quinta-feira, 2 de julho de 2009

ALTÍSSIMA TENSÃO EM MINHA VIDA!


Prometi que não escreveria tantos textos autocomiserativos ou auto-expiatórios por estes, mas a tremedeira que toma meu corpo neste exato instante em virtude da revisão de “Alta Tensão” (2003, de Alexandre Aja), magnífico retrato das conseqüências últimas de uma paixão mal-correspondida. Já exibi este filme em Gomorra há um bom tempo (quando Helenilza ainda era viva) e as reações foram igualmente espantosas: Juliana tremia, Wesley urrava de identificação. Conforme concordei há pouco com Rafael Maurício: “Alta Tensão” é um filme fabuloso! Em mais de um sentido, inclusive, dado que uma reviravolta impressionante no filme explica o porquê de ele me causar tanto estupor.

Como resumir a trama deste filme sem estragar as importantes surpresas de seu roteiro? Adotando a estrutura da narração sinóptica: duas amigas viajam de carro para uma casa de família no interior francês, onde planejam estudar a fio para uma prova de Direito Internacional a que se submeterão. Percebemos de imediato que uma delas é apaixonada pela outra, que é heterossexual e relativamente promíscua (dito de outra forma: sabe aproveitar bem a vida). Chegando em casa, cada uma vai para seu quarto. Enquanto fumava ao ar livre, uma delas observa seu objeto de desejo banhando-se. Minutos depois, estava masturbando-se ao som de “Runaway Girl”, de U. Roy, cuja letra fala sobre uma garota que “é igual a qualquer outra”. Puro desdém. Ela era única!

De repente, justo quando a jovem apaixonada acaba de se masturbar, um estranho e rústico homem invade a residência de sua amada. Mata sem piedade – e, aparentemente, sem motivo – todos os membros da família dela, incluindo o cachorro. Ela, por sua vez, é amordaçada. “Se ele quisesse matá-la, já o teria feito”, diz a menina apaixonada. Sangue, muito sangue jorra na tela. Estávamos diante de um dos filmes de terror mais originais e explícitos da atualidade!

Não sei se posso avançar no resumo da trama sem estragar alguns detalhes cruciais, mas adianto que a canção “New Born”, do Muse é utilizada com muita propriedade, dado que sua letra convoca o ouvinte a conectar-se ao mundo, conectar-se a si mesmo, não deixar que a tristeza interior que o consome cresça tal qual um malévolo recém-nascido. Na cena que considero mais violenta no filme inteiro, a protagonista defere um golpe de madeira com arame farpado no rosto de seu agressor. Como já havia visto o filme três vezes, sabia o que ela estava fazendo, contra quem ela estava deferindo aquele golpe: contra nós mesmos na platéia, que, oprimidos pela situação, quase torcemos para que ela se vingue, quando, em verdade, sabemos que, ao fazê-lo, ela está igualando-se, agindo exatamente como ele. E é isso que mais me assusta, é o que mais me perturba: agir contrário a quem eu sou ou sinto. Vale a citação justificativa de um conselho pessoal que justifica o meu medo: há pouco, pedi que um amigo fizesse-me um favor. Entreguei-lhe uma quantia em dinheiro e pedi que ele me comprasse algo que necessitava. Solicitei que, além do dinheiro, ele entregasse um sorriso à vendedora, ao que ele retrucou que, da outra vez que foi ao estabelecimento de venda, a vendedora não havia sorrido para ele. Conclusão: temos que dar o exemplo!

Poderia partir deste filme e esboçar toda uma anamnese de minha vida. Talvez não precise, visto que possuo o DVD do filme e empresto a quem desejar. Preciso de ajuda e, como tal, não tenho medo de expor os meus defeitos!

Wesley PC>

Nenhum comentário: