sábado, 28 de março de 2009

É POSSÍVEL FICAR TRISTE APÓS UM FILME ERÓTICO?


Se este for dirigido por um gênio (ainda que perverso), sim. E é nesta categoria adjetiva que o italiano Tinto Brass se enquadra e foi assim que eu me senti após a audiência a “O Voyeur” (1993), uma de suas obras mais enigmáticas, por mais que todas as suas marcas registradas estejam lá: vaginas muito peludas e pênis artificiais eretos sendo mostrados em ‘close-ups’ de 30 em 30 segundos; senso de humor permeado pelo sarcasmo e pelas indiretas de cunho político; gente lasciva, em que toda e qualquer atividade é um pretexto para fazer sexo, ou, no mínimo, tirar toda a roupa e masturbar-se publicamente; gozos, gemidos, a trilha sonora gritante de Riz Ortolani... Está tudo lá! Mas, por ser baseado num romance do autor existencialista Alberto Moravia, “O Voyeur” é um filme que angustia!

Por mais que seu enredo tenha a pretensão evidente de deixar nossos paus ou bocetas tão intumescidos ou lubrificados, respectivamente, quanto aqueles mostrados insistentemente no filme, ao ser baseado num romance existencialista de Alberto Moravia, não tem como não nos sentirmos um tanto amargurados após a projeção do filme. Vejamos a trama: Eduardo (vivido e mostrado pelo sensual Francesco Casale) é um professor de literatura francesa constantemente angustiado por causa do abandono de sua esposa, com quem tem delírios eróticos freqüentes e muito demorados. Numa de suas aulas, conhece uma estudante do Congo (atual Zaire) infibulada, ou seja, com o clitóris arrancado, a qual ele acompanha até sua casa e, quando estava prestes a fecundá-la (vide foto), é surpreendido pela amante fotógrafa britânica da mesma, que faz sexo em sua frente, enquanto ele fotografa ambas as mulheres num ato de felação simultânea. Em sua própria residência, Eduardo conversa com a cínica enfermeira de seu pai, que, mesmo doente, não tem o menor pudor em exibir seu enorme e opressor falo, em perene estado de ereção.

Mais do que ser um fodedor ou um escopofílico (como o título ou o gênero do filme parecem indicar), Eduardo é um personagem que sofre e que vive preso a fantasias eróticas que nem sempre lhe confortam ou lhe dão prazer (já que, quase sempre, ele é interrompido antes do gozo). Numa das cenas mais brilhantes do filme, ele é mostrado percorrendo uma praia em que todas as modalidades pornográficas (inclusive andro-homossexuais) são praticadas. E, se o tal personagem sofre, é porque ele ama e está apaixonado, eternamente apaixonado, pela esposa que o abandonou, mas que está sempre ao seu lado, usando calcinhas que servem para qualquer coisa, menos para cobrir sua genitália capilar.

Acho que é suficiente o que falei para indicar o filme. Vejam Tinto Brass. Ele é genial e, se serve de consolo, possuo algumas de suas maravilhas em formato dvix. Se alguém se interessar, é só marcar a sessão e preparar as lágrimas e ejaculações, não necessariamente nesta ordem...

Wesley PC>

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