terça-feira, 14 de abril de 2009

AMOSTRAGEM EXPERIMENTAL DE UMA DITADURA DO ANARQUISMO


Sendo intermitentemente perturbado pela memória falada de um membro da platéia do debate entre chapas estudantis concorrentes que presenciei na noite de ontem (mais precisamente, quando alguém falou que “ao contrário do que os remanescentes do antigo DALH pensam, não se pode implantar a democracia a pulso”), revi, hoje pela manhã, o clássico experimental “Imperador Tomate Ketchup” (1971, de Shuji Terayama), em que crianças oprimem adultos e implantam um regime de muito sexo e violência, inicialmente reivindicativa e posteriormente gratuita em sua rebeldia impositiva. Nalgumas cenas (vide foto), meninas são espancadas pelo mero prazer de deleitarem os militares pueris que aguardam do lado de fora; noutra cena, um garotinho de mais ou menos 10 anos é violentamente seviciado por uma prostituta bem mais velha, numa cena radicalmente explícita, em que a criança vitimada precisa proteger com toda a cautela possível seu ainda pequeno pênis. Noutra seqüência, dois soldados adolescentes gastam minutos a fio num jogo crescente de “pedra, papel, tesoura”, machucando-se reciprocamente com todos os objetos que encontram disponíveis, desde tijolos e pneus até cordas e pedaços de ferro. Tudo assim, sem qualquer explicação ou motivo.

Numa das primeiras seqüências do filme, percebemos uma criança folheando uma enciclopédia. Este risca com um X as imagens de Mão Tsé-Tung, Marlene Dietrich, Benjamin Franklin, Napoleão Bonaparte e diversos outros políticos célebres e/ou astros e estrelas do entretenimento. Dali por diante, esta criança será o poder, dali por diante, ele será o imperador do título, mostrado com um bigode falso ao final, depois de passar por inúmeras experiências de forte sexualização. O filme foi obviamente proibido no Japão no mundo e abriu espaço para diversas gerações de artistas experimentais, que abordaram realidades políticas contraditórias por vias simbólicas muito difíceis de serem compreendidas ou entendidas, apenas rechaçadas, o que nos leva de volta àquele dilema básico: faz sentido se pensar em revolução quando não pensamos na substituição pretendida do sistema que acaba de ser derrubado? Eu tenho a minha resposta, mas esta ainda está em progresso e talvez só faça sentido quando aplicada em nível individual. Sou um filho do pós-pós-modernismo, representatividade eleitoral democrática definitivamente não é comigo!

Wesley PC>

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