quinta-feira, 16 de abril de 2009

A IRRELEVÂNCIA DAS PRIMEIRAS OU SEGUNDAS INTENÇÕES E A ESPÚRIA “CLASSE TRABALHADORA”


Ontem à noite, estive conversando com Rafael Maurício se era relevante ou não que, ao fazer algo, eu estivesse pondo em voga primeiras ou segundas intenções. Exemplo: ajudei-o a pôr o reprodutor de DVDs para funcionar porque fico feliz quando ele assiste aos filmes que empresto (intenção primária), mas, por outro lado, fiquei feliz em passar aquele tempo a seu lado pois cada minuto próximo deste menino é uma experiência paradisíaca (intenção secundária). Como o aparelho reprodutor de DVDs fica alojado no quarto em que ele dorme, aproveitei a oportunidade para consumir alguns de seus cheiros humanos (intenção terciária), o que me leva a uma intenção quaternária, que é... Acho que já deu para entender o sentindo evolutivo do texto (risos)!

Vem, então, uma pergunta: independente de qual seja a intenção (porventura oculta) em voga durante o favor eletrônico, ela desautoriza a minha ação? Ao invés de responder, parto para um segundo exemplo: “Arroz Amargo” (1948, de Giuseppe de Santis) é o nome de um filme neo-realista “feliz”, cuja intenção primária era denunciar as precárias situações de trabalho das trabalhadoras de arrozais nas planícies da Itália setentrional. Porém, como “cinema é uma arte cara”, o filme precisava arrecadar dinheiro nas bilheterias (intenção secundária ou pré-primária?) e, para tanto, a amostragem repetitiva das pernas descobertas das atrizes era um estratagema válido. Na trama do filme, o conflito entre intenções primárias e secundárias ou inclassificáveis ordinalmente também se dá: a protagonista Francesca (Doris Dowling) tenta se esconder depois que seu namorado (um belo, jovem e traiçoeiro Vittorio Gassman) rouba algumas jóias no hotel em que ela trabalhava. Entra num trem onde as trabalhadoras se deslocarão até os arrozais em que trabalharão (intenção primária), mas, depois de alguns desencontros, ela é admitida como clandestina no arrozal e se torna uma espécie de líder feminina nata (o que passa a ser a nova intenção primária), até que o namorado patife reaparece e acrescenta novos conflitos à trama. O que acontece em seguida é muito importante, mas é melhor ser visto no filme do que lido aqui...

Em dado momento da trama, há um conflito entre trabalhadoras oficialmente contratadas e clandestinas, o que me fez lembrar de alguns pseudo-conflitos de que me fizeram participar enquanto contratado terceirizado numa instituição pública, o que, na época, me pareceu pouco relevante por trazer à tona interesses de caráter estatal, visto que minha relação com o sindicalismo pró-salarial me é amplamente negativa. Fico tão chateado quando vejo alguém ser defendido ou laureado apenas por ser “trabalhador”! O que é um trabalhador? Uma pessoa que exerce uma função salarial, no contexto mais comumente defendido, o que de nada parece valor de caráter. É tão estranho quando vejo algum suspeito criminal defendendo-se das acusações a que fora submetido com o argumento precário de que “é trabalhador”... Estou desempregado agora, mas, quando empregado, não enxergava nada que me impedisse de cometer graves infrações policiais, exceto, é claro minha predisposição ético-moral em não cometê-las. Sendo assim, não creio mais numa defesa abstrata da classe trabalhadora conforme insistem alguns socialistas anacrônicos, ao passo em que não me sinto em nada envergonhado de pautar todas as minhas ações por intenções múltiplas, que, se são comumente reveladas e/ou posteriormente descobertas, é porque sempre faço questão de deixar todas as minhas ações às claras...

Wesley PC>

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