sábado, 18 de abril de 2009

Lendas e Sonhos IV – Minha Amada Imortal


Termino esta série com um filme extraordinário. Minha Amada Imortal de Bernard Rose. Talvez um filme já bem conhecido de vocês. Relembrando, nele, Beethoven ao morrer deixa um testamento, deixando todos os seus bens a uma “amada imortal” desconhecida junto com algumas cartas. Um de seus amigos investiga então a vida de Beethoven, descobrindo uma nova face do compositor, é uma ficção, mas as cartas existiram.

Pesquisando, achei dois trechos de suas cartas. Aí estão:

Manhã de 6 de Julho

Meu anjo, meu tudo, meu eu... Por que esta profunda tristeza quando é a necessidade quem fala? Pode consistir nosso amor em outra coisa que em sacrifícios, em exigências de tudo e nada? Esqueceu de que você é não é inteiramente minha e de que eu não sou inteiramente seu? Oh, Deus! Contempla a maravilhosa natureza e tranqüiliza seu ânimo na certeza do inevitável. O amor exige tudo e com pleno direito: eu para com você e você para comigo. No entanto, duvida tão facilmente que eu tenho que viver para mim e para você. Se estivéssemos completamente unidos, nem você nem eu estaríamos nos sentindo tão desolados. Minha viagem foi horrível... Alegre-se, você é o meu mais fiel e único tesouro, meu tudo como eu para você. No mais, que aconteça o que tenha que acontecer e deva acontecer; os deuses saberão o que fazer... Tarde de segunda-feira. Você sofre. Ah! Onde estou, também ali está você comigo. Tudo farei para que possamos viver um ao lado do outro. Que vida!!! Assim!!! Sem você... perseguido pela bondade de algumas pessoas, que não quero receber porque não as mereço. Me dói a humildade do homem diante do homem. E quando me acho em sintonia com o Universo, o que sou e quem é aquele a quem chamam o Todo Poderoso? E sem dúvida... aí então aparece de novo o divino do homem. Choro ao pensar que provavelmente não receberá minha primeira carta antes de sábado. Tanto como você me ama, muito mais a amo!... Boa noite! Devo ir dormir. Oh, Deus! Tão perto! Tão longe! Não é nosso amor uma verdadeira morada do céu? E tão sólido como as muralhas do céu?

7 de Julho


Bom dia! Todavia, na cama se multiplicam meus pensamentos em você, minha amada imortal; tão alegres como tristes, esperando ver se o destino quer ouvir-nos. Viver sozinho me é possível, ou inteiramente com você, ou completamente sem você. Quero ir bem longe até que possa voar para os seus braços e sentir-me num lugar que seja só nosso, podendo enviar minha alma ao reino dos espíritos envolta em você. Você concordará comigo, tanto mais conhecendo minha fidelidade, e que nunca nenhuma outra possuirá meu coração; nunca, nunca... Oh, Deus! Por que viver separados, quando se ama assim? Minha vida, o mesmo aqui que em Viena: sentindo-me só, angustiado. Você, amor, me tem feito ao mesmo tempo o ser mais feliz e o mais infeliz. Há muito tempo de que preciso de uma certeza em minha vida. Não seria um definição quanto ao nosso relacionamento? Anjo, acabo de saber que o correio sai todos os dias. E isso me faz pensar que você receberá a carta em seguida. Fique tranqüila. Contemplando com confiança nossa vida alcançaremos nosso objetivo de vivermos juntos. Fique tranqüila, queira-me. Hoje e sempre, quanta ansiedade e quantas lágrimas pensando em você, em você, em você, minha vida, meu tudo! Adeus, queira-me sempre! Não duvide jamais do fiel coração de eu enamorado Ludwig. Eternamente seu, eternamente minha, eternamente nossos.

Bem para terminar esta série, apenas uma consideração: Ela uma lenda, ele um sonho!

Wendell Bigato
[Invasão nº15-D]

5 comentários:

Pseudokane3 disse...

Vi e revi este filme faz tempo...

lembro que fiquei impressionado com as aparições da Isabella Rossellini, com o modo como o ótimo protagonista vivido por Gary Oldman trata um suposto filho (que se suicida, se não me engano) e com a revelação tardia e sub-reptícia de que "amadas imortais" podem muito bem ser uma coletânea de mulheres... Um estado de espírito compartilhado ao longo de vários seres...

Oh, Deus, concordo eu ao ler estas cartas... Oh, Deus!

WPC>

Unknown disse...

Assim Wesley, quanto a especulação, não sei se sua, ou de alguma outra pessoa, quanto a pluralidade de "amada imortal", no filme me pareceu apenas uma, da qual as "outras" não chegaram a surtir tanto efeito. Bem, mas cada um dá a conotação que quer, a minha preferida é a de unicidade mesmo...

Gomorra disse...

Eu vi o filme há duzentos anos atrás...

È que tenho discordãncias com ele... E, dentro do contexto narrado, achei desconexa a tal unicidade, em que acredito e na qual não duvido...

Só revendo o filme mesmo, com olhos menos taxativos (risos)...

Mas concordo, concordo...

Sim, eu concordo!

WPC>

Pseudokane3 disse...

Passei a madrugada pensando neste filme e em tu e no conceito que tu defendeste a partir dele e... Vamos lá, confissão: eu não acho esta obra taõ extraodrinária quanto tu. Aliás, até gosto do filme, mas acho-o irritante no plano conteudístico, antipatizei-me deveras com o personagem principal e, talvez por causa disso, recusei a tese monogãmica que o filme tentou me apresentar e que, dadas as circunstâncias apresnetadas, não me convenceram... Não gosto ou não acredito em gente orgulhosa, cheia de caprichos... Por mais que sinta e me possua pela dor/indignação do momento em que se descobre/percebe surdo, não defenderia o Beethoven (como pessoa) se ele fosse meu contemporâneo...

Mas, como disse, vi e revi o filme faz tempo... Preciso de uma segunda opinião...

Mas, á época, foi isso o que vivenciei: indignação e discordãncia...

Como bem disseste, "cada um dá a conotação que quer"... A minha foi negativa.

Mas respeito e confio na tua... E quero acreditar, quero e preciso...

Beijão, moço!

WPC>

Unknown disse...

Tipo, eu acho que o filme não quis defender uma tese monogâmica, até porque não houve monogamia na história. O que para mim o filme quis passar foi a idéia de um amor suficiente. De duas pessoas que estavam separadas por circunstâncias da vida, mas que juntas seriam completas, complementares, suficientes. Que foi o que o Beethoven quis passar nas cartas, mesmo talvez não sendo os mesmos planos de sua "amada imortal".