sábado, 4 de julho de 2009

“QUANDO TU UTILIZAS A ARTE PARA ACERTAR AS CONTAS COM SUA PRÓPRIA VIDA, JÁ NÃO É MAIS ARTE!”


Assim diz Christine (Claude Jade), a esposa do protagonista de “Domicílio Conjugal” (1970, de François Truffaut), neste que é o quarto e penúltimo filme da Pentalogia Antoine Doinel, protagonizada por Jean-Pierre Léaud entre os anos de 1959 e 1979. Neste filme, Antoine Doinel está casado. Pode-se dizer que ele é feliz. Discute eventualmente com a esposa e com os vizinhos, mas é feliz. Diversas situações chamam a sua atenção, mas ele concentra-se no afeto que sente por sua esposa, somente contrabalançado por um amor problemático de adolescência que ele jamais conseguiu esquecer. Até que uma japonesa entra em sua vida e diz que ele “é o tipo de pessoa com quem valeria a pena cometer suicídio junto”. Conseqüência: ele se interessa pela imigrante oriental exótica, mas logo sente saudades de sua mulher, que descobre o caso e ameaça se separar dele. Mais detalhes, somente vendo o filme. Ou melhor: os 5 filmes da cinessérie!

Uma das coisas que mais me impressionam no estilo (ou deveria dizer “estilos”?) cinematográfico de François Truffaut é o quanto ele consegue ser extremamente pessoal em cada um de suas obras. Parece que ele não obedece a regra ou convenção nenhuma, salvo a sua própria paixão em contar uma estória que diga respeito a situações que aconteceram em sua vida. Por este motivo, por mais que me identifiquemos com as tramas, situações e personagens de seus filmes, sempre fica a impressão de alguns aspectos permanecerão eternamente herméticos, por mais que insistamos em investigar sua biografia e entender algumas passagens mais elaboradas. Vendo o quarto filme da cinessérie na noite de ontem, eu sentia, eu sabia, eu sofria... Mas, ao mesmo tempo, eu ainda não sentia o suficiente, não sabia o suficiente, e já sofria mais do que o suficiente...

Vendo o filme, não conseguia parar de pensar nos tios Débora e Charlisson, que se amam e se esfregam aos tapas e beijos. Sinto que eles são pessoas ideais e orgulho-me de que eles tenham me aceito em sua “família”, mas algo me fez questionar novamente o conceito de “inveja positiva” cunhado por Luiz Ferreira Neto, que alegou que tal conceito diz respeito ao bem-estar que ele sente diante de “casais que dão certo”. Ele usou como exemplos João Paulo & Jéssica Ferreira e Anderson Luís & Aline Aguiar. À época, todos entenderam o que ele quis dizer, mas eu continuei rejeitando o conceito. Ontem eu pensei novamente nele e, ainda sem aceitá-lo, apliquei-o ao Tio e à Tia. Não que eu sinta inveja deles, longe disso, mas gosto de perceber a similaridade “temática” que eles compartilham. Afinal de contas, como eu sempre digo, “uma casal que ouve Itamar Assumpção unido, permanecerá unido!”.

O que me leva de volta à imagem ilustrativa, principal ferramenta publicitária de “Domicilio Conjugal” e da ‘nouvelle vague’ como um todo, visto que esta situação aparentemente simples (um casal lendo na cama) era desejada por todos os realizadores e espectadores do movimento cinematográfico inovador francês, tanto por aqueles diretamente citados por François Truffaut (Jean Eustache, Jean-Luc Godard, Alain Resnais) quanto por aqueles que o citam (Christophe Honoré em destaque). E, como todos sabem, é bem isso o que desejo: compartilhar, numa relação amorosa, não somente fluidos corpóreos, mas, principalmente, momentos intelectivos. E viva a arte como acerto de contas!

Wesley PC>

2 comentários:

Unknown disse...

E num é só Itamar não kkkk, também ouvimos Roberta Miranda juntos. rsrsrs

Gomorra disse...

Por isso, dá certo! (risos)

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