terça-feira, 2 de junho de 2009

EXISTEM AQUELES QUE "PARTEM SEM NOS DEIXAR"...


Hoje eu sonhei com meu cãozinho Almodóvar, falecido há quase dois meses. Sonhei que fazia compras num extinto supermercado (o Prudente Filho, onde minha mãe trabalhara como recepcionista de padaria, quando eu tinha 4 anos de idade) e pequenas réplicas vivas de meu cãozinho estavam disponíveis por entre as prateleiras de detergentes. Talvez fossem brindes para quem comprasse material de limpeza. Era o meu caso: precisava comprar um sabonete, mas fiquei receoso em ver um ser vivo que amava (e amo ainda) ser entregue como um objeto secundário. Acordei antes de saber se fiz ou não a tal compra!

Evidentemente, passei o resto da manhã pensando neste sonho, no cãozinho que amei por quase 10 anos e que agora não mais está comigo e, ainda assim, me dou ao luxo de ser feliz. “Podemos ser feliz sem quem amamos”, talvez fosse uma conclusão possível da experiência. “Quando amamos de verdade, o ser amado jamais parte, pois permanecerá sempre conosco”: foi a conclusão que escolhi. Ainda hoje escuto seus latidos agudos, sinto o seu cheiro no sofá, impressiono-me com o peso ausente no local da cama em que ele dormia... Ele não está mais lá, mas, de alguma forma, é como se sempre estivesse, é como se nunca tivesse nos deixado...

Por mais que eu antecipasse mentalmente a sua morte, não estive necessariamente preparado para suportá-la quando ela chegou. Sinto saudades, sinto falta da ternura e da instabilidade iracunda de meu cãozinho pequinês, raça em progressiva extinção no legado canino da contemporaneidade. E foi pensando nisso que me flagrei antecipando mentalmente também a partida de outras pessoas que amo. Talvez não de forma tão definitiva quanto a morte, mas a partida de pessoas que amo... Pessoas que amo partirão, talvez eu nunca mais as veja, por mais que me disponha a conversas com as mesmas via carta, correio eletrônico ou outras ferramentas midiáticas do gênero. Talvez não seja a mesma coisa, talvez seja isto algo com que sejamos obrigados a nos acostumar, se quisermos envelhecer e/ou amadurecer... E, no rádio, toca “Yesterday When I Was Young”, na voz de Charles Aznavour... Sinto saudades do passado e do futuro ao mesmo tempo. Erro meu: o amor é um sentimento absolutamente presente!

“Yesterday when I was young
The taste of life was sweet as rain upon my tongue
I teased at life as if it were a foolish game
The way the evening breeze may tease a candle flame
The thousand dreams I dreamed, the splendid things I planned
I always built, alas, on weak and shifting sand
I lived by night and shunned the naked light of day
And only now I see how the years ran away”...


Wesley PC>

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