domingo, 22 de março de 2009
CARTA ABERTA PARA MEU AMIGO WENDELL
Querido amante da Física (e demais interessados),
Conforme prometido a mim mesmo, realizei hoje à tarde um verdadeiro sonho de infância: finalmente vi o clássico “Solaris” (1972, de Andrei Tarkovsky), filme concebido como resposta intelectual russa ao marco supremo da ficção científica cinematográfica “2001: Uma Odisséia no Espaço” (1968, de Stanley Kubrick). Para além de ficar tecendo vãs comparações entre ambos os filmes, eu suplico-te: busque este filme, veja-o! Até agora estou impressionado em como o roteiro alia um discurso em defesa da observação ética e respeitosa do Cosmos à sobrevaloração do amor como sentimento indispensável para a sobrevivência terrena (e interestelar) do ser humano, como sendo o sentimento que, por sua intensidade, nos faz até querer abandonar a pretensa certeza das verdades científicas. Preciso que tu vejas isto, preciso conversar contigo sobre isto, tu precisas ver (e sentir) isto!
Utilizando referências cinematográficas que vão de Leon Tolstoi a Johan Wolfgang von Goethe, o ponto filosófico-existencial máximo deste filme está no uso de um discurso de Sancho Pança (fiel ajudante do “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes) sobre o sono, que, se é positivo por igualar tanto plebeus quanto nobres, tem como aspecto negativo assemelhar-se demasiadamente à morte.
“Amor, eu quando penso no mal que tu me dás,
Terrível, forte, alegre corro à morte,
Para assim acabar meu mal imenso.
Mas quando chego ao passo,
Que é meu porto no mar desta agonia,
Sinto tal alegria que a vida se revolta e não o passo.
Assim o viver me mata, pois que a morte me torna a dar a vida!
Condição nunca ouvida, a que comigo vida e morte trata!”
Queria poder falar mais e mais sobre esta verdadeira obra-prima, sobre este achado artístico, sobre este primor inqualificável de tão perfeito e aparentemente hermético, mas, a fim de não atrapalhar a tua descoberta, apenas repito: veja o filme! Veja o filme! Veja o filme... e ame sempre, acima de tudo!
Wesley PC>
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