorrentes, minha mãe insiste em ver o péssimo programa da TV Record "Balanço Geral", apresentado por uma criatura execrável cognominada Geraldo Luiz. Isto faz que, vez ou outra, eu saiba de alguma forçação de barra que esteja acontecendo no Brasil, como o que descobri hoje: o ex-galã das telenovelas da extinta Rede Manchete, Victor Wagner, hoje sobrevive vendendo coxinhas em São Paulo!

Apesar do tom supostamente escandaloso desta manchete (sem trocadilhos - risos), o próprio ator não considerava anormal o que fazia: havia comprado um bar em conjunção com um amigo e se divertia eventualmente autografado as fotografias nuas que lhe apresentavam suas clientes. Mas o ignóbil apresentador insistiu em fazer escândalo com a situação e entrevistou o personagem real, hoje com 54 anos de idade, de forma artificial: parecia que era tudo uma armação para o ator se promover, o que é lícito, visto que ele ainda está muito bonito e, confesso, gostei muitíssimo dele em "Bocage, o Triunfo do Amor" (1997, de Djalma Limongi Batista). Adiciono mais alguns degraus em minha confissão elogiosa: mesmo não tendo visto as elogiadas telenovelas "Tocaia Grande" (1995) e "Xica da Silva" (1996), já que a TV Manchete não era mais exibida em Sergipe quando as mesmas foram lançadas, masturbei-me bastante graças à exposição do corpo do ator em revistas sensacionalistas com que me deparava na adolescência. Revendo-o hoje, foi difícil controlar o impulso ejaculatoriamente nostálgico, visto que, insisto, considero-o talentoso, de modo que não descreio do depoimento de Tânia Alves adicionado a este ensaio fotográfico. Gostaria de conhecê-lo qualquer dia, ao lado do David Cardoso (risos)...

Enquanto isso, uma vizinha passa gritando diante de minha casa, dizendo que está indo comprar os convites para o aniversário do filhinho com fimose e, mais abaixo, um vizinho recém-saído da penitenciário repete à exaustão a mesma música brega, cujo refrão ameaça que vai desmascarar a sua amante adúltera: "a casa caiu, a festa acabou/ Pra mim e pra ele jurou o seu amor/ A casa caiu, perdeu o seu harém/ Queria os dois, ficou sem ninguém". Nada como observar a vida real!

Wesley PC>

MEU DINAMARQUÊS ESTÁ ENFERRUJADO, MAS, MESMO QUANDO O CARL THEODOR DREYER DERRAPA UM TANTINHO, ELE DEIXA EVIDENTE O QUANTO É GENIAL: UAU!

Este longo título que serve de epígrafe é uma espécie de pedido de desculpas para mim mesmo por não ter compreendido bem “Os Estigmatizados/ Amai-Vos Uns aos Outros” (1922). Justificativas para tal não me faltaram: além de a trama do filme ser confusa por si mesma – em sua mistura de subtramas que versam sobre anti-semitismo e outras que abordam os problemas desencadeados pelos atos estouvados de socialistas russos – tive acesso a este filme menor do cineasta numa cópia com péssima qualidade imagética e legendas em espanhol com atraso de mais de um minuto em relação aos intertítulos originais, sem contar que a versão que eu via divergia da remontagem sueca à qual as legendas estavam vinculadas. Mas, ainda assim, são diversos os bons momentos do filme. Um exemplo: o momento egrégio em que o fantasma de uma mãe judia recém-falecida conversa com o seu filho convertido ao cristianismo ortodoxo. Uma cena antológica!

Conforme dito anteriormente, não entendi direito as situações vinculadas às contingências do destino da protagonista Hanne-Liebe (Polina Piekowskaja), que estuda em um colégio russo na infância e peregrina por São Petersburgo antes de voltar ao seu vilarejo natal e ser acossada por revolucionários preconceituosos – num artifício maniqueísta e prejudicial do roteiro do filme – mas não é um filme a ser ignorado: deixo aqui firmado o meu compromisso de rever este filme com amigos o quanto antes!


Wesley PC> 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

E SE EU DISSER QUE, QUANDO FUI AO BANHEIRO, SENTI NOJO DE UM HOMEM CARECA QUE ESCARRAVA NA PIA?


Erca! Por sorte, as boas lembranças de "A Culpa é de Voltaire" (2000, de Abdellatif Kechiche), filme que vi - sem legendas! - antes de dormir, ainda me perseguiam positivamente: além de Sami Bouajila e Élodie Bouchez formarem um belo casal, a trilha sonora tunisiana do filme é maravilhosa. Por mais que, no geral, o que tenha sobrevivido com mais intensidade foi o clima de coito interrompido que rondava o protagonista Jallel, que, afinal, faz sexo com a doidinha que conhece num sanatório... Mas é preso e deportado! Pena...

Wesley PC>

"O GOSTO AMARGO É O DA MULHER, QUE SOFRE MAIS"...

Impulsionado pela decisão de um amigo, que dedicará os dias vindouros ao contato com as obras de Carl Theodor Dreyer, aproveitei o embalo para, também, conferir os filmes deste genial cineasta dinamarquês que ainda não me deslumbraram. Na manhã de hoje, portanto, estive em contato com "O Presidente" (1919), sue longa-metragem de estréia. E, caramba, que bênção em forma de produção cinematográfica!

O termo bênção, no parágrafo anterior, não está em negrito à toa: de fato, o filme é uma grande bênção, uma bonificação religiosa, um discurso sobre o perdão e o entendimento entre os seres humanos. Na trama, diversas narrativas paralelas chegam a uma mesma conclusão: mulheres são enganadas pelos homens, quando estes alegam que estão apaixonados por elas. No início, ainda no final do século XIX, um pai moribundo faz o seu filho jurar que jamais desposará uma mulher inferior a ele em classe social. Mais à frente, situações de abandono se repetirão, havendo um ciclo reprodutivo de mães solteiras, até que uma delas, expulsa da casa da mãe do homem que a engravidou e largou após infindas promessas de casamento, desmaia quando o seu filho nasce. Ele perece, por causa do frio, e ela é acusada de infanticídio. É condenada à morte, mas o seu pai, arrependido, se apresenta como tal, desobedece às suas obrigações judiciais e a ajuda a fugir da prisão, promovendo o encontro entre ela e um imigrante javanês, com quem se casa. O pai se suicida, obviamente. Mas, ao contrário de ser um final infeliz ou trágico, esta é uma declaração de que as pessoas têm direito a "segundas chances" na vida...

Acabo de sair de uma reunião de discentes de Mestrado: estou escandalizado com tudo o que ouvi sobre as relações de poder e de legitimação institucional do programa de pós-graduação ao qual estou vinculado, mas tenho certeza de que esta não é uma exclusividade minha e dos meus colegas: somos apenas joguetes num estratagema problemático de titulações combativas mais amplo. Preferirei focar no que o titio Dreyer me ensinou... Ufa!

Wesley PC>


domingo, 8 de dezembro de 2013

A NUDEZ MÓRBIDA DE PIERRE PERRIER... OU A BELEZA ONÍRICA E AS INTERRUPÇÕES DO CIÚME!

Na madrugada de hoje, sonhei que estava hospedado em Recife. Fui assistir a uma palestra de uma amiga que vive na Paraíba, se não me engano, e compartilhava o quarto com um ator muito bonito e meu melhor amigo: o primeiro tomava banho vestido e se ensaboava por cima das roupas (pude constatar isso bisbilhotando-o por debaixo da fresta da porta do banheiro); o segundo tomava o meu tempo tentando convencer-me a roubar um aparelho de som no quarto ao lado, ocupado por traficantes de drogas. Havia muito vermelho no ambiente e a minha visão era panorâmica, como se eu estivesse olhando tudo da janela de um avião...

Acordei. Fui a um supermercado, pagar uma conta, e me deparei com dois homens armados com metralhadoras ao meu lado, protegendo o estoque de um caixa bancário automático. Voltei suado. Foi bom caminhar...

Planejo ver o último episódio da extraordinária telessérie francesa "Les Revenants" (2012) em alguns minutos. Por enquanto, só existe uma temporada realizada, com oito episódios. No sexto, o atormentado Simon (Pierre Perrier) é assassinado pelo novo marido de sua amada (vivida por Clotilde Hesme). Aparentemente, ele havia se suicidado no dia de seu casamento, dez anos antes de seu retorno como zumbi bonito. Quando conta à sua esposa que atirara em seu rival, o policial (Samir Guesmi) ouve dela o seguinte questionamento em voz embargada: "ele morreu?". Com voz firme e decidida, ele retruca: "ele já estava morto!". Vemo-lo nu no necrotério. Ele é posto numa gaveta e, mais à frente, faz sexo com uma mulher estranha, que se apresenta como sua "fada-madrinha". Há um nu frontal. Mas a cena é triste, a situação é plena de melancolia...

Este seriado é um grande achado. De fato, tem muito a ver com o universo de "Twin Peaks"(1990-1991), idealizada por David Lynch. Porém, o tom desta produção mais recente é ainda mais taciturno e bem menos investigativo. Cada vez gosto mais da garotinha Camille (Yara Pilartz), que, morta aos 15 anos, num acidente de ônibus, ainda era virgem e alimentava uma paixão platônica intensa por um jovem que fazia sexo com sua irmã. Outro garotinho encantador é o pequeno Victor (Swann Nambotin), assassinado há trinta e cinco anos durante um assalto à sua casa. Sem mencionar Julie (Céline Sallette), enfermeira amargurada, que sobrevivera a um ataque de um assassino serial com tendências canibalescas (Guillaume Gouix). Muito bom este universo de personagens: sentirei falta deles, como se, de fato, eles tivessem morrido, retornado à vida e, logo em seguida, morrido novamente...

Wesley PC>

NÃO ERA TÉDIO! ERA CONCESSÃO DE LIBERDADE: É QUE, ÀS VEZES, AS DUAS SITUAÇÕES RIMAM!

À minha frente, amigos se divertiam altissonantemente, com instrumentos musicais. Ao meu lado, jogavam 'video game', num torneio virtual de futebol entre as seleções de Brasil e Argentina. Perto de mim, um frescor de ar condicionado indicava que a dona da casa conferia o estado de saúde de sua mãe, confinada ao leito, em estado vegetativo. E, de repente, sinto um beijo carinhoso em minha testa. Eu estava com fones de ouvido: via "Operação Concreto" (1954), o primeiro curta-metragem de Jean-Luc Godard. A qualidade do som estava péssima, não entendia nada (a cópia estava sem legendas, para piorar), mas deu para perceber que o filme abordava (politicamente, claro) a construção de uma barragem, cuja altura equiparava-se à Torre Eiffel. Mas, ao invés de aço e apelo turístico, encontrávamos concreto, muito concreto. E trabalhadores realizando as mesmas atividades enfadantes, horas após horas...

Não gostei muito do filme. Ele enfada, principalmente se comparado com o estilo genial e surpreendente dos posteriores filmes godardianos. Sentia amor pelos meus companheiros: gostava de estar onde estava, mas queria fazer outras coisas, o que pude pôr em prática tão logo a sessão do filme acabou. Dezesseis minutos e alguns segundos. E eu não gostei muito. A liberdade, enquanto concessão, tende a rimar com o tédio. Depois falo sobre isso, aliás. Muitas vezes. Muitas vezes...

Wesley PC>

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

"MAIS CEDO OU MAIS TARDE, A INOCÊNCIA DA INFÂNCIA DESAPARECE"...

A premissa que deu origem ao extraordinário documentário "Cinco Câmeras Quebradas" (2011, de Emad Burnat & Guy Davidi) é literalmente acidental: o jornalista Emad compra uma câmera para registrar o nascimento de seu filho Gibreel, em 2005, e, coincidentemente, este é o ano em que tropas israelenses determinam que os campos de azeitona pertencentes à vila onde o protagonista e sua família moram devem ser desapropriados para a construção de apartamentos para os habitantes judeus. Inicia-se, assim, uma campanha maciça de resistência que durará cinco anos até a sua primeira vitória para os palestinos, quando uma barreira é derrubada, não obstante um muro de concreto ser erguido mais adiante. Ao longo destes cinco anos, cinco câmeras de Emad serão destruídas (quatro por conta dos ataques do Exército israelense; uma por conta de um acidente automobilístico), mas o material captado por elas é imortalmente registrado...

O melhor amigo de Emad, um jovem espirituoso que gosta de se divertir entre as crianças, apelidado de El-Phil ("o elefante"), é morto e, desse momento em diante, a narração realizada pelo próprio cinegrafista Emad - que, até então, era entusiasmada e/ou esperançosa - torna-se lúgubre. Num plano, Gibreel, aos cinco anos de idade, já considerado "crescido" e "pronto para entender as injustiças da vida" é mostrado assistindo ao sacrifício de um bode. Noutro instante, a narração acrescenta: "quando alguém morre, o ódio e a raiva fazem com que sentimentos interiores venham à tona e as pessoas se disponham a morrer por algo". A idéia originalíssima que perigava se tornar repetitiva é revigorada magistralmente: o filme é muito mais que um documentário pessoal, é um instrumento de resistência! Durante os créditos, uma organização nomeada Anarchists Against the Wall fora mencionada...

Em mais de um momento, durante a sessão, pensei no também ótimo e impactante documentário "Budrus" (2009, de Julia Bacha - comentado aqui), mas o filme de Emad Burnat e Guy Davidi impressionou-me ainda mais por causa por conta do grau de exposição pessoal ao qual Emad se entrega, incluindo sua família no processo, desde o pai e a mãe que choram quando seu irmão é preso até o clamor reiterado e cauteloso de sua esposa Soraya (criada no Brasil, o que explica o excesso de bandeiras brasileiras em sua residência) para que ele pare de filmar. Felizmente - para nós, espectadores - ele não pára de filmar, e, após mostrar os filhos de Amad felizes, brincando numa praia, um letreiro anuncia que a sexta câmera do co-diretor ainda está funcionando, captando a vida que segue, as batalhas que ainda são perdidas, a arte de sobreviver e se lutar por aquilo em que se acredita... Por pouco, este filme não é uma obra-prima, mas me afetou bastante: maravilhoso!

Wesley PC>

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

PERPLEXIDADE (PARA DISFARÇAR MAUS SENTIMENTOS)...

A quarta temporada do ótimo seriado norte-americano de TV "The Walking Dead" terá dezesseis episódios. E, como é comum acontecer, a série evolui até a metade da temporada e, depois, dá uma pausa de alguns meses. Esta pausa ocorreu após o oitavo episódio [43º no geral], "Too Far Gone". E, no melhor sentido do termo, os roteiristas deste episódio foram longe demais: as reviravoltas e tragédias ocorridas neste capítulo foram excelentes, atordoantes!

Na quarta temporada, além da gripe mutante que estava matando os "mocinhos" do seriado, confinados numa penitenciária, ressurge o temível Governador (David Morissey), vilão humano da temporada anterior. Dois episódios inteiros mostravam como ele estava tentando recompor a sua vida, começar do zero. Eu cri em sua reabilitação moral: ele conhece uma garotinha, assume a sua adoção paterna, parece ter se apaixonado novamente... Porém, a sanha competitiva com outros grupos de sobreviventes reaparece. Ele se depara com a prisão onde o protagonista Rick (Andrew Lincoln) e os demais personagens estão escondidos. E, por achar que o lugar é mais seguro que o acampamento onde ele estava, resolve invadir a prisão. Captura o simpático velhinho Hershel (Scott Wilson) e a imponente Michonne (Danai Gurira) como reféns. Tenta invadir a penitenciária "da forma mais pacífica possível", intimidando as pessoas com um tanque de guerra. Será desencadeado um massacre.

Na consecução de uma ameaça violentíssima, o Governador decapita Hershell. Noutro local, a garotinha por quem o vilão (agora rebatizado como Brian) se apega é mordida por um zumbi que estava enterrado na lama em que ela brincava. A garotinha recebe um tiro na testa quando é levada até o Governador, que ordena que seus novos comandados matem todos os refugiados na prisão. Ele espanca Rick, deixando-o facialmente deformado e quase desacordado, mas Michonne atravessa o seu abdome com a espada dela. Ele é deixado para morrer, sendo devorado pelos mortos-vivos, mas a mãe da garotinha atira em sua cabeça. Os demais personagens se separam, na confusão bélica. Muitas separações mesmo! Quiçá o melhor episódio do seriado, até então. Muito forte, muito dramático, extraordinário!

Assisti a "Too Far Gone" ao lado de um vizinho ferido: ele caíra da motocicleta no final de semana e recebeu quatro dias de atestado médico no trabalho. A ferida está feia. Por dentro, eu também me sentia ferido, psicologicamente... A grandiosidade dramática, reflexiva e violentamente climática do episódio me fez pensar noutras coisas!

Wesley PC>