sábado, 20 de junho de 2009

“NÓS NÃO USA BLEIQUETAI”!


Este é o título da música-tema que Adoniran Barbosa e Gianfrancesco Guarnieri compuseram para um dos filmes brasileiros seminais da década de 1980. Acabo de vê-lo e as lágrimas ainda não secaram. Sou agora um homem que chora, talvez! Sou agora um homem que sente na própria pele os efeitos da Arte. Sou um homem que vive!

No filme, vários dos conflitos que me acompanham na chamada “vida real” são retratados: as brigas de família, a deterioração social provocada pelo alcoolismo e congêneres, o sonho atropelado de uma vida marital feliz, os vínculos empregatícios como sendo destruidores da Alma, as amizades que ganhamos e perdemos no percurso mundano, a urgência sobrevivencial, tudo está lá! No centro da trama, um pai metalúrgico com passado na cadeia por causa de atividades sindicais e seu filho temeroso, que exige “o direito de não participar de greve”, que reivindica a honra de escolher o nome de seu filho homem, que sai de casa ao discordar dos ideais de seu pai... Ao redor da trama, várias sub-tramas de gente pulsante, de vidas esmagadas pela grande betoneira emburrecedora do Sistema. Um filme maravilhoso, um filme capital, que devia ter visto faz tempo, visto que ele nasceu no mesmo ano que eu. Mas precisei esperar 28 anos, 5 meses e alguns dias para saber que não estou sozinho. Não estou sozinho! Cena que mais me marcou, no âmbito pessoal: quando pai e filho discutem na mesa do jantar e, quando um deles sai de casa, enfezado, tudo o que a mãe fala é: “alguém tem que dar um reforço nesta porta. Desse jeito, ela não vai agüentar!”. Quem agüenta? O brasileiro é antes de tudo um forte, se me permite a corruptela nacionalista do Euclides da Cunha.

Voltando ao contexto extra-fílmico, onde faltara energia elétrica na última cena do filme: por causa de um desencontro ao meio-dia de ontem, precisei que me substituíssem no trabalho. Pedi que alguém me ajudasse a ficar calado, visto que não me sentia em condições emocionais para atender aos problemas alheios. As pessoas que estavam no setor em que labuto, porém, não respeitaram o meu pedido. De 2 em 2 minutos, faziam-me perguntas, repassavam-me os dilemas dos alunos e ex-alunos da Universidade Federal de Sergipe. E eu fazia o máximo para sorrir enquanto falava com eles. E o tempo passava. De repente, eram 20h. Não estava com vontade de ir para casa cedo (para quê? Para ouvir mais gritos em família? Tenho todo o fim de semana para isso...). Passeei pela UFS com uma amiga de trabalho. Esta me levou ao setor em que um amigo em comum trabalha. A porta estava fechada. Batemos. Ao entrar, percebemos que ele peidava compulsivamente enquanto assistia a um filme pornográfico homossexual. Na tela do computador, homens chupavam os pênis de outros. Minha amiga ficou moralmente enojada. Eu fiquei chateado, por outros motivos (“todos eles, meu Deus, todos eles!”). O tempo continuava a passar. De repente, eram 22h. Conversava com um redentor. Descobri que, no mundo, existe alguém chamado Luanda Boaz. Ei-la na foto, na capa de uma revista qualquer. Alguém precisa reforçar a porta...

Wesley PC>

UM VIDEOCLIPE PREDILETO PARA DISFARÇAR A INCAPACIDADE SENTIMENTAL


Como disse ontem, não tinha forças para escrever. Ainda assim, tentei produzir uma resenha sobre o maravilhoso videoclipe do Weezer que atende pelo nome de “Undone (The Sweater Song)”, dirigido pelo surrealista Spike Jonze, que havia visto pela manhã, enquanto comia cuscuz com grão-de-bico. Algum problema no computador fez com que o texto se perdesse, depois de escrito. Perdeu-se. Tento aqui recuperá-lo, de memória. Lembro que comentei que não somente esta canção é maravilhosa, como também o videoclipe é perfeito Durante os 5 minutos e 5 segundos da canção, um exuberante plano-seqüência realiza movimentos surpreendentes de grua, o vocalista canta propositalmente longe do microfone, o baterista realiza inúmeros gracejos, cães invadem o palco, etc.. Maravilhoso videoclipe!

Como precisava escolher um CD para executar enquanto tomava banho para ir para o trabalho, escolhi algum aleatoriamente dentre um montante de 444. Por pura coincidência, apanhei justamente uma coletânea de canções de “The Blue Album” (1994) e “The Green Album” (2001), ambos do Weezer, uma das bandas que patentearam o rótulo “alternativo” na contemporaneidade. Entre canções maravilhosas e repletas de guitarras distorcidas e vozes que deixavam patente o celibato como “My Name is Jonas”, “The World has Turned and Left me Here”, “Say it Ain’t So”, “Tired of Sex” e “Island in the Sun”, ouvi a canção supracitada diversas vezes seguidas. Sou destes...

“If you want to destroy my sweater...Woah-ah-woah-ah-woah.
Hold this thread as I walk away... As I walk away.
Watch me unravel, I'll soon be naked.
Lying on the floor, lying on the floor
I've come undone”


Wesley PC>

sexta-feira, 19 de junho de 2009

COMO SE FOSSE UMA NOTÍCIA DE JORNAL...


Aí ele saiu na rua e foi espancado. Fim!

Poderia terminar assim a estória, fui tentado a tal, mas gratuidade não combina bem comigo. Vasculhava notícias recentes sobre espancamento de homossexuais e a imagem acima chamou a minha atenção. Aparentemente, tudo o que este professor fazia de errado era caminhar pela rua, demonstrando afetação. Cercaram-no e encheram de porrada. “É a lei da selva!”, diriam alguns. Minha irmã mais velha concorda com estes. Há pouco, minha mãe me telefona para dizer que receber colheradas de comida na boca é sintoma de afetação homoerótica, segundo sua filha. Vou responder o quê numa situação destas?

Sem poder escrever muito hoje...

Wesley PC>

‘LE GRAND MICHEL LEGRAND’!


Assim que eu cheguei ao Teatro Tobias Barreto e deparei-me com este chiste aliterativo na programação do concerto, suspeitei que a platéia forçasse um deslumbre insincero diante do grande artista que iria se apresentar em alguns minutos. Ao perceber que uma parcela considerável do público possuía mais de 60 anos aparentes de idade, tornei-me um pouco mais confiante: “eles respeitarão o evento”, pensei comigo mesmo. O aviso do teatro dá o sinal que o concerto está para começar. Desliguei o celular (com uma pendência pessoal martelando o meu cérebro) e sorri quando ‘le grand Michel Legrand’ entra no palco, gracejando algo, demonstrando que o mesmo bom humor da década de 1960 continua ativo. Fiquei contente. Senti que seria uma noite feliz!

A primeira música executada eu não conhecia: era a trilha sonora do filme obscuro “Estação Polar Zebra” (1968, de John Sturges). Não vi o filme e, talvez por isso, achei que a trilha sonora do mesmo não funcionasse descolada das imagens. Na segunda música, que o autor alegou ter composto “some years old ago” (risos), Michel Legrand usa sua voz encantadoras para pronunciar palavras como amizade e melancolia. Gostei muito. A terceira parece que foi tema de um filme do Claude Lelouch que eu não reconheci de imediato e, na quarta, eu senti um estranho enfado: o concerto estava demasiado burguês. Detalhe: na mesma hora em que fiz este comentário com meu amigo Ferreirinha, uma grande amiga virou-se para mim e comentou: “eu achava que tu não gostasses de música burguesa não, Wesley!” (ri muito). Em seguida, a convidada especial Patty Ascher entrou no placo para cantar “What are you Doing the Rest of Your Life”. A letra era até bonita, mas algo não me fez gostar da interpretação da cantora. Achei demasiado pequeno-burguesa. E Michel Legrand pedia um pouco mais de retorno em seu microfone. Estava gostando do evento, mas não era o que eu tanto esperava...

“I want to see your face in every kind of light
In fields of dawn and forests of the night
And when you stand before the candles on a cake
Oh, let me be the one to hear the silent wish you make
What are you doing the rest of your life?
North and South and East and West of your life
I have only one request of your life
That you spend it all with me
All the seasons and the times of your days
All the nickels and the dimes of your days
Let the reasons and the rhymes of your days
All begin and end with me”


De repente, a harpista Catherine Michel entra no palco. Com suas mãos de fada, ela ajuda o artista a encetar “Je ne Pourrai Jamais Vivre Sans Toi”. Lembrei do contexto em que conheci a canção e não resisti: esboços lacrimais manifestaram-se em meus olhos, ao passo em que meus companheiros de platéia admitiam vários orgasmos estéticos seguidos. Epifania! Foi lindo!

Intervalo. Saímos, bebemos água, fomos ao banheiro. Precisávamos nos recuperar do choque. Ao voltarmos, Michel Legrand executou três ou quatro canções jazzísticas, com poucos instrumentos no palco. O baterista da Orquestra Sinfônica de Sergipe era de uma simpatia e esforço tremendos. Ficamos brevemente seduzidos por seu ótimo desempenho ao lado do mito francês. Ai a fada Catherine Michel volta para seu posto instrumental e arranca novas lágrimas de minha alma ao me fazer recordar vividamente de “Verão de 42/ Houve uma Vez um verão” (1971, de Robert Mulligan). Olhei para a platéia e percebi que não era o único. Vários daqueles senhores emocionavam-se de verdade com a música terna, nostálgica e, se considerarmos o efeito indelével do tempo, um pouquinho cruel. Epifania novamente! Em seguida, a canção-tema de “Yentl” (1983, de Barbra Streisand). Epifanias se seguiam, se acumulavam, nos perturbavam, nos possuíam... Todas as canções desta segunda metade do concerto foram admiráveis. Até mesmo a trilha sonora de um filme televisivo sobre futebol americano exalava sublimidade! Sentimos o céu naquele teatro. Pessoas aplaudiam de pé, não para se exibirem, mas porque Michel Legrand foi exitoso em arrancar lágrimas sinceras. Foi lindo! Ferreirinha gritava ao meu lado: “perfeito! Perfeito!”. Sentíamo-nos leves, quase flutuando. Se eu já era fã do Michel Legrand, agora o respeito quadruplicou. Gênio! Senti-me vivo no interior daquele teatro e fora... e sinto-me vivo agora!

Wesley PC>

quinta-feira, 18 de junho de 2009

PIADINHA DE FIM DE EXPEDIENTE


A maioria de estudantes do curso de Ciência da Computação é composta por homens (leia-se: do sexo masculino). Ainda há pouco, entreguei o diploma de uma jovenzinha e, ao perceber que o documento relatava a sua pontuação do vestibular. Ela, espantada, mostrou o documento a uma amiga e esta gritou: “nossa senhora!”. Seriam as estudantes de Ciência da Computação religiosas marianas? Ri demais!

Wesley PC>

UM FILME PARA CHORAR E LAVAR A ALMA...


Nunca gostei do Brendan Fraser, nem mesmo nunca o achei bonito. Um dia, fui ao cinema, ver um filme indicado ao Oscar de Melhor Ator: Ian McKellen vivia o cineasta James Whale, que realizava filmes metafóricos de horror, em que a solidão do monstro criado pelo mítico Dr. Frankenstein era uma transmutação da própria solidão que sentia, da incompreensão social acerca de sua homossexualidade cada vez menos atuante (apesar dos anseios desejosos sempre intensos), da sensação de ter feito tudo errado no mundo, por mais que insistisse me fazer o certo. Ele envelhece. Contrata um jardineiro rústico, por quem se sente violentamente atraído. Inventa pretextos para se aproximar dele. Inventa que é pintor, paga para que ele pose sem camisa. Ao perceber o truque, o jardineiro se evade, mas precisa do dinheiro. Aos poucos, desenvolve uma forte amizade com o cineasta, mas esta não pode ser convertida no tipo de amor sexual que o velho sofrido e sempre muito bem-humorado deseja. A morte chega para qualquer um, bem como a revalorização póstuma das obras de arte. Na trilha sonora, Carter Burweel. Muitas lágrimas, identificação sobejante, amizade de verdade. Qual o nome do filme?

Wesley PC>

É ESTRANHO SER RELIGIOSO NUMA HORA DESSAS?


Não vejo por que sim! Ainda aproveitando as epifanias vivenciadas durante a inicialmente problemática sessão de “Je Vous Salue, Marie” (1985, de Jean-Luc Godard) hoje mais cedo, a fé num conceito de Deus pode muito bem assimilar-se positivamente aos conflitos inevitáveis do sofrimento voluntário da “resignação a ser amado”, conforme pronuncia a protagonista, enquanto se revira na cama, sofrendo por imaginar que um Deus existe. Um Deus existe. Deus existe? Nestas horas, apelo para Blaise Pascal, meu eterno filósofo favorito:

““Os que vivem no desregramento dizem aos que vivem na ordem que são estes que se afastam da natureza, e julgam segui-la: como os que estão num barco julgam que os que estão na margem fogem. A linguagem é semelhante em toda parte. É preciso ter um ponto fixo para julgar. O porto julga os que estão no barco, mas onde conseguir um porto na moral?” (fragmento 383)

E, até hoje, não vejo por que o amor a Deus e a compulsão por sexo oral podem ser impulsos contraditórios!

Wesley PC>

ENQUANTO ISSO, AS PESSOAS DORMIAM...


“There’s still a little bit of your taste in my mouth
There’s still a little bit of you laced with my doubt
It’s still a little hard to say what's going on”…


Trovadores irlandeses sempre estiveram em moda. Porém, desde que foram alavancados para as paradas de sucesso em meados da década de 2000, quando estou ouvindo as canções de Damien Rice, sempre tem alguma que me pergunta se estou a fazer isso porque a deliciosa “Cannonball” fez parte da trilha sonora de alguma telenovela das 21h na Rede Globo de Televisão. “Nem televisão aberta eu vejo”, penso sempre com um gracejo, mesmo admitindo que sou bacharel em Rádio/TV e que, portanto, ao menos no plano informativo, eu tenho a obrigação de saber o que se passa nos canais disponibilizados para as grandes massas. Quando eu era adolescente, até que me divertia vendo algumas novelas. A Força de um Desejo”, protagonizada pela musa erótica de minha infância, Malu Mader, era uma dessas. Hoje as novelas estão tão vazias, imbecis, formulaicas, plagiadoras... Ao menos, a escolha das canções que compõem a trilha sonora é boa. Ou, se não o for, estão tão minuciosamente conectadas à verticalização da Indústria Cultural, que as mesmas canções que ouvimos em cenas de beijo televisivo são aquelas que emolduram cenas de (bons) filmes hollywoodianos, vinhetas publicitárias, emissoras de rádios, etc.. É o fim das eras!

Pelo sim, pelo não, além da telenovelesca “Cannonball” e do sucesso “The Blower’s Daughter”, Damien Rice é um excelente cantor e compositor, além de encetar brilhantes parcerias com Lisa Hannigan. Dentre as melhores canções do álbum “O” (originalmente lançado em 2002), destaco a encantatória “Eskimo”, com seus versos linguisticamente pretensiosos:

“Tiredness fuels empty thoughts
I find myself disposed
Brightness fills empty space
In search of inspiration
Harder now with higher speed
Washing in on top of me so
I look to my eskimo friend
When I'm down down down”


Wesley PC>

O DISCURSO DA MAIORIA NUMÉRICA SOBRE MIM!


Lá vou eu de novo, reclamar. Não da vida, mas da sobrevida que querem me obrigar a levar!

Há pouco menos de duas horas, estive a me preparar para rever um clássico filme do gênio cinematográfico Jean-Luc Godard, no auditório da Reitoria da UFS, que estava interditado porque alguns funcionários da referida instituição estavam a assistir um jogo de futebol. Não obstante a sessão de o filme ter sido agendada há meses e eu ter horário para voltar ao trabalho (14h em ponto), as pessoas que estavam na sala recusavam-se a permitir que o filme começasse. Foi o suficiente para que eu explodisse: AQUELE FILME SERIA EXIBIDO NAQUELE HORÁRIO OU EU NÃO ME CHAMARIA WESLEY PEREIRA DE CASTRO!

As pessoas na sala protestavam: “só tem dois ou três gatos pingados na sessão”, “este filme é péssimo”, etc., etc. Eu esbaforia de raiva, de cólera, de desejo, precisava ver aquele filme, na pior das hipóteses, utilizando o parco argumentando de que o horário estava reservado para isso e eu deixei de realizar outras atividades para este fim. As pessoas continuam a contra-argumentar, a confundir uma permissão institucional com pendengas de nível pessoal. Terminei vendo o filme, um dos mais maravilhosos legados contemporâneos sobre a relação conturbada entre a decadência valorativa da virgindade e o ápice da religião tormentosa. Gemia de gozo vendo o filme, ao passo em que ainda era atingido pelos lapsos de fúria que me possuíram antes da sessão. Ao final da mesma, procurei algumas das pessoas conhecidas com quem me interpus. Eles entenderam minha explicação póstuma ou, se não, fizeram que entenderam. Bastou-me. O filme pulsa em mim, em todo o seu pascalismo. Quase uma obra-prima!

Wesley PC>

...E SE O CU FOSSE MESMO UM PORTAL PARA O COSMOS?


Quando não se pode resolver os problemas, deixar de pensar neles não é a única solução possível. Ontem à tarde, minha mãe e minha irmã mais velha tiveram uma briga homérica, em virtude da acusação de que um menino de 13 anos era cocainômano. Nesta pendenga, meu cachorro Bogdanovich foi ameaçado com uma chaleira de água quente, a geladeira de minha cozinha foi espancada inúmeras vezes e meu irmão caçula ficou triste. Nesse entretempo, eu me preparava para rever “Je Vous Salue, Marie” (1985), clássico polêmico do Jean-Luc Godard, um dos últimos filmes a ser proibido pela censura oficial do Brasil, filme que será apresentado, sob minha custódia, na UFS, às 12h30’ de hoje. No filme, que atualiza a concepção sacra de Jesus Cristo, uma jogadora de basquete virgem de nome Maria (Myriem Roussel) tenta demonstrar a seu namorado taxista José (Thierry Rode) que sua gravidez é divina. Ela fica nua diante dele. Ela toca em sua vagina. Ela põe a mão em sua barriga. A mão desce para a genitália novamente... E movimento se repete várias vezes. René Descartes é convocado para resolver o dilema. Enquanto passa batom, e seu filho brinca num pasto, alegando estar em busca de seu Pai Celestial, Maria conclui que o cu é a porta do Universo. Quem sou eu para discordar dela?

Wesley PC>

POR QUE EU DEVERIA ESTAR NO CONCERTO DE MICHEL LEGRAND, HOJE À NOITE?


1 – Porque eu sou destes que se apaixonam;

2 – Porque ele já está com 77 anos de idade e talvez não volte mais ao Brasil, que dirá a Sergipe;

3- Porque suas trilhas sonoras já me fizeram chorar várias vezes: se em “Viver a Vida” (1962, de Jean-Luc Godard) eu me enterneci com a situação da jovenzinha deslumbrada que queria ser atriz e termina como prostituta assassinada; se em “Crown, o Magnífico” (1968, de Norman Jewison), eu me enterneci com a percepção de que existem coisas mais importantes no mundo que as riquezas terrenas; e se em “Verão de 42/ Houve uma Vez um Verão” (1971, de Robert Mulligan), eu me enterneci com o peso das lembranças, com a impugnação do sexo agônico na mente desesperançosa de um jovem; em “Os Guarda-Chuvas do Amor” (1964, de Jacques Demy), visto na foto, meu coraçãozinho adolescente foi lancinado pela descoberta da compensação, pelo recurso à segunda opção, pelo conformismo da paixão dolosa... Grande compositor!

“Non je ne pourrai jamais vivre sans toi
Je ne pourrai pas, ne pars pas, j'en mourrai
Un instant sans toi et je n'existe pas
Mais mon amour ne me quitte pas”


Ao final, por mais que se diga que se pode viver sem alguém, se vive, se vive, se vive...

Wesley PC>

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A HISTÓRIA É TAMBÉM UMA SUCESSÃO DE CAMADAS POPULARES SUPERPOSTAS!


Assim atesta “Salmo Vermelho” (1972), clássico do húngaro Miklós Jancsó, em que soldados, camponeses, mulheres nuas e apaixonadas, socialistas, contra-revoltosos, latifundiários insatisfeitos, diversas classes populares mesclam-se numa dança progressiva, metaforizando anos e anos de revolta do País atualmente presidido por László Sólyom.

Wesley PC>

UM POUCO DE ‘MERCHANDISING’ COMERCIAL FAZ MAL?


Em virtude de privações econômicas da infância, aprendi desde cedo a desgostar do que custa caro. Porém, recentemente adquiri uma estranha compulsão urbana pelo consumo de batatas fritas industrializadas da marca Ruffles (eventualmente substituídas pela marca Yoki). Lembro de um comercial de infância, em que o referido produto era apresentado ao consumidor aliado a uma definição da palavra “compulsão”, que é externalizado através de jargões como “é impossível comer um só” ou “faça barulho”, já que o referido produto é deveras crocante. O que é pitoresco nesta minha predileção alimentícia urbana pelo consumo de Ruffles é que descobri o produto por causa de uma promoção de veraneio, em que ganhávamos penduricalhos sortidos ao comprar uma embalagem das batatas fritas conservadas através do radioativo processo de ionização. Nunca ganhei um penduricalho, somente proto-tatuagens solúveis com imitações de desenhos tribais. Mas tornei um apreciador contumaz do sabor do referido gênero alimentício, comumente ingerido antes de sessões cinematográficas, mesclado com iogurte. Hoje à noite, planejo ver um filme fora de casa. Acho que gastarei mais R$ 3,00 com uma embalagem de Ruffles – Sabor: cebola e salsa!

Wesley PC>

“O EXERCÍCIO DAS PEQUENAS COISAS” (2005), de LUDOV:


“Tudo é tão difícil pra você
Quem sabe um filme antigo cairia muito bem
Às vezes é somente questão de sorrir
O mundo não esquece de você
Quem sabe um bom amigo lhe faria muito bem
Às vezes é somente questão de ouvir
O que os outros tem a dizer”...


Tenho certeza de que já falei desse disco antes, mas não vejo nada de errado em elogiá-lo novamente. As composições de Mauro Motoki e a voz cândida de Vanessa Krongold conseguem dignificar qualquer um dos 15 lamentos contidos neste álbum. Os versos supracitados fazem parte da faixa de abertura, “Sério”, na qual o eu-lírico reclama indiretamente de sua própria submissão passional, ao passo em que percebe que a pessoas que é alvo de sua atenção talvez não seja de todo merecedora desse cuidado. Mas quem disse que se escolhe neste campo? (risos)

Pelo sim, pelo não, o disco é muito bom e é uma das coleções musicais mais recorrentes no aparelho de som de minha casa, tanto que, aos poucos, minha família inteira vai simpatizando com o disco. A suavidade da vocalista e a ternura das canções são realmente cativantes. Na faixa 02, “Estrelas”, a vocalista externa o tipo de impressão que eu tenho em relação a amores vencidos (“Falta um pouco de luz nos seus olhos e me dá saudade o seu rosto brilhando ao sol/ Falta um pouco de amor no seu corpo e eu não posso te dar pois em mim faltará também”), enquanto a faixa 03, “O Dia em que Seremos Felizes”, prenuncia: “Não vou mais ficar aqui sem compreender/ Sei que tudo há de vir no seu devido tempo/ Quem me dera dar o mundo pra você/ E um pouco mais de paz”. Mas é a faixa 04, “Dorme em paz”, uma das que mais reverberam em minha mente, tamanha o respeito que a instância narrativa da mesma confere a quem ama:

“Dorme em paz, já é madrugada
Não dê ouvidos aos ruídos, a essa falta de ar
Meu amor, não pense mais em nada
Feche os olhos e as janelas
Deixe o sono te levar
Pelo escuro”


E o disco segue em frente, com canções intituladas “Esquece e Vai Sorrir”, “Tudo Bem, Tudo Bom”, “É Só Saudade” e um bônus herdado do primeiro trabalho da banda, a canção laureada em vários festivais “Princesa”. Mas a obra-prima do álbum é mesmo “Kriptonita”, com sua bateria crescente, com sua voz evanescente, com sua letra tímida, com seu videoclipe dilacerador...

“Quando você disser
Que longe é um lugar que não existe
Se lembre também de me dizer
Onde é que você vai estar, então

Quando eu te quiser
Quando eu te quiser

Quando eu te quiser
Esteja em casa
Esteja na sala de estar

Eu tenho o mundo inteiro pra salvar
E pensar em você é kriptonita
Você é tão bonita de se admirar
Tão bonita”


Lindo demais, lindo demais! Porém, não podia perder a chance de usar este disco para justificar a hipergrafia típicas dos personagens que compactuam com o que é cantado pela sedutora Vanessa Krongold: “Eu sei que você vê tudo o que eu faço/ Eu sei que você lê tudo o que escrevo/ Escrevo pra você”. Ah, se a vida fosse assim... Tenho certeza que voltarei a falar deste ótimo disco. Não é o caso de pedir desculpas. Afinal de contas, sem resposta a nossas ações, fica difícil progredir moralmente!

Wesley PC>

SOBRE A IRMANDADE: IMAGENS, SONS E TEXTOS QUE ANTECIPAM UM BOM SONO


No afã por ver algo agradável antes de dormir, deparo-me com “Vizinhos” (1952), um simpático curta-metragem Norman McLaren, famoso por ser um pioneiro da animação, ao realizar desenhos na própria película de cinema. Este filme, porém, vencedor de um Oscar na categoria de curta-metragem, utiliza atores reais, que sucumbem ao ‘stop-motion’, técnica de animação em que objetos parecem mudar de lugar ao serem fotografados de diversas maneiras enquanto liga-se e desliga-se a câmera. Na trama do filme, dois vizinhos lêem calmamente seus jornais em frente a suas casas. No jornal de um deles, há a mensagem de que haveria paz se não fosse a guerra. No jornal do outro, a mensagem de que haveria guerra se não fosse a paz. Uma mulher nasce entre eles e embriaga-os com o perfume. Eles interagem nesta embriaguez odorífera. Cada um dos dois vizinhos, porém, resolve pôr uma cerca em volta da perfumada flor. Ambos brigam. As mulheres e filhos dos dois vizinhos são pisoteados. Ambos morrem, ao final de uma violenta peleja, em que as faces de ambos ficam pintadas como se fossem indígenas belicosos. Túmulos são cercados por pedaços de tábuas outrora usados para construir cercas em volta da flor, que, após ser estraçalhada na briga, dá origem a duas outras flores, que nascem sobre os respectivos túmulos dos vizinhos mortos e enterrados. Surge, então, uma mensagem multilíngüe: AME AO TEU VIZINHO!

Gostei de ter revisto este filme, assim de supetão. Minutos antes, estive justamente na casa de um vizinho, que me pediu que eliminasse alguns vírus de seu computador. Vasculhando o histórico do mesmo, percebi a recorrência de muitos vídeos pornográficos. Geralmente me frustro com isso, mas, desta vez, dei de ombros. Minutos depois estava misturando dois tipos de sêmen em minha garganta.

Lembrei, então, do sonho que tive nesta madrugada: um conhecido virtual, desses que se acham gostosos (tadinho!) era meu irmão onírico e, junto a dois amigos bonitos e acéfalos, não me deixava dormir, fazia muito barulho. Reclamo com ele, que sai da sala, não sem antes tomar banho. Pela demora embaixo do chuveiro, percebo que ele não estava apenas a se banhar. Perdi o sono. Quando ele sai do banheiro, percebo um jato der esperma na parede. Lambo sem a menor cerimônia. Ao invés de acordar excitado, acordei psicologicamente atormentado: tocava uma música evangélica no despertador do celular de minha irmã de 44 anos, que passa esta semana em minha residência, obrigando-me a dormir no sofá. Imaginei se ela gosta de The Carpenters, casal de irmãos canoros e românticos que agora ouço. Ela dorme. Acho que vou fazer o mesmo...

“Love, look at the two of us
Strangers in many ways
We've got a lifetime to share
So much to say
And as we go
From day to day
I'll feel you close to me
But time alone will tell
Let's take a lifetime to say
"I knew you well"
For only time will tell us so
And love may grow
For all we know.”


Wesley PC>

terça-feira, 16 de junho de 2009

Como zune um novo sedã

No momento em que disseram: "Tempo é dinheiro".
Os ponteiros do meu relógio desistiram de correr.


Leno de Andrade

EXERCÍCIO DE HUMILDADE HERMENÊUTICA: “O NOVO SEMPRE VEM”!


“Você me pergunta pela minha paixão
Digo que estou encantado com uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento o cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração”...


Admito: por mais que eu ache a canção admirável, não entendo o que ela defende. Ou talvez entenda, mas não compreenda adequadamente o contexto e termino por discordar: tenho medo do novo, o novo me apavora! Mas, independente disso, não acho que ele exclua o velho. Ambos podem (e devem) conviver muito bem – ou não? Segue abaixo o trecho que mais me assombra:

“Nossos ídolos ainda são os mesmos
E as aparências não enganam não
Você diz que depois deles, não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer que eu tô por fora
Ou então que eu tô inventando...
Mas é você que ama o passado
E que não vê
É você que ama o passado
E que não vê que o novo sempre vem”...


Amo o passado. Talvez eu não esteja realmente a entender o que a canção quer passar. Repito mais uma vez, interrogativamente: como interpretar esta canção? A quem a crítica se destina? De quem é a culpa? O desentendimento é também um estratagema de inassunção?

Wesley PC>

L’AMOUR EST UNE PRISON?


Une prison volontaire, peut-être!

Francois Truffaut sentia-se deslocado. Não gostava de sua família e, revoltado por dentro, descarregava suas emoções de forma muito intensa e, um dia, foi preso, enviado a um reformatório correcional. Roubava cartazes de filmes, amava a vida, amava o cinema. Um dia, é adotado pelo genial crítico André Bazin e torna-se um dos mais apaixonados defensores fílmicos da História. Em 1959, estréia em longa-metragem com o clássico “Os Incompreendidos”. Seu pai adotivo morrera de tuberculose no ano anterior.

Por uma gama de motivos, para além destes citados, “Os Incompreendidos” é um dos filmes mais emocionantes e emocionais que eu já vi. É praticamente uma autobiografia do diretor, de maneira que o ator que interpreta o adolescente protagonista, Jean-Pierre Leaud, repetiria seu papel por mais quatro filmes, ao longo dos 20 anos posteriores. Vidas se confundem nesta admirável pentalogia com o personagem Antoine Doinel!

A trama é de uma simplicidade apaixonante: o adolescente Antoine não gostava de sua família e, revoltado por dentro, descarrega suas emoções de forma muito intensa. Um dia é preso e enviado a um reformatório correcional. Roubava cartazes de filmes, amava a vida, amava o cinema. A trilha sonora terna de Jean Constantin faz qualquer um chorar!

A quem interessar possa, este filme belíssimo, essa extraordinária experiência de vida será exibida, às 19h, no Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira. Mesmo o local sendo problemático, a sessão vale demasiado a pena. Na pior das hipóteses, quem ver o filme entenderá de supetão por que François Truffaut é “o cineasta do amor difícil”. Tão difícil que se torna quase impossível...

Wesley PC>

“O AMOR É ALGO QUE NUNCA MORRE!” (de novo)


Não importa quantas vezes eu veja ou reveja “Drácula de Bram Stoker” (1992, de Francis Ford Coppola), sempre vivencio o horror ultra-romântico do filme em primeira pessoa, como se fosse a primeira vez. Não sei se é porque desejo aprender a falar romeno desde que era uma criança, não sei se é porque padeço de males semelhantes ao protagonista, não sei se é porque eu insisto, acima de tudo, eu insisto, não sei se é porque simplesmente o filme é uma obra-prima, mas, por mais que eu detecte alguns defeitos em sua feitura, eu vejo e revejo e sinto e sinto e sinto: “Drácula de Bram Stoker” é um filme magnífico!

Possuo a trilha sonora do polonês Wojciech Kilar em casa, conheço os diálogos e seqüências de imagens quase de cor, alimento os mesmos repentes masoquistas com vistas subjacentes a um exibicionismo reivindicante que talvez não seja mais efetivo. Aí eu leio na página virtual de alguém um adágio do grego Epíteto: “Não faça a sua felicidade depender daquilo que não depende de você”. Tarde demais!

Wesley PC>

O BARROCO NOSSO DE CADA DIA...


Esta imagem assombrou a minha infância. Via-a sempre num dicionário e, à época, jamais imaginaria que hoje, aos 28 anos, tornar-me-ia um devoto tardio do gênio religioso do Padre Antonio Vieira, de seus discursos barrocos, de sua sensatez sobressalente. Acabo de ver um filme dirigido pelo classicista iconoclasta (se é que a combinação adjetiva é possível) Julio Bressane sobre este supremo literato barroco e encantei-me com o “Sermão de Santo Antônio aos Peixes” (1654):

“Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? Nunca pior auditório. Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam. Uma só cousa pudera desconsolar ao pregador, que é serem gente os peixes que se não há de converter. Mas esta dor é tão ordinária, que já pelo costume quase se não sente. Por esta causa não falarei hoje em Céu nem Inferno; e assim será menos triste este sermão, do que os meus parecem aos homens, pelos encaminhar sempre à lembrança destes dois fins”.

Temo o silêncio, temo o mesmo NÃO que apavorou o personagem principal do filme bressaneano. Acho que tenho medos por demais! Culpa trágica de quem ama... A Deus, aos homens, aos peixes, seja a quem ou ao que for!

Wesley PC>

JÁ PASSAM DA MEIA-NOITE!

E posso falar o nome dele novamente: Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício! Rafael Maurício!

68 vezes, para fugir do clichê...

Wesley PC> (salvo novamente)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

QUALQUER COISA ME SERVE DE PRETEXTO!


Estou com este filme em casa e pretendo vê-lo de hoje para amanhã. Não confio de que ele seja muito bom, mas tenho certeza de que me divertirá, quiçá me excitará um pouco e permitirá que eu fale diretamente de pelo menos quatro pessoas a ele relacionadas:

- Um amigo homossexual exclusivamente ativo, que foi quem me emprestou o filme e hoje está voltando para Sergipe, visto que passou o fim de semana na Parada Gay de São Paulo, ao lado de seu marido;

- Meu querido neo-israelense e dançante numérico Ameriquinho Iê, que é fã da igualmente israelense e muito talentosa Natalie Portman;

- Meu queridíssimo e saudoso amigo Rafael Coelho, que “pensa besteira” só em ouvir alguém pronunciar o nome da bela atriz Scarlett Johansson a quem nunca vi nu espontaneamente, e, pelo que soube, andou visitando festas de formatura alheias e tendo problemas corporais devido ao consumo excessivo de determinadas substâncias lisérgicas;

- E, finalmente, “o homem de minha vida”, que me perguntou, solenemente, se eu era contrário a abordagens micro-históricas. Preciso responder à pergunta?

Para quem não sabe do que se trata, o filme do televisivo diretor Justin Chadwick acrescenta novos detalhes picantes à saga histórica do amplamente ginecofílico Henrique VIII. Não esperarei muito. Bastam-me as referências mnemônicas!

Wesley PC>

ÚLTIMO DIA DA AUTO-PROIBIÇÃO: PRECISO RE-DECLARAR MEU AMOR URGENTE!


Amanhã eu posso novamente voltar a pronunciar o mais belo dos nomes, vinculado ao mais encantatório dos seres (suponho que houvesse uma competição entre eles – não há!). Enquanto o meu prazo não chega, inventei de escrever a palavra “perfeição” num endereço eletrônico para buscas virtuais e deparei-me com a referida fotografia, que faz menção a uma escultura exibida em algum lugar do País. Não sei o nome da escultura, não sei quem é o artista. Sei que a Perfeição existe - e, para mim, tem nome de homem!

Wesley PC>

DA LEITURA DE “O SABER LOCAL”, DE CLIFFORD GEERTZ:


Já confessei aqui que estou recentemente obcecado por assuntos antropológicos. Levando esta obsessão adiante, comecei a ler esta semana “O Saber Local”, livro de Clifford Geertz, em que, dentre tantos outros assuntos, ele avalia a História Social da Imaginação Moral, ou seja, o quanto aquilo que aprendemos e admiramos tem a ver com os julgamentos morais que depositamos sobre o mundo.

Pois bem, numa admirável passagem desta obra fundamental da Antropologia contemporânea, o autor faz uma longa citação de um texto do dinamarquês L. V. Helms, em que este último descreve em detalhes uma cerimônia fúnebre balinesa, na Indonésia, em que o chefe da tribo morto, por ser considerado impuro, é carregado num caixão em formato de tigre, tem uma serpente sacrificada com flechas e flores como derradeira oferenda honorífica e três de suas viúvas atiram-se voluntariamente ao fogo, morrendo violentamente carbonizadas. Ao final, o autor da obra original, datada de 1880, escreve: “trabalhos como este [aquele que descreve pormenorizadamente os rituais fúnebres e sacrificiais] são credenciais através das quais a civilização ocidental faz valer seu direito de conquistar e humanizar raças bárbaras e de substituir as civilizações antigas”. O que é escrito a seguir, portanto, é uma crítica severa e bem-fundamentada contra esta apologia equivocada ao imperialismo colonizador. Fiquei impressionado ao ler estes parágrafos. Senti, naquele momento, que entendia cada vez mais e mais o fato de que existem pessoas com hábitos e costumes diferentes dos meus (e vice-versa). Gosto de lamber pés, cheirar sovacos e ingerir sêmen. Tem gente que não gosta disso e prefere comer carne ou torcer para galináceos que brigam. É normal. Mas será que a quota de sacrifício voluntário é semelhante em todas as situações listadas?

Não sou eu quem vou responder. Passo novamente a palavra ao antropólogo Clifford Geertz, de quem já me tornei fã, e que diz: “os ganhos, em termos de crescimento e abrangência , que uma sensibilidade forte pode ter quando encontra outra sensibilidade tão forte ou mais forte que ela mesma, acontecem somente às custas de uma perda de bem-estar interno”. Incomodo-me, desde já! E, ao fazer isto, incomodo também. Eis a vida!

Wesley PC>

QUEM ME ENTENDE É A LUCRECIA MARTEL!


Desde que vi “O Pântano” (2001) há alguns meses, soube que a argentina Lucrecia Martel entendia a realidade subdesenvolvimentista que me rodeia: muita gente num mesmo lugar, muitos problemas competindo por atenção numa mesma casa. A situação fica cada vez mais caótica e a diretora não faz nada para atenuar nosso desconforto: sua principal recorrência estilística é precisamente esta, a plurivocalidade estrebuchante. Nascia ali uma grande diretora!

Recentemente, vi o terceiro filme desta genial cineasta, “A Mulher Sem Cabeça” (2008), e mesmo admitindo que a apreensão adequada deste novo filme depende da revisão dos filmes anteriores da diretora, identifiquei-me deveras com sua temática, com seu estilo, com sua autoralidade... Na trama, uma dentista deprimida tenta consolar a mordorra e o sobejo de problemas domésticos de sua vida pintando repetidas vezes o cabelo. Acidentalmente, atropela um cachorro e fere a cabeça. Sofre em silêncio, enquanto seus familiares clamam por atenção. Ao final do filme, ela pintará os cabelos novamente.

Há poucos minutos, recebi um telefonema de minha mãe: minha irmã acaba de chegar de Alagoas, planejando passar alguns dias hospedada na casa em que vivo. Trouxe consigo três dos sete filhos que pariu. Detalhe: os meninos são repletos de endemias e parasitas e a minha irmã foi expulsa de casa várias vezes, sendo a última delas por ter me acusado de possuir a Pomba-Gira no corpo, de eu ser um idólatra lascivo. Explico: minha irmã é Adventista do Sétimo Dia e não concorda com muitos de meus comportamentos. Ela é daquelas em que “mil vezes um filho drogado do que um filho viado”. Um de seus filhos está tendo problemas com aquele tipo de toxicomania em que a venda de objetos domésticos é requerido para pagar o vício. Por outro lado, os gigolôs de que talvez eu precise estão cada vez mais caros e/ou inacessíveis. Existem poucas camas em minha casa. O sofá fica na sala, onde também estão os eletrodomésticos que utilizo até o início da madrugada. Conclusão: terei mais alguns tumulados dias de personagem marteliano esta semana! Família é uma coisa complicada. Devo pintar novamente o cabelo?

Wesley PC>

O EFEITO DOMINÓ DE UMA VIDA QUASE COMO QUALQUER OUTRA


Quinta-feira à noite, quando voltava para casa, encontrei um grupo de homossexuais que sentia orgulho disso. Sentiam tanto orgulho que chegavam ao limite da discriminação. Em dado momento, descobri que um dos integrantes daquele gueto havia discutido com uma amiga. A resposta veio sem pensar: “é isso o que dá inserir uma mulher entre ‘gays’. Só podia acabar em briga. Mulher no meio de ‘gays’ não dá certo, a não ser que a pessoa esteja em crise de auto-afirmação!”. Achei o comentário grosseiro, mas não falei nada na hora. Tinha sido pego de surpresa, acho.

Fui para casa, vivi. Os dias se passaram e, hoje pela manhã, ao acordar, seguindo meu tradicional hábito de escolher um CD aleatoriamente, deparei-me com “Left on the Middle” (1997), álbum de estréia da esposa do anoréxico mais belo da Austrália, Natalie Imbruglia. A faixa inicial, “Torn”, é um verdadeiro clássico do universo ‘pop’ e tornou-se muito conhecida em Sergipe quando foi tema da novela “Corpo Dourado”, exibida em 1998, se não me engano. À época, na flor de meus 17 anos de idade, eu tinha uma namorada Testemunha de Jeová. Esta canção era a preferida dela. Meses depois, ela chorou num ônibus e me escreveu uma carta de despedida com a letra desta canção. Talvez ela me ame até hoje, mas obedece a um estranho orgulho “femininista” e não fala mais sobre o assunto. Casou-se com outro homem, da igreja dela. E eu me emocionei discretamente ao ouvir novamente a canção, cuja letra livremente traduzida diz mais ou menos o seguinte:

“Bom, tu podes nao ser necessariamente o homem que eu adorei
Tu pareces não ligar ou se importar
Para o que quer que seu coração se incline,
Eu não o conheço mais!

Não existe mais nada onde eu costumava me deitar
Meus diálogos correm secamente
O que está acontecendo?
Nada está bem, eu estou despedaçada”


Assim dizia a letra da canção. No videoclipe, a cantora encarava a câmera com uma expressão triste e revoltada, enquanto tudo desmoronava no ambiente doméstico atrás dela. Uma interpretação literal e prenhe de sentido para a canção, que, como as demais faixas do álbum, carregam um pouco de ressentimento passional, que obviamente me diz respeito inverso. Exemplo enumerativo: as demais canções recebem nomes como “One More Addiction”, “Leave Me Alone”, “Big Mistake” e “Left on the Middle”, mas a que eu mais gosto chama-se “Wishing I Was There”, faixa 05, que prediz:

“Eu sei, eu fiquei fria
Porque eu não posso abandonar as coisas, completamente sozinha
Entenda-me, eu sou propensa a acidentes
Eu, eu estou livre
Toda noite, a lua é minha
Mas, quando a manhã chega,
Não diga que me ama
Não diga que precisa de mim
Pois eu não acho isso justo
Garoto, eu não sou boba
Mas, quando tu me deixaste,
Eu desejaria, eu desejaria, eu desejaria ter estado lá”


O que isso quer dizer? Não sei ao certo, pois não sou assim. Mas, definitivamente, heterofobia é não comigo! Amo homens, mulheres, animais, seres brutos e tudo mais o que existir neste mundo!
Wesley PC>

domingo, 14 de junho de 2009

RESPOSTA A MEFISTÓFELES (NO GABINETE DE ESTUDO):


Reclama o atormentado Fausto: “O espírito de um homem, em suas altas inspirações, foi jamais concebido por teus semelhantes? Não tens senão alimentos que não saciam; o ouro pálido, que, sem cessar, nos escorre da mão, como se fosse mercúrio; um jogo no qual jamais se ganha; uma mulher que, até nos meus braços, lança olhares ternos para o meu vizinho; a honra, bela divindade que se esvanece como um meteoro. Faze-me ver um fruto que não apodreça antes de cair, e árvores que todos os dias se cubram de uma nova verdura”...

Tadinho do personagem lendário do Johann Wolfgang Goethe. Talvez por ser demasiado frugal, talvez por saber que todos estes olhos da imagem, mais cedo ou mais tarde, “a terra há de comer”, eu encanto-me com a ilusão de satisfação que ora se apresenta. Foi bom, é bom e será muito, muito bom até que alguém prove o contrário – ou não prove!

Wesley PC>

UM FILMINHO DE TERROR PARA DESCONTRAIR


Lá no lugar em que trabalho, as pessoas não gostam de filme de terror: afirmam não entender que estranha fascinação leva as pessoas a ficarem diante de uma tela a fim de ter medo. Eu, por minha vez, considero o horror um dos mais gêneros de filmes mais políticos que existem, visto que, ao lidarem com instintos básicos do ser humano, questionam ou põem em xeque toda a sociabilidade dos mesmos. E foi o que percebi hoje ao ver “Trilogia do Terror” (1993), uma produção televisiva boba e em episódios, realizada por John Carpenter (que interpreta o cadáver mestre-de-cerimônias) e Tobe Hooper.

Três episódios: no primeiro, uma estudante de Psicologia fica sozinha em seu trabalho como frentista de posto de gasolina num local deserto e, na primeira madrugada, enfrenta um ‘serial killer’; no segundo, um homem progressivamente calvo fica obcecado por ter uma vasta cabeleira e submete-se a um implante de parasitas pilosos extraterrestres sob sua calvície; e, no terceiro, um jogador de ‘baseball’ realiza um transplante de globo ocular e passa a mancomunar-se com os instintos assassinos do antigo possuidor do órgão. O interessante é que, entre tais tramas de questionamento básico de fobias, um senso de humor negro dúbio interpela o espectador, que faz a si mesmo o questionamento de meus colegas de trabalho sobre o estranho prazer que sentimos ao ver pessoas morrendo na tela e percebe-se alvo de um saldo positivo enquanto conhecedor dos aspectos recônditos da personalidade social humana. Resumindo: por mais bobo que pareça ser um filme do horror, ele sempre nos ensina sobre algo que desejamos fazer com o vizinho ao lado ou, quem sabe, ele já esteja fazendo conosco há tempos...

Na foto, John Carpenter, exibindo suas chagas torácicas protéticas.

Wesley PC>

“LEAVE THE MESSAGE OR LEAVE ME ALONE”!


Assim se inicia “Lonely, Cryin’ Only”, faixa 04 do álbum “Semi-Detached” (1998), de minha banda norte-irlandesa favorita, o Therapy?.

“What if the sky falls?
And shoves me into the ground
Would you pray for me?
Or would you pull me out?
Yeah, I know your no angel
But I'm stuck right now
Don't walk away
Preyendin' you don't know how”


Continuando a letra, o eu-lírico compara-se a um garotinho gordo e suicida, que se não tivesse amigos a quem recorrer, chafurdaria na solidão irreversível, cujo único consolo proto-remediável é precisamente a morte auto-infligida. As canções parecem felizes, mas a capa do álbum não deixa dúvida de que elas são tristonhas... E o melhor: o ritmo de cada uma das 12 faixas é muito diferente em relação ás outras. Senão, vejamos: a faixa de abertura, “Church of Noise” é a que mais se assemelha a uma canção ‘pop’, com um refrão grudento e algumas referências (lisérgicas) que carecem de um arcabouço deveras específico para serem adequadamente compreendidas. A faixa 02, “Tightrope Walker” parece uma daquelas baladinhas ‘rockers’ sessentistas e a faixa 06, “Stay Happy”, uma de minhas favoritas, joga na cara do público:

“Tu és engraçado, mas não feliz.
Pretensioso e auto-protegido.
Por favor, salve-se dos miseráveis
Por favor, salve-me dos miseráveis!”


As demais canções seguem com títulos como “Born Too Soon”, “Straight Life” e “Don’t Expect Roses”, até desbocar em duas ótimas faixas: a penúltima, “Tramline”, ultra-eletrônica, com vocal borrado, em que o vocalista Andy Cairns protesta contra o ‘rock star bullshit’, e a última, “The Boy’s Asleep”, tão lenta, crescente, progressivamente instrumental e cativante quanto qualquer faixa do Mogwai ou The Jesus and Mary Chain. Gosto muito deste disco, foi um dos primeiros que adquiri quando entrei para universidade e, ao ouvir hoje, senti-me particularmente ainda mais feliz por ter vivido a excelente madrugada que vivi, ao lado de meus amigos...

“Thanks for coming
Mind your step on the way home
The roads are busy
So pick the ones you know”…


Wesley PC>

7h30’ DA MANHÃ...


E, sim, esta madrugada vai ficar na História!

11 gomorrenses, depois de 3 filmes, muito refrigerante, sorrisos, sono, “par ou ímpar” pretensamente erótico, desejos reais e “imaginatórios”, muita vida real na veia e no escurinho do cinema...

Wesley PC>

“ENTRE UMA BRINCADEIRA E OUTRA, MUITA VERDADE É DITA!”


Eis a moral que permeia “Os Contos de Canterbury” (1972), ótimo filme do gênio italiano Pier Paolo Pasolini que ainda estou sem acreditar, extasiado, que vi na tela grande do cinema. Sim, vi, e muito bem-acompanhado por meus amigos de Gomorra!

Vimos “Os Contos de Canterbury” no cinema – e para azar do mundo, as pessoas ainda não estão preparadas para o seu impacto. Em alguns segmentos do público presente à sessão, choveram risos inconvenientes, comentários preconceituosos, chistes equivocados de pessoas mal-realizadas com suas próprias sexualidades... Por mais que o filme seja facilmente digerível em seus escracho e deboche historicamente analíticos, algumas pessoas ainda não estão preparadas para compreendê-lo. Ao longe, ouvi alguém comentar que o filme tinha muita “viadagem”. Em contrapartida, eu gargalhei na cena em que um sacristão corre para atiçar fogo em um pederasta flagrado em ato de luxúria e não dispondo de dinheiro para subornar os hipócritas membros do clero. Ri porque a piada é iconoclasta e porque sabia como o filme terminava: com a demonstração, sugerida pelo autor Geoffrey Chaucer (1343-1400, vivido pelo próprio diretor no filme), de como os monges povoam o Inferno, saindo do cu de Satanás. Genial!

Wesley PC>