quinta-feira, 16 de abril de 2009

A FOME QUE NÃO SE COMPARA!


Uma das lembranças mais humilhantes (e reais) de minha infância deu-se numa época em que, desempregada, minha mãe pediu que eu e meu irmão caçula Rômulo fôssemos trocar uma jóia supostamente valiosa que ela possuía por comida, na casa de minha madrinha católica (hoje espírita), que possuía uma boutique doméstica. Ela não aceitou o anel que levávamos em mãos e presenteou-nos com um balaio de comida.

Na época, eu ainda comia carne. O “milagre do frango” que veio atrelado ao Plano Real de Fernando Henrique Cardoso não havia se dado e minha mão esquerda ainda não possuía as cicatrizes históricas que hoje a constituem. O que mais me fazia sentir vergonha era tentar vender ou trocar algo, mas pedir nunca me foi problema. E, enquanto isso, as imagens aterradoras de fome na África que víamos nos aparelhos televisivos das casas de vizinhos mostravam que existem pessoas piores do que nós, que sempre podemos nos flagra vítimas de alguma espécie de egoísmo auto-implicado. Como eu sempre pergunto, imitando as palavras de Renato Russo, “a culpa [maior] é de quem”? Dos meios de comunicação de massa, que transformam a dor dos outros em espetáculo, ou do meu anti-hábito contumaz e não-exclusivo de legitimar tal tendência?

Wesley PC>

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