terça-feira, 14 de abril de 2009

RADIOGRAFIA DO POPULISMO, AOS 10 ANOS DE EXISTÊNCIA DE MINHA MÃE


Revendo agora “Sai da Frente” (1952, de Abílio Pereira de Almeida), primeiro longa-metragem protagonizado por Amácio Mazzaropi, fui transportado multi-situacionalmente a uma era de populismo bem-aceito, em que, depois de exercer um mandato ditatorial e ser deposto, Getúlio Vargas fora eleito presidente e ainda agradava os trabalhadores e sertanejos do Brasil. Em diversas cenas do filme, percebemos quadros deste presidente, que se suicidaria dois anos após a realização do mesmo. Em diversos momentos do filme, o cachorro do protagonista saúda Getúlio Vargas. Em diversos momentos do filme, percebemos que a simplicidade é defendida como sendo uma qualidade não-demeritória, visto que um caminhoneiro pode muito bem saber que abada é sinônimo de rinoceronte. Enquanto isso, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, produtora do filme, se iludia com os “milagres industriais” em voga na época, tentava imitar sua franca concorrente estrangeira Hollywood e naufragava em dívidas, até que, dois anos e 13 filmes irregulares depois, faliria por completo, declararia bancarrota e cederia seus estúdios a aluguéis baratos para filmes posteriores, igualmente irregulares. Permaneceriam as saudades daquelas críticas burlescas e disfarcadamente ingênuas à burocracia (em que pessoas simples precisavam entrar na fila para entrarem na fila para conseguirem um atendimento médico), à fidelidade marital (em que anjos de guarda que têm medo de acidentes automobilísticos remetem a cadelas doentes para impedir um adultério circense) e à própria cumulação narrativa (visto que o roteiro do filme é constituído por uma série de ‘gags’ que inicialmente não parecem guardar relação umas com as outras). Enquanto isso, Getulio Vargas “saía da vida para entrar na História”...


“Se a simples renúncia ao posto a que fui levado pelo sufrágio do povo me permitisse viver esquecido e tranqüilo no chão da pátria, de bom grado renunciaria. Mas tal renúncia daria apenas ensejo para, com mais fúria, perseguirem-me e humilharem-me. Querem destruir-me a qualquer preço. Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas. Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor, não dos crimes que não cometi, mas de poderosos interesses que contrariei, ora porque se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos humildes. Só Deus sabe das minhas amarguras e sofrimentos. Que o sangue dum inocente sirva para aplacar a ira dos fariseus..."



Wesley PC>

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