quinta-feira, 19 de março de 2009

ÓPERA-ROCK DA VIDA REAL


Uma das coisas que posso perceber objetivamente dos textos de Marcos Miranda que aqui são publicados é que o descompasso entre aquelas coisas que sonhamos (seja para nós, seja para os outros) e as coisas que são efetivadas na realidade é crescente. Por mais que idealizemos, organizemos e planejemos algo, inúmeros fatores invalidam – ou podem invalidar – a concretização de nossos ideais, por mais nobres e aparentemente desinteressados que estes sejam!

Não sei se já deixei claro aqui, mas não sou obcecado por Marcos por ele ter o corpo que tem, este terminou sendo um elemento secundário de minhas crises. O que sempre admirei em Marcos (ainda que numa vertente bem mais deturpada que eu possa supor) é a sua gana organizacional, a sua fixação burocrática, a sua vocação forçosa e desejosa para uma função de liderança. Quando eu era secretário-geral do CECINE/UFS (Centro de Estudos Cinematográficos da Universidade Federal de Sergipe), tinha ambições e acessos incompreendidos de raiva muito semelhantes aos de Marcos Miranda, por isso, me meu subconsciente pervertido, acho que posso me beneficiar ao observá-lo, admirá-lo, contemplá-lo e coisas do gênero. Por mais que eu discorde ou não tenha ciência de seus objetivos, encanto-me pelo modo como ele insiste em levar a cabo as suas propostas.

E é seguindo esta linha idealista que eu anuncio aqui os meus intentos com o Cine-Gomorra de hoje, intentos tão pretensiosos e estudados quanto as famosas óperas-rock de The Who, Pink Floyd ou The Olivia Tremor Control (para ficar em exemplos óbvios), tão conceitual e mal-entendido quanto suas obras-primas musicais. Vale pela tentativa, porém.

Os filmes que planejo exibir hoje são: “Nosferatu” (1922, de F. W. Murnau); “O Triunfo da Vontade” (1935, de Leni Riefenstahl); “Fahrenheit 451” (1967, de François Truffaut); e “O Exorcista” (1973, de William Friedkin). Cada qual a seu modo, este quatro maravilhosos filmes explicam a que finalidades servem o ato de inculcar medo nas mentes de cidadãos comuns, cada qual a seu modo, estas obras-primas da sétima arte denunciam os interesses de quem produz ostensivamente o medo, seja para fins metafóricos/vanguardistas, como no primeiro; seja para intuitos intimidadores de beleza, como no segundo; seja para intuitos poéticos, sobrevivenciais e anti-distópicos, como no terceiro; e, finalmente, para aproveitamos comerciais que transpassam a publicidade e tornam-se belos estudos reflexivos sobre as limalhas da saudade, como no quarto.

É com uma imagem poderosa deste último filme que emolduro esse texto, este clamor por harmonia comunal, esta declaração conscienciosa de que, mesmo que as coisas não saiam como a gente deseja, as coisas são, nós somos também, e cabe a nós, somente a nós, realizar a síntese e validar aquilo que precisa (ou não) ser validado. Afinal de contas, o que vocês chamam de possessão, eu chamo de carência – e nem isto é suficiente enquanto justificativa!

Wesley PC>

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