segunda-feira, 23 de março de 2009

O SILÊNCIO


“Foi a primeira coisa que existiu
Um silêncio que ninguém ouviu
Astro pelo céu em movimento
E o som do gelo derretendo,
O barulho do cabelo em crescimento
E a música do vento
E a matéria em decomposição
A barriga digerindo o pão,
Explosão de semente sob o chão”...
(Arnaldo Antunes)

Poucas coisas me assustam mais do que o silêncio. O silêncio que parte da ignorância me assusta ainda mais. A combinação entre os dois me apavora tanto que foi daí que herdei este meu desprezo contumaz pelas noções típicas de privacidade. Não é algo que eu saiba respeitar de imediato, gosto de ver e saber, mesmo quando não me é permitido e, por isso, fico triste, muito triste, quando vejo qualquer coisa ser destruída por completo – em especial quando foi algo que eu fiz ou falei, mesmo que seja errado, vazio, gratuito, redundante, malévolo... Uma das poucas coisas a que anseio neste mundo contraditório é a preservação, nem que seja a preservação das burradas que cometo!

Pois bem, minhas palavras estão sendo apagadas... E livros foram queimados na Alemanha nazista na década de 1930. Adaptando um clássico da ficção científica escrito por Ray Bradbury, o genial cineasta François Truffaut, na sua obra-prima “Fahrenheit 451” (1966), apresenta-nos a uma sociedade totalitária, em que, com o espúrio fim de manter todas as pessoas igualadas (por baixo), livros são destruídos. Militantes surgem, defendendo a necessidade de preservá-los, contra a vontade dos chefes dos Bombeiros. “Todos os livros devem ser destruídos – todos!”, diz ele, enquanto empunha uma cópia de “Minha Luta”, escrito por Adolf Hitler. A câmera toma partido, dizendo que NÃO... e eu escrevo, insisto!

Wesley PC>

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