terça-feira, 30 de junho de 2009

“BANGKOK LOVE STORY” (2007). Direção: Poj Arnon


Não é escondida de ninguém a minha simpatia crescente pelo cinema tailandês. Mesmo o cinema de consumo popularesco fácil me interessa, de maneira que fiquei bastante empolgado quando fui apresentado ao filme ora resenhado na tarde de ontem. Vendo-o hoje pela manhã, fui apresentado a uma das experiências mais forçosamente melancólicas deste ano, a um filme milimetricamente planejado para nos fazer chorar, em que cada filigrana sinóptica está carregada por inúmeros caracteres repletos de dor e concomitante masoquismo. Senão, vejamos do que se trata a estória do filme.


O protagonista Mehk (Rattanaballang Tohssawat) se considera tão deambulatório quanto a significação nefelibática de seu nome. Trabalha como matador de aluguel porque crê que, assim, vingará a raiva sentida por seu violento e promíscuo padrasto, que transmitira AIDS a toda a sua família, após sucessivos estupros. Mehk, porém, é regido por um simples código moral: só mata quem ele considera um malfeitor. Certo dia, após concluir um seqüestro, percebe que os motivos que levaram seu contratador a desejar a morte de um jovem, belíssimo e exibicionista militar Itt (vivido pelo deliciosamente esnobe Chaiwat Thongsaeng) eram de cunho estritamente pessoal. Recusa-se a matá-lo, ciente de que este é inocente. Por este motivo, ele é alvejado por balas, mas é salvo pelo jovem que deveria matá-lo. Convalescendo-se mutuamente num lugar afastado da cidade, Itt nutre uma estranha atração por Mehk, beijando-o e fazendo sexo instintivo com ele na cena retratada na fotografia. O amor deles é proibido: nenhum dos dois está preparado para lidar com o que sente. Mas Itt insiste: quer ver seu amado mais uma vez, custe o preço que custar. Chora no chuveiro, lamenta-se o dia inteiro, telefona sem parar para um celular que deixara no esconderijo de Mehk. Quando salva o irmão de seu amado de ser espancado até a morte por vizinhos preconceituosos, Itt reencontra Mehk, mas este decide assassinar seu antigo contratador. Separam-se mais algumas vezes e muita coisa acontece até que, no ano 2032, purulências patológicas, suicídios, prisões, cegueira e novos assassinatos dão uma nova tônica ao roteiro do filme, escrito pelo próprio diretor, que acumula uma surpreendente tragédia a cada minuto. Fiquei sem saber o que sentia após a sessão: o filme erra muito, peca violentamente pelo excesso, mas é bom. Faz-nos sentir uma simpatia extremada pelos personagens, que juram um amor ao limite do platonismo e "até o último suspiro" de cada um deles.

Pesquisando sobre o filme – que, como disse, até então me era desconhecido – descobri que a equipe técnica fora ameaçada (inclusive, por represálias policiais) durante as filmagens. Os temas obviamente ainda são tabus na Tailândia e a amplitude na divulgação de sua obra fez com que Poj Arnon ficasse visado pelos mesmos preconceitos que retrata na tela. Talvez ele saiba do que esteja falando e por isso apele para a chantagem emocional extremada, que, por vezes, beira o inverossímil. Nada disso, porém, consegue fazer com que eu desgoste do filme. Não sei se me tornei um defensor dele, propriamente dito, mas vou divulgá-lo: nasce aqui uma nova responsabilidade!


Wesley PC>

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