terça-feira, 30 de junho de 2009

A REALIDADE É MAIS FORTE!


Quando criança, eu queria ser lixeiro. Sempre achava muito imponente e funcional aquela profissão, aquele uniforme tão rejeitado pelas pessoas, com que tanto eu me identificava e com o qual eu cria que justificaria as rejeições tangenciais a que era submetido. Na época, meus colegas de classe divertiam-se me fazendo comer pipoca do chão. Acostumei-me a ser nojento. Percebi desde cedo que é através do lixo que podemos conhecer alguém. Se hoje eu não sou lixeiro, é porque sucumbi às pressões sociais que propagandeiam um eventual desprestígio no que diz respeito a tal vínculo empregatício.

Quando estava saindo do trabalho, há pouco, a fim de comprar os pães que alimentam meus companheiros de serviço às 17 horas de cada dia, deparo-me com um caminhão de lixo em frente ao Terminal do Campus. Todas as lembranças acima voltaram a pairar sobre meu cérebro. Admirei o trajeto daquele veículo largo, imaginando-me entre os três homens que dependuravam-se à beira daquele fedor. Não tinha nojo, imaginava-me até um tanto orgulhoso de ser capaz de suportar o mau odor. De repente, quando adentra a rua por onde os ônibus passam, um dos lixeiros cai. Demonstra visível sinal de dor, visto que caíra de mau jeito, mas tudo o que recebe em seu favor são gargalhadas zombeteiras. Passageiros, colegas de trabalho, transeuntes, todos zombavam do lixeiro caído, enquanto eu me imaginava no seu lugar, vestindo aquela roupa de cor alaranjada, realizando um serviço que ninguém quer fazer. De uma forma ou de outra, por mais cruel que aquelas gargalhadas fossem, os lixeiros sorriam. Era um consolo.

Antes de terminar, uma anedota real: um dia, quando me dirigia ao supermercado para comprar um quilograma de galinha morta e papel higiênico, deparei-me com um lixeiro que pedia água nas casas de que recolhia o lixo. As pessoas recusavam a servi-lo com um simples copo d’água. Até que, depois de muito tempo, alguém encontrou um copo descartável e saciou a sede do moço. Aquilo me traumatizou. O evento de hoje me traumatizou igualmente. Qual será o próximo trauma?

Wesley PC>

Um comentário:

Unknown disse...

Pessoal sem noção hein.

Um dia eu pensei no que aconteceria se tivesse uma greve de lixeiros.