sábado, 28 de março de 2009

SOMBRA E DIVINDADE


DIÓGENES: Esse aí não é Heraclés?! Não pode ser outro, por Heraclés!- o arco, o porrete, a pele de leão, a estatura... é todinho Heraclés. Então, Heraclés, mesmo sendo filho de Zeus, tu estás morto? Dize-me, ó belo vencedor, tu estás morto mesmo?! É que, eu, na terra, te oferecia sacrifícios, como a um deus.
HERACLÉS: E o teu sacrifício era correto, pois Heraclés, em pessoa esta no céu e possui Hebe, de belos pés; eu sou a sombra dele.
DIÓGENES: Como é que é isso?! Sombra do deus?! E é possível alguém ser deus pela metade e estar morto pela metade?
HERACLÉS: Sim. Na verdade ele não morreu, mas sim eu, a sombra dele.
DIÓGENES: Entendo, Ele entregou a Plutão, como um sósia, em lugar dele; e tu, agora, estás morto em lugar dele.
HERACLÉS: É mais ou menos isso aí.
DIÓGENES: E como foi que Éaco, que é minucioso, não reconheceu que tu não eras ele, e acolheu um suposto Heraclés aqui presente?
HERACLÉS: É porque eu era perfeitamente parecido.
DIÓGENES: É verdade o que estás dizendo. És tão perfeito, a ponto de tu seres ele. Toma cuidado, então, para que não seja o contrário: O Heraclés és tu, e a tua sombra se casou com Hebe, lá dentre os deuses...

(...)

Recorte de Dialogo dos Mortos de Luciano de Samosata

Somos divindade e sombra, assim como Heraclés. Eis que pergunto, quando somos sombra? Quando somos divindade? É fácil a confusão.

Este é um texto dedicado a Wesley, sombra e divindade, melancolia e alegria. Faça como na imagem acima, olhe para si mesmo para que nunca deixe a sua sombra sobrepor a sua divindade, caro amigo. Então para fechar essa pequena homenagem a pessoa quase nunca citada neste blog (apenas auto-citada), deixo uma música que é a sua cara, tanto pelo seu passado religioso quanto porque creio que esta fala exatamente da forma de sua divindade.




Wendell Bigato
[Invasão nº 6]

Um comentário:

Pseudokane3 disse...

Wendell, Wendel...

Glupt!

Bem que disseste que eu não perderia por esperar...

Nem sei se posso me dar ao luxo de comentar ou agradecer ainda qualquer coisa, mas... Vai lá:

a) em primeiro lugar, um largo agradecimento pelo uso do Francisco de Assis. Sim, não somente meu passado foi religioso (no plano institucional), como meu presente ainda o é, no plano da abnegação e dos atos crentes, como bem demonstrou este exemplo italiano representado em texto...


b) Quer dizer que é disso que se trata o livro de que tanto tu e tua irmã falam, tão apaixonadamente? Juro que estou cá, absorto, inane, Portishead tocando no rádio e eu tentando esboçar qualquer reação além da perplexidade... Puxa... Juro que tento sobrepor-me á minha própria sombra, mas... É difícil, caro amigo com o Infinito como antonomásia nomenclatural, é difícil... Mas, graças a surpreendentes (ou melhor, esperadas, já que tu és uma pessoa encantadora) atitudes como esta é que eu penso que talvez tenha uma chance, tímida, curtinha, mas selvagem e sôfrega como tudo o que faço e penso...

Depois eu volto aqui, depois eu te escrevo direito...

Preciso me recompor.

OBRIGADO, sinceramente Obrigado. Atingiste-me em cheio!

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