segunda-feira, 13 de abril de 2009

PENETRANDO (OU SENDO PENETRADO POR) UM SUBJETIVISMO MUSICAL


Sempre disse que gosto muito do grupo pernambucano Mundo Livre S/A. Gosto mesmo! Porém, ao ouvir cuidadosamente o álbum “Por Pouco” (2000), na manhã deste domingo de Páscoa, percebi que algo bairrista nas letras do grupo me incomoda, mas não impede que eu continue a gostar muito da sonoridade da banda. Qual não foi a minha surpresa (negativa) ao deparar-me com os versos “O samba não é do Gugu/ O samba não é Faustão” na letra de “O Mistério do Samba”, faixa que abre o disco: puxa, eu faço tanta questão de evitar falar nestes subprodutos da Indústria Cultural e, de repente, eis-me aqui ouvindo sobre eles numa banda conhecida por sua “alternatividade”! Confesso que senti um baque inicial, mas logo me acostumei com a idéia e talvez tenha entendido o sentido da comparação identitário sobre o que não é o samba!

Na faixa 03, título do álbum, escuto coisas como “por pouco, não trouxemos o penta”, “a moca da banheira ficou quase nua” e “por pouco, não ganhamos o Oscar”. O baque decepcionante contra esse tipo de subjetividade bairrista voltou! Na faixa 05, “Melô das Musas”, escuto que o eu-lírico da canção procura e venera “uma mulher com W [maiúsculo], uma mulher como Wânia”. Já estava acostumado: daí por diante, quando me deparei com canções nomeadas como “Meu Esquema” (que se inicia com os versos “Ela é meu treino de futebol/ ela é meu domingão de sol”) ou “Minha Galera” (tornada antológica quando regravada por Manu Chao), sabia que estava diante de um disco subjetivo, quase tão pessoal quanto os textos que despejo diuturnamente aqui neste ‘blog’, mas nem por isso desinteressante num sentido global. Por isso, insisto: gosto muito, muito mesmo, do Mundo livre S/A!

“Mas como já dizia um velho casca:
A merda dos trabalhadores é sua alma inútil.
Eu tenho uma alma que deseja e sonha,
Mas como já dizia um velho casca:
A alma de um trabalhador é como um carro velho:
Só dá trabalho!”


(“A Bola do Jogo”, do álbum “Samba Esquema Noise”, de 1994)

Wesley PC>

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