segunda-feira, 29 de junho de 2009

28 DE JUNHO DE 2009: OU SEJA, 40 ANOS DEPOIS!


Exceto por aniversários de morte ou nascimentos, não sou muito dado a comemorações. Acho que as mesmas tendem a obscurecer o que está sendo comemorado, quando não se questiona adequadamente o que ou por que está se comemorando. Entre os meses de junho e julho, porém, como é sabido de todos, o mundo é inundado por passeatas de suposto orgulho Gay, mas esqueceram de mencionar que ontem, véspera de São Pedro no Brasil, completavam 40 anos da famosa rebelião de Stonewall, ocorrida em 28 de junho de 1969, quando os freqüentadores habituais de um bar predominante ‘gay’ nova-iorquino protestaram contra a hostilidade da vizinhança e da polícia local e foram espancados por dias a fio, resistindo bravamente, numa data que tornou-se histórica por seu pioneirismo, dado que, até então, conforme bem demonstrou o filósofo francês Guy Hocquenghem, autor do famoso livro “A Contestação Homossexual”, os homossexuais temiam serem visto como uma unidade coesa, crentes de que, assim, seria mais fácil para a sociedade exterminá-los enquanto classe espúria. Em Stonewall, na data destacada, a urgência e a fúria foram mais forte que o medo e os homossexuais resistiram! Hoje, a passeata do orgulho Gay, em muitos lugares, é usada como mera vitrine para bundas bem torneadas de homens afetados e nus. Valeu a pena o incentivo libidinal?


Em seu polêmico livro, Guy Hocquenghem atesta a dificuldade em reunir homossexuais por uma causa num mesmo local, dado que, ao invés de se reconhecerem enquanto entidade política e/ou revolucionária, estes se confundiam através de comportamentos promíscuos, usando as reuniões discursivas apenas para encontrarem novos casos sexuais. Por este motivo, a pretendida FARH (Frente de Ação Revolucionária Homossexual, surgida na França, no conturbado maior de 1968) teve duração curta enquanto órgão coletivo, funcionando clandestinamente, graças às ações insistentemente ativistas de alguns indivíduos. Por outro lado, as imagens vergonhosas (no que diz respeito à coerção policial) e orgulhosas (no que diz respeito à comunhão causal dos ‘gays’ e lésbicas presentes ao local) da chamada Revolução de Stonewall tornaram-se ícones decisivos para as reivindicações mais sérias de homossexuais, tanto que são utilizadas na abertura da emocionante cinebiografia do político Harvey Milk, dirigida pelo justificadamente incensado Gus Van Sant. O exemplo foi dado!

Há alguns anos, tive a estranha honra de poder presenciar uma suposta passeata do Orgulho Gay em Sergipe. Entre a participação ao vivo da banda Carcacinha do Pagode e a execução em rádio de algumas músicas dançantes, gargalhadas eram emitidas sempre que ‘drag queens’ convenientemente exageradas molhavas as pessoas da platéia com um jato de perfume. Os alto-falantes do evento eram utilizados somente para divulgar festividades pagas, em hotéis ou boates de luxo. Nada foi dito sobre legislações favoráveis á causa ‘gay’ ou a atividades que pudessem ser praticadas ali mesmo, a fim de atenuarem o preconceito da sociedade. Na época, estava em moda o termo “dinheiro rosa”, que dizia respeito à consideração crescente, por parte de setores econômicos, do público homossexual como consumidor de luxo, o que explica a proliferação de guetos mercadológicos para quem costuma se apaixonar por alguém do mesmo sexo. Protesto que era bom...

Ao menos, a proto-namoradinha que estava comigo à época conheceu uma lésbica graciosa na praia, que lhe valeu agradáveis experiências eróticas antes de adentrar a vida clerical, enquanto eu, alguns anos depois, penetraria numa boate ‘gay’ os 26 anos de idade e me depararia com uma platéia consolidada por adolescentes, que se enfurnavam na escuridão pra beijarem desinteressadamente diversos parceiros sexuais, a maioria desconhecidos até então. Na ocasião, agarrei um menino chamado Lucas. Nunca mais o encontrei. De que (me) valeu?

Wesley PC>

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