domingo, 31 de maio de 2009

O LIVRE-ARBÍTRIO DE 655321


É absolutamente impossível escolher a melhor cena deste filme! “Laranja Mecânica” (1971, de Stanley Kubrick) é uma daquelas obras imortais que merecem sem reservas a alcunha de “mauriciana” (perfeita). Revi este filme em Gomorra nesta madrugada pela trocentésima vez, ao lado de amigos que nunca haviam visto o filme (que honra!) e, diante da seqüência reproduzida na imagem, soltei um gemido incontido: esta é uma das cenas que mais povoaram o meu imaginário infantil, quando ainda sequer sonhava em ver o filme. Como me encantava o figurino do protagonista, aquele cenário futurista, estes pirulitos fálicos nas mãos das duas jovens que, no instante seguinte, estarão fazendo sexo a três, em ritmo ultra-acelerado, ao som de uma versão sintetizada da “Abertura de Guilherme Tell”, de Giácomo Rossini, por sua vez, a cargo da tecladista Wendy Carlos, que hoje tem 69 anos de idade, mas, à época do filme, era homem e se chama Walter Carlos. Estou pensando em baixar a trilha sonora do filme, a fim de me especializar em música clássica e conhecer melhor o trabalho desta pioneira transexual da música eletrônica.

Voltando ao filme: após a sessão, o perfeito me perguntou por que eu insistia que aquele era um filme “moralista”. Respondi que o que mais me encantava no discurso favorável ao livre-arbítrio no filme é que ele não repugnava as instâncias religiosas retratadas no filme, que constatam a hipocrisia ensinada pelas instituições prisionais sustentaculares dos sistemas de Governo dominantes no mundo globalizado que o autor Anthony Burgress previra. Ou seja, a crítica kubrickiana é eminentemente política e não comete o erro crasso, típico de ‘pseudo-punks’ de beira de esquina, de confundir anti-clericalismo com ateísmo. Crenças são importantes enquanto motivadores de personalidade, diz o filme, quiçá um dos mais inspirados e frutíferos elogios à liberdade irrestrita com que já tive a oportunidade de entrar em contato. Cada pequena nota musical utilizada no filme, cada segundo de imagem, cada diálogo, cada ângulo ou movimento de câmera, tudo ali transpassa a perfeição, “a beatitude e o paraíso” que tanto possuem o protagonista quando este frui ao som das composições de Ludwig van Beethoven. Obra-prima com O maiúsculo!

Não cairei aqui na tentação de resenhar o filme. Deixo tal tarefa recompensante a qualquer outra pessoa que o tenha visto, dado que ele dispensa qualquer conjunto de elogios embasbacados que eu pudesse reproduzir. Ao invés disso, comprometo-me a ler o livro que deu origem ao filme, prometerei revê-lo mais e mais vezes, percebendo assim novos aspectos de sua magnitude, conforme se nota no testemunho do mendigo bêbado espancado no início do filme: “este é um mundo fedorento, pois não existe mais lei e ordem! É um mundo fedorento porque os jovens investem contra os mais velhos. Oh, este não é mais um local para um homem velho viver! Que tipo de mundo é este, afinal? Homens pisando na Lua, orbitando ao redor do planeta, mas sem prestar a menor atenção às leis e ordem terrenas”...

Como eu disse antes – e não me canso de repetir: OBRA-PRIMA!

Wesley PC>

Um comentário:

Annita! disse...

um dia aos 16 anos de idade achei q ia fazer um filme melhor do q o Laranja Mecanica, e ia fazer a revolução no mundo...hj vejo como era tola...como era mais feliz...
mas, de resto aos 24 anos tenho a dizer q esse e mais q um ótimo filme, e uma obra prima, é um filme necessário, todos no mundo deverão assistir...