terça-feira, 17 de março de 2009

CRISE DE ABSTINÊNCIA!


Por não ter controle de meus instintos, por insistir em ouvir vozes equivocadas, por estrebuchar insuficientemente, por sucumbir às dores do corpo e a uma estranha paralisia dos membros inferiores, por temer a cólera de meus amigos queridos em virtude de admoestações iterativas, por inúmeros outros motivos, estou há exatos 2 dias sem pisar em Gomorra, um recorde negativo, uma abominável marca a se carregar para meu futuro túmulo...

Nestes dois dias em que não visitei o reduto que me apazigua, interagi com pessoas que não via com a mesma freqüência que antes. Ouvi pessoas reclamarem que não têm dinheiro, vi pessoas gritando para que ladrões e estupradores fossem fuzilados, vi pessoas mentindo, vi pessoas comemorando minha mal-aproveitada presença... Vi pessoas que amo fazendo coisas que desgosto e gostando disso. “É um direito delas”, pensei, “mas não tenho a obrigação de estar aqui, me sujeitando a tudo isto!”. Estarei sendo muito egoísta em querer sair, ao invés de tentar ajudá-las? Ou, com este desejo, estou me privando de incorrer na mesma imposição moral que caracterizou famosas ditaduras do passado, mesmo as que se pretendiam “bem-intencionadas” como o socialismo russo? Não sei...

Sei que esta agonia que agora sinto (agravada pela impossibilidade de falar com Rafael Coelho, pela estranha recusa de Luiz Ferreira Neto em atender ao celular, pelas violentas palavras que troquei há pouco com Rafael Maurício, pelo medo de ligar para Bruno/Danilo e retirá-lo de um necessário estado soporífero) me fez lembrar do clássico “Ninotchka” (1939, de Ernst Lubitsch), um dos mais divertidos, apaixonantes e ideologicamente perigosos filmes que vi em vida. Trata-se da estória de uma vigilante comunista russa (vivida pela estonteante Greta Garbo) que viaja à França para impedir que três partidários do sistema político de seu País continuem seduzidos pelos “prazeres terrenos” e, assim, desprezes os ideais de abnegação comunitária. Acostumada às privações e a um senso de masoquismo partidário, a personagem-título apaixona-se em Paris, descobre as roupas de seda, os sutiãs confortáveis, as bebidas alcoólicas e mergulha numa violenta crise existencial: “ficar e curtir o que a vida materialista tem a oferecer ou voltar para as privações em que acredito e que fazem já parte de minha constituição moral?”: eis a dúvida que a aflige, eis a escolha que me sinto erroneamente tentado a fazer. Quem foi que disse que ambas as opções são concorrentes? Que não posso conciliar ambos os estágios? Quem? Hollywood? Por mais genial e sub-reptício que seja, o ardiloso alemão Ernst Lubitsch peca... É hilário quando faz isso, mas cério que, no mundo real, já estejam cansados de meus pecados recorrentes...

Não sei o que fazer!

Vou rever o filme, vou tremer, vou esperar, vou rezar para que esteja vivo ao amanhecer e que, assim, possa novamente pisar em Gomorra e me certificar de que tudo está bem, de que ainda tenho chances, de que o cerco não se fechou por completo para mim, de que...

Wesley PC>

5 comentários:

Meryone disse...

larry clark tem a agradecer, tem (risos)

http://annabel-lee.tumblr.com/

no final foram seis ou sete...

vou durmir, que sao já quase quatro horas da madrugada

solicito tumblr seu com imagens de cinema!!

beijos

Pseudokane3 disse...

...e acabo de ver o filme, mais de 2h da manhã, e não consigo dormir...
Ouço "Frankenstein", do Antony and the Johnsons, e , ao invés de escrever outro tetxo, enchendo a paciência dos gomorrenses, prefiro pedir que vejam filmes do Ernst Lubitsch...

Afinal de contas, seu lema é óbvio, uma corruptela marxista:

AMANTES DE TODO O MUNDO, UNI-VOS!

WPC>

Pseudokane3 disse...

... e isso que a personagem tem nas mãos é um chapéu!

Incrível o quanto me senti evadido vendo o filme! Hollywood tem destas coisas!

WPC>

danilo disse...

hein wesley.

ouvi alguns comentários em Gomorra do tipo
"cadê wesley?"
"Wesley veio qui hoje?"
"Wesley vem hoje?"

e outros e outros.

sudades
feop

Pseudokane3 disse...

EU VOU HOJE - DE CERTEZA!

Saudades extremadas!

WPC>