sábado, 11 de dezembro de 2010

DECEPÇÃO É MENOS FORTE QUE O AMOR!

Se eu dissesse que há um filme de 1991, dirigido pelo veterano Carlos Saura, cujo roteiro reproduz situações reais e imaginárias das vidas de Luís Buñuel, Salvador Dalí e Federico García Lorca, tendo o grande roteirista Jean-Claude Carrière fazendo figuração no elenco, tinha como se imaginar que o referido filme seria abaixo de “muito bom”? Pois “Buñuel e a Mesa do Rei Salomão” (1991) é um filme tão execrável que eu pelejei para manter-me sequer concentrado na TV em que ele estava sendo exibido, tamanha a quantidade de falácias execráveis em seu roteiro pseudo-aventuresco, na concepção extremamente vilanesca do pintor surrealista salvador Dalí, na higienização sexualista do poeta Federico García Lorca, na introdução sub-enciclopédica de detalhes sobre a vida e obra do genial diretor citado no título... Simplesmente abominável! Como é que o politizado e erudito Carlos Saura pode ter realizado uma obra tão ruim? Como? Que grande decepção! Como sou fã do diretor e sei que este é um ponto falho quase irrelevante em sua extraordinária carreira, dou de ombros: “Salomé” (2002), o filme que ele realizou logo em seguida, é genial!

E se eu dissesse que toda esta introdução verídica de insatisfação diante do filme que vi na manhã de hoje é um pretexto para que eu apregoe que seres humanos são falhos e, por mais que os amemos, tendemos a nos decepcionar eventualmente com eles, mas isto não faz com que deixemos de amá-los, eu pareceria credível? Pois é verdade: por isso, jamais esqueci o que me aconselhou o protagonista suicida do depressivo e excelente filme “Gente Como a Gente” (1980, de Robert Redford): “não confie demais nas pessoas. Elas podem decepcionar você”. Bom que elas o façam, aliás. Aliás, temos certeza de que elas são mais pessoas do que entidades. E, até imagino minha amiga Tatiana Hora dizendo agora: “Arre! Estou farta de semideuses!”. Eu ainda não, mas depois da forte decepção da manhã de hoje, sua frase de perfil blogueiro me fez muito sentido! (risos conformadores)

Wesley PC>

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

PENSAMENTO #485:

“A verdadeira e única virtude consiste, pois, em odiar a si mesmo (...) e em buscar um ser realmente amável para amá-lo. Mas, como não podemos amar o que está fora de nós, cumpre-nos amar um ser que esteja em nós, e isso é certo para todos. Ora, somente o ser universal assim é.” (Blaise Pascal)

E, de agora em diante, “O Menino e o Vento” (1967, de Carlos Hugo Christensen) é o meu maior sonho de consumo cinematográfico!

Wesley PC>

A VELHA PERSEGUIÇÃO, A MINHA ESTRANHA VERGONHA EM CONFESSAR QUE EJACULEI NA PRIVADA DA CASA DO VIZINHO, A COMPULSÃO PELO FRACASSO, A PREOCUPAÇÃO...:

“A FILHA DE FRANKENSTEIN” (1971, DE MEL WELLES): Quando o seu pai é assassinado pela criatura que ele mesmo ressuscitou a partir do cadáver de um assassino enforcado, uma cirurgiã que fora subestimada a vida inteira por ser mulher resolver continuar o seu trabalho. “Não deixarei o nome do meu pai chafurdar na infâmia”, diz ela. “Teu pai morreu e tu preocupas-te mais com o seu nome”, questiona seu marido. E ela dá de ombros e procura um empregado rude de seu pai, que chantageia a oferecer seu corpo em troca de serviços. “O preço que tu pedes é muito alto”, diz ela. “Tu não precisas te preocupar em apagar apenas uma noite de tua memória. Por mais que tu sintas repulsa por mim, tu podes tomar um banho demorado e estarás como nova mais uma vez”!

Aí o telefone toca: “o professor disse que é para a gente estudar muito. Estamos quase reprovados”, disseram-me alguns colegas de grupo, numa atividade insuportável de um professor displicente. Pouco me importei com isso, ou assim fingi. Desliguei o telefone e continuei a ver o filme.

Em dado momento, a cirurgiã diz que, apesar de amar a inteligência de seu marido, sente-se mais atraída pelo corpo de um abestalhado que trabalha no celeiro. “Por que tu não matas nosso empregado e eu transfiro teu cérebro para o corpo dele? Seria a comunhão perfeita entre tua inteligência e a beleza de nosso reles serviçal”. Na sala de operação, ela titubeia: “e se eu falhar?”. Se tu falhares, eu estarei dando a minha vida por ti, que é quem eu amo, responde ele. Pronto. Próximo... Mas não havia próximo. Era quase meio-dia. Tinha que almoçar, tomar banho, ir para o trabalho. E, se eu falhar, ao menos terei amado.

Wesley PC>

O LUGAR PARA ONDE (NÃO) VÃO OS AMORES NÃO-CONCRETIZADOS DO PASSADO:

Uma das cenas mais genais – dentre a completude da genialidade ali contida – do filme “Oito e Meio” (1963, de Federico Fellini) é quando, num delírio, o protagonista mulherengo passeia pro seu harém mnemônico, onde todas as mulheres por quem se apaixonou em vida acotovelam-se por um pouco mais de espaço e tempo na memória do personagem. Prostitutas gordas da infância, primeiras namoradas, esposas, amantes fúteis, bailarinas de cabaré, romances intelectuais, fetiches eróticos, todas se misturam no subconsciente do protagonista, que, em dado momento, precisa fazer uso de um chicote para domá-las: não importa quantas vezes eu reveja esta cena, ela sempre me impressiona!

Pois bem, há pouco vi um filme de terror, erótico e muito bonito, chamado “Frankenstein de Andy Warhol” (1973, de Paul Morrissey), em que, numa cena particularmente afetiva, o médico protagonista atira num canto os restos de belos cadáveres masculina que utilizara numa experiência de reconstrução da vida humana e isto fez com que me sentisse um pouco que nem o Guido Anselmi (Marcello Mastroianni), do filme anterior: não seria mais ou menos como se vê na foto o meu harém de amores não-concretizados?

Quando eu estava saindo da UFS, na noite de hoje, um rapaz sorridente me cumprimentou. Demorei um tempo (2 segundos demorados) para reconhecê-lo e, quando dei por mim, sabia quem era: Ramon, o primeiro rapaz que pareceu compartilhar minha obsessão platônica por outrem. Pareceu, friso. Durou três meses de aparência. Fui feliz nesta época. Ou pareci. 2005. Depois dele, oficialmente, houveram mais ou menos quatro. A todos estes, declarei (e declaro) amor incondicional. Digo que é impossível desamá-los. E é, de verdade. Mas eles passam. Não os vejo mais, outro surge e empata no que sinto pelos anteriores, mas não os desamo e nem amo menos o atual por causa disso. Difícil de explicar? Difícil de entender? É a lógica do amor platônico extremado: arriscar, torcer para que um dia dê certo, mas não dá. Comigo, nunca dá. Por isso, a igualdade minuciosa na totalidade de meu amor, afinal dividido entre mais de uma pessoa. É possível, Deus me ensinou!

Coincidentemente, quando elogiava as características encantadoras do rapaz que atualmente me obseda, um amigo virtual promíscuo comentou: “em breve tu estarás substituindo-o. Viver é uma permanente ciranda de novos amores” (ele não usou estas palavras, esta é a minha transmutação poética de suas palavras vulgares, porém sinceras). Nunca substituí ninguém, não creio em substituição. Eles se acumulam, num coração que, mesmo devotado ao infinito passional, sempre cabe mais um ou uma ou vários. E, se fosse por mim, haveria apenas um, por todo o sempre, mas... Quem sou eu quando se trata de assuntos de amor?!

Wesley PC>

TEM COISA MUITO PIOR DO QUE ESTAR SOZINHO...

Sabe aquela sensação estranha que nos toma quando capotamos de cansaço enquanto lemos algo e, duas horas depois, acordamos com nossa mãe trazendo um celular que apita e não conseguimos mais dormir? É o que sinto agora. Uma sensação boa, uma solidão boa, uma impressão de não-pertencimento funcional, como se fizesse sentido não fazer sentido...

Estava sentado no sofá, sentindo esta estranheza boa, esta solidão não necessariamente entristecedora, quando lembrei desta pintura célebre do norte-americano Edward Hopper: “Hotel Room” (1931). Tão direta em sua mensagem. Tão bonita. Tão acolhedora, para além de sua tristeza aparente. Tão essencialmente realista e cinematográfica. Tão sensível... Edward Hopper (1882-1967) sabia como eu me sentia! E, não só por isso, ele ainda vai aparecer muitas vezes neste ‘blog’.

Wesley PC>

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

THAT’S WHY I’M LISTENING TO THIS AGAIN!

Num péssimo filme ‘gay’ que eu vi para descontrair ontem à noite [“Half a Person” (2007, de Adam Santangelo)], quatro jovens perguntam a si mesmos, durante uma viagem de ônibus pelo Canadá, quais são os seus ancestrais hominídeos favoritos. Para a minha surpresa negativa – e para a completa derrocada da verossimilhança emocional do filme – cada um deles respondeu com um ancestral pré-histórico humano diferente. E eu foquei sem imaginar o que diria numa situação semelhante (risos). Como estava ocupado com um trabalho de universidade, mencionado numa postagem anterior, voltei para as minhas atividades de digitação, enquanto ouvia um disco da banda alternativa nova-iorquina Interpol que alguns amigos e veículos de comunicação de massa respeitáveis haviam me recomendado: “Our Love to Admire” (2007). E, para além da genialidade taciturna das letras – que têm tudo a ver com o meu patético estado de existência – encantei-me deveras com as fotos belíssimas do encarte do disco, todas elas enfatizando uma forma de amor admirável que se encontra em carne viva na natureza: a necessidade de sobreviver. Eis o amor! Ótimo disco. Estou impressionado!

“Today my heart swings
Yeah, today my heart swings
But i don't want to take your heart
And i don't want a piece of history
No, i don't want to read your thoughts anymore, my god
'cause today my heart swings
Yeah, today my heart swings

(“The Heinrich Maneuver”, faixa 04)

Wesley PC>

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

E HOJE ELE VAI EMBORA COM DEUS... E EU FICAREI COM DEUS!

No primeiro episódio do filme coletivo “RoGoPaG – Relações Humanas” (1963), meu pai cinefílico Roberto Rossellini decifra-me, como ele costuma sempre fazê-lo, numa trama que tem tudo a ver com o que eu sinto agora: amar alguém da cintura para cima, prioritariamente!

Trata-se do episódio “Castidade” (“Illibatezza”, no original), em que um homem religioso que viaja muito apaixona-se perdidamente por uma aeromoça linda. Apaixona-se tão obcecadamente e tão platonicamente que, mesmo sabendo que jamais poderá tocá-la ou beijá-la, persegue-a, enche-a de presentes, ajoelha-se e suplica que ela converse um pouco consigo, mas ela tem uma vida, ela tem outros interesses, ela não tem nem tempo nem vontade de dedicar sua piedade àquele homem estranho que a persegue e que lhe é devoto. Um dia, ele desaparece. Ela sente, finalmente, falta dele e resolve fazer-lhe um agrado: pinta seus cabelos outrora imponentemente morenos de um loiro sensual e aceita um convite para jantar. Ao vê-la insinuante daquele jeito, ele – que há pouco estivera louco, internado, preso ou algo similar – foge, recusa o convite. Não é mais “ela” que está ali diante dele. E, na solidão de sua casa, ele projeta na parede imagens que captou dela, de forma proibitiva e invasiva, quando ela ainda era o ideal de beleza e pureza de que ele precisava. Que ele amava. Que ele amará para sempre...

Não sei se a sinopse mnemônica que redigi acima está correta (é como eu me lembro do filme, visto faz tempo), mas, do jeito que está, não parece sequer ficcional: conforme Roberto Rossellini costumava apregoar, a realidade venceu. E é isso que eu sinto. Ele viaja hoje. E eu já me corrôo com a mais idealista das saudades. Jamais poderei tocá-lo ou abraçá-lo, persigo-o, entupo-o de presentes, ajoelho e suplico-o que converse um pouco comigo, mas ele tem uma vida, outros interesses, não tem tempo nem piedade para dedicar àquele ser bizarro que o persegue e de que lhe é devoto. E, para mim, nada é em vão. "Vá com Deus", conforme tu mesmo dirias! E eu fico com Deus e com as lembranças eternas que me presenteou o teológico Roberto Rossellini...

Wesley PC>

COISAS QUE EU NÃO APRENDO – III: ESTUDAR E SE DIVERTIR SÃO FACETAS DIFERENTES DE UM MESMO PROCESSO!

Quem foi que disse isso?! Muitas das pessoas que já passaram por minha vida, desde a infância, disseram-lho... E recuso-me vivenciar isto neste exato momento, quando sou obrigado a escrever um artigo de 15 páginas sobre militância homossexual e movimentos sociais sergipanos, algo que faria voluntariamente e de olhos quase fechados, mas, no contexto obrigatório-acadêmico em que tal exigência se apresenta agora, pareço vitimado por aquilo que chama de “bloqueio criativo”. Digito, digito, e o resultado não me parece interessante, opaco até, o que é imperdoável, considerando-se a minha relação pessoal com o tema!

Ciente de tudo o que escrevi no parágrafo anterior, dei uma pausa para mim mesmo e ouvi o extraordinário disco de estréia do grupo ‘punk’ norte-americano Dead Kennedys: “Fresh Fruit for Rotting Vegetables” (1980), trinta e três minutos e três segundos de ‘hardcore punk’ de primeiríssima qualidade! E muito bem-humorado, acima de tudo, uma perfeita combinação entre sonoridades contagiosas e discurso político incisivo, conforme pode ser observado somente ao passar os olhos pelos títulos das canções, que vão da ironia extrema da abertura (aos gritos de “Kill, kill, kill the poor!”) ao cinismo da faixa final (uma regravação sarcástica do clássico perdulário “Viva Las Vegas”, popularizado por Elvis Presley naquele que talvez seja o filme menos incômodo que ele protagonizou).

“Zen fascists will control you
Hundred percent natural
You will jog for the master race
And always wear the happy face
Close your eyes, can't happen here
Big Bro' on white horse is near
The hippies won't come back you say
Mellow out or you will pay
Mellow out or you will pay”


A famosa “voz de desenho animado” do vocalista e compositor Jello Biafra adéqua-se magnificamente ao tom de protesto convulsivo de cada uma das canções, seja quando ele extravasa toda a sua fúria em refrões como os de “Drug Me”, “Chemical Walfare” ou “Holiday in Cambodia”, seja na magnificência politicamente contagiante de “California Über Alles”, recentemente utilizada de forma incidental – e, novamente, sarcástica – num filme do David Fincher. Estou agora ouvindo o disco pela segunda vez seguida e creio que estou pronto para enfrentar meu bloqueio criativo. Afinal de contas, definitivamente criatividade é o que não falta em “Fresh Fruit for Rotting Vegetables”. E originalidade protestante contagia!

California über alles
California über alles
Über alles California
Über alles Califórnia


Wesley PC>

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

COISAS QUE EU NÃO APRENDO – II: QUEM PERDOA, ESQUECE!

Digo mais: aqui não somente eu me recuso a aprender. Eu discordo da lição! Não creio nem preciso crer que o bloqueio da memória intensifique o apelo da bondade, conforme se costuma dizer por aí. Para mim, o perdão legítimo é aquele que é embasado na permanência das lembranças, que aceita a abnegação do orgulho, que está atrelado ao que de mais parecido eu entendo como amor. Sendo assim, não foi sem uma dose agradável de surpresa que eu assisti à cinebiografia “A Notável Bettie Page” (2005, de Mary Harron), há pouco, sobre uma pioneira norte-americana das fotografias de nudez que termina seus dias como pregadora cristã. Alguém a reconhece na rua e pergunta: “tu não te arrependes do que fizeste? Das inúmeras fotos de nudez que protagonizaste e difundiste?”. Ela responde: não, não me arrependo. Adão e Eva caminhavam nus pelo Paraíso. Eles só se vestiram depois que surgiu o pecado”. E eu fiquei contente porque a sua (re)conversão religiosa não foi mostrada de fora sarcástica. A diretora respeitou a personagem, demonstrando que sexualidade e fé não são excludentes. Não são!

Nesse ponto, eu acho perfeitamente possível que Robert Mapplethorpe (1946-1989), fotógrafo conceituado e pervertido que captou a imagem acima em 1978, numa de suas várias séries apologéticas ao sadomasoquismo homossexual, mantivesse práticas religiosas regulares em seu dia-a-dia. Já comentei noutra postagem que não acho de todo aberrante comparar a masturbação a uma prece. Como tal, não considero o inverso dissonante: foder e rezar soam-me tão básicos para o ser humano quanto comer e defecar. Chegam a ser inter-relacionados, aliás. Por isso, apesar de eu ter me incomodado com a abordagem superficial e um tanto conservadora da biografia da’ ‘pin-up’ estadunidense, identifiquei-me deveras com seu fervor católico sincero. Deve ser por isso que eu ando tão obcecado com fotos de minha própria nudez ultimamente. E eu perdôo, setenta e sete vezes sete – e até mais, se for preciso! – conforme pregou Jesus Cristo, mas não esqueço!

Wesley PC>

COISAS QUE EU NÃO APRENDO – I: O SERVILISMO É UMA DEMÊNCIA!

De um lado, o moço que quer atravessar a rua.
Do outro, a moça que come.
Entre um e outra, a paixão arrebatadora a partir de uma troca de olhares.
5 minutos apenas (ou nem isso)...
“Nuit Blanche” (2009, de Arev Manoukian)
E mais eu não posso falar.
Recomendo, sinto e não aprendo.
Recuso-me a aprender, aliás.
Obra-prima?
Não ousaria dizer, mas funciona!

Wesley PC>

ELE JÁ MORREU E, AO MESMO TEMPO, AINDA VAI MORRER... PARA SEMPRE, EM AMBOS OS CASOS!

“ – Não pensa mesmo fazer actividade política?
- Para dizer a verdade, tinha vontade de criar o MMP, Movimento dos Marginalizados do Processo. Como único programa, ser oposição ao futuro governo eleito, qualquer que seja. Porque marginalizados só podem ser oposição, nunca ganham eleições, mesmo sendo a esmagadora maioria da população. Se por um azar o Movimento conseguisse ter a maioria dos votos, o que correspondia a uma impressionante tomada de consciência do povo, dissolvia-se automaticamente, para não ser corrompido pelo uso do poder”.


O diálogo acima pertence a uma das penúltimas passagens do genial romance angolano “A Geração da Utopia”, de Pepetela. A fotografia foi registrada em 1865, por Alexander Gardner, pouco tempo antes de o modelo Lewis Payne ser enfocado por tentativa de assassinato. A combinação entre uma situação e a outra resumem bem como eu me sinto agora: “eles venceram e o sinal está fechado prá nós, que somos jovens”...

Wesley PC>

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

DE COMO EU JÁ ERA INFLUENCIADO ANTES DE SER CONFESSADAMENTE INFLUENCIÁVEL...

Antes de dormir, na noite de ontem, assisti a um episódio muito interessante do seriado de TV “Nip/Tuck”, sobre cirurgiões plásticos que se vêem emaranhados em tramas regadas a sexo e altas quantias monetárias, mas que invariavelmente descambam para a valorização da noção mais tradicional de amor familiar. Tratava-se de “Benny Nilsson”, nono episódio da sexta temporada, e o personagem-título era um adolescente sueco que queria ficar parecido com seu pai adotivo para que pudesse arrecadar mais dinheiro num tipo de festa privada em que eles praticavam sodomia incestuosa para prazer voyeurístico grupal. Entretanto, o que mais me chamou a atenção no episódio não foi sequer a condução do tema, cara ao polemicismo do criador Ryan Murphy (sim, ele mesmo, também responsável por “Glee”!), mas o extraordinário uso da trilha sonora durante as operações, que chega ao luxo de incluir “Father Figure”, segunda faixa do clássico disco “Faith” (1987), de George Michael.

Sobre “Father Figure”: esta é uma daquelas canções a que nos habituamos a ouvir com emoção redobrada desde criança, mesmo sem saber do que a letra fala. Baixei o disco ontem mesmo e repeti a faixa várias vezes seguidas. Não somente a interpretação do cantor, polêmico em suas demonstrações públicas de reivindicação sexual libertina (vide a faixa 3, “I Want Your Sex – Parts 1 & 2), é linda, como o próprio conteúdo desafiador da letra me cativou deveras. Poesia extremadamente passional de primeiríssimo quilate:

“That's all I wanted
Something special, something sacred
In your eyes
For just one moment
To be bold and naked

At your side
Sometimes I think that you'll never
Understand me
Maybe this time is forever
Say it can be

That's all you wanted
Something special, someone sacred
In your life
Just for one moment
To be warm and naked
At my side

Sometimes I think that you'll never
Understand me
But something tells me together
We'd be happy”


E, no refrão, o golpe de mestre: querido, eu serei tua figura paterna, ponha tua mãozinha sobre a minha. Eu serei teu professor e pregador, tudo o que tu tiveres em mente, pois já tive crimes suficientes e serei aquele que te ama até o final dos tempos! Assim mesmo, sem aspas, porque eu estou chocado em saber que gosto tanto do George Michael. Passei um bom tempo de minha vida desgostando de sua ‘persona’ midiático-exibitória e agora percebo que ele era um gênio das declarações passionais extremistas. Nada como rever conceitos (risos).

Wesley PC>

“NUNCA FUI BEIJADO” (28º EPISÓDIO DE “GLEE”) OU DE COMO EU SOU INFLUENCIÁVEL:

Creio que não serei o primeiro a comentar a ousadia sustentacular que bem se manifestando nos episódios da segunda temporada de “Glee”, mas confesso que, não obstante não estar mais tão empolgado como na primeira, os recursos de valoração personalística que o criador e roteirista homossexual Ryan Murphy vem adotando nos episódios recentes me surpreendeu: como se não bastasse mostrar duas garotas deitadas numa mesma cama enquanto se beijavam ou a tentativa de encenar numa escola juvenil um famoso musical da década de 1970 em que o protagonista é um travesti promíscuo, o seriado deu-se ao luxo de finalmente apresentar um beijo ‘gay’ masculino adolescente. O que eu jamais esperava ver em minha época de adolescência rejeitada agora é um fenômeno midiático trivialmente vendável. E, definitivamente, eu não consigo achar ruim! Quando aquele menino afetado adentrou o vestiário dos machões do seu colégio, irritado com o modo que lhe tratavam e gritou para o menino que mais lhe oprime com violência que este não fazia o seu tipo “por ser gordinho, suar bastante e estar quase calvo antes de ter 30 anos”, eu não esperava que este último beijasse-o à força, numa demonstração chavonada de que todo agressor homofóbico é um pederasta incubado. Não precisava disto. Porém, da forma como foi apresentado, a situação me foi espectatorialmente marcante. E calhou de aquele ter sido o primeiro beijo na boca do jovem afetado. Por que eu não vi este episódio com 15 anos de idade, meu Deus?!

Wesley PC>

domingo, 5 de dezembro de 2010

“A IGREJA É FRACA PORQUE OS HOMENS SÃO FRACOS. TODOS OS HOMENS SÃO FRACOS. INCLUSIVE ESTE”!

Esta é uma das falas finais do filme “Anjos e Demônios” (2009), mais uma deplorável demonstração da falta de talento como diretor polemista de Ron Roward e da minha completa falta de interesse em ler algo escrito pelo Dan Brown. Acabo de ver o filme e ainda estou enfastiado pela escuridão do mesmo, pelo roteiro contraditório (como é que um personagem se diz anti-vandalismo e permite o roubo de folhas sacras de textos seculares de Galileu Galilei?), pela modorra generalizada de sua produção como um todo. Porém, como é um filme que, em seu infinitésimo recôndito de racionalidade, instaura-nos um pouco de questionamento sobre o que seja Fé (assim mesmo, com inicial maiúscula), num dos diversos vãos do filme, enviei uma mensagem de celular para um garoto por quem sou apaixonado: “eis o que venho te dar/ eis o que ponho no altar/ toma, Senhor, que ele é Teu/ meu coração não é meu”. É uma canção do padre Zezinho – e, definitivamente, gosto mais do padre Zezinho que do Ron Howard!

Sei que deve ser comum defender a paixão mais recente como sendo superior a qualquer outro resquício similar que tenha havido no passado, mas um dos detalhes mais interessantes sobre esta manifestação platônica hodierna é que me sinto cada vez mais literato, inteligente e religioso depois disso: é como se, ao rejeitar-me compreensivamente enquanto ser vivo com ânsias carinhosas, o rapaz me conduzisse de volta a Deus, à Literatura, ao Cinema, às referências magnas que nunca abandonei. É como se o tal rapaz me fizesse estar em contato reiterado comigo mesmo o tempo inteiro. Por isso, ignorei quando dois de meus amigos disseram que ele parece um porco, um porco miyazakiano para ser mais preciso. Ele é lindo. Imperfeito, prosaico, arrogante, porém lindo mesmo assim!

Mas não é sobre ele que eu queria falar aqui: queria falar sobre o meu desamparo pessoal em relação às noções eclesiásticas mais básicas. Acredito que deva haver uma igreja? E uma Igreja? Creio em Pedro como o fundador básico do que hoje se entende, ao menos idealmente, como “casa do Senhor”? Sendo rosselliniano por excelência, eu não deveria me sentir tentado a tal? Não vi ainda o filme da foto (pretendo fazê-lo de hoje para amanhã), mas fica a dica: eu sou fraco, Jan Švankmajer é fraco, o menino-porco é fraco. Assim é que é bom!

Wesley PC>

“NÃO SE CONSEGUE 500 MILHÕES DE AMIGOS SEM FAZER ALGUNS INIMIGOS”.

Não tenho perfil no Facebook, por ora, não tenho vontade de fazê-lo, meus amigos não gostaram do novo filme do David Fincher, mas eu, definitivamente, quedo-me ainda perplexo diante do que vi: “A Rede Social” (2010) pareceu-me um filme difícil, cifrado, hermético, chato até, mas a cada segundo que passa, acho-o melhor, mais profético, mais funcional em sua denúncia, mais efetivo, mais genial, num sentido perigoso do termo, mas que deve ser louvado nem que seja pela incrível ousadia em fazer o que foi feito de um personagem real ainda vivo e ativo no planeta Terra. Aquela brilhante cena final jamais me sairá da cabeça: identificação é, definitivamente, algo realmente muito perigoso!

Segue crítica, a ser lida por quem já viu o filme.

Wesley PC>

O DINHEIRO EM FILME DE ROBERT BRESSON, O DINHEIRO EM MINHA CASA E O DEUS VIVO EM QUE ACREDITO:

Na manhã de hoje, vi finalmente “O Dinheiro” (1983), de Robert Bresson, um filme que há muito ansiava. Na trama, baseada em conto de Liev Tolstoi, um rapaz entrega uma nota falsa de 500 francos numa loja, gesto criminoso este tão simples, que, ao ser repetido várias e consecutivas vezes por várias pessoas, acaba por condenar um inocente trabalhador à prisão que, indignado pelo modo como o mundo o tratou, finda cometendo uma chacina, assassinando a família inteira da família que lhe deu guarita depois que ele sai da cadeia. Mais ou menos isso.

Como todos sabem, o diretor responsável pelo ótimo e doloroso filme acima é modernizador pascaliano, um indivíduo que crê na noção de “Deus invisível” e que, como tal, refuta sobremaneira, a tendência de algumas pessoas em converterem o dinheiro em “Deus vivo”, como o fazem alguns declarantes no filme acima citado. E, enquanto eu o assistia e ficava perplexo diante de suas cenas dramaticamente esfuziantes, minha mãe chorava, minha cadela se escondia sentindo dor nas costelas e meu irmão chutava com violência os móveis de seu quarto. Todos nós havíamos dormido após as 3h da madrugada hoje: ele enfrentara uma abstinência de ‘crack’, minha mãe impedia veementemente que ele saísse de casa e empenhasse bens pessoais a fim de conseguir a droga destrutiva, minha cadela Zhang-Ke roía o chinelo novo que ele comprara por R$ 60,00 e eu pelejava para dormir, depois de ter estudado algumas apostilas sobre redes sociais cibernéticas, para um seminário que terei que apresentar daqui a uma semana. Uma situação calamitosa como sou obrigado a enfrentar desde que me entendo por gente.

Quando liguei meu celular, percebi que uma pessoa muito querida precisou de um favor meu num instante em que eu não tinha como estar comunicativamente disponível. Pedi desculpas pelo acontecido, expliquei sucintamente as razoes de minha ausência e comuniquei-lhe que me ponho ao lado da mártir Joana d’Arc, quando obrigada a responder, amarrada à fogueira que a consumiria, se estava experimentando um momento de graça, apenas responde: se eu não estiver, que Deus me faça estar; se eu estiver, que Deus me conserve assim”. Faço minhas as palavras dela!

Wesley PC>