quarta-feira, 18 de março de 2009

“O SEU OLHAR, SEU OLHAR MELHORA, MELHORA O MEU”!


“Canção da Estrada” (1955), primeiro filme do indiano Satyajit Ray, foi o instrumento através do qual eu conheci o músico Ravi Shankar, responsável pela trilha sonora. Quando vi o filme, mal imaginava que ele era conhecido por aqueles que não conheciam o cinema indiano, mal sabia que ele colaborara com George Harrison, nem imaginava que ele era pai da forçosa Norah Jones... Quando descobri que ele fora indicado ao Oscar de trilha sonora por causa do filme “Gandhi” (1982, de Richard Attenborough), percebi que ele se globalizara (mas permanecendo muito talentoso, o virtuose da cítara que ele sempre foi). Quando conheci o tio Charlão (e, em seguida, Coelhinho e seu mp4 estufado de coisas), tudo fez sentido: Ravi Shankar é genial, tocou no Woodstock e suas músicas são ideais para “dar lombra”. Ok, ok... Sem flagrantes textuais, Bruno/Danilo!

Só estou cá escrevendo para valorizar a nossa capacidade de escolher o que nos interessa, capacidade esta que é melhorada quando deixamos que o que nos interessa siga seu próprio rumo, faça aquilo que melhor lhe apraz. Exemplo preciso: quando eu estava correndo para a aula, às 8h45’ da manhã de hoje, deparei-me com um menino de mais ou menos 6 anos no caminho. Ele era bem gordinho e estava usando apenas uma bermuda rasgada. Alguma coisa me fez olhar fixamente para suas costas. Achei estranha a combinação sujeira-gordura, por mais que eu saiba que aquela discreta obesidade obedece a critérios muito diferentes da boa alimentação. Continuei olhando-o, seguindo-o com olhar abaixado, visto que ele fazia o mesmo percurso que eu, à frente, para ser exato. De repente, ele avança o passo, chega a correr e, alguns metros depois, atira-se sobre um saco de lixo à frente. Joga-se na imundície como se fosse num brinquedo. Ele parecia muito feliz! Deixei-o lá se divertindo, suspendi o juízo e acelerei também o meu passo, pois estava atrasado para a aula. Terei agido certo? Há “certo” e “errado” no exemplo destacado?

No filme, uma das coisas que mais me intrigavam era o modo como esta velhinha cabisbaixa varria o pátio da casa em que morava, quase rente ao chão. Ela reclama o tempo inteiro de dores nas costas, mas, ainda assim, sem que ninguém a peça, ela emborca-se no chão diversas vezes e varre-o, utilizando um projeto muito esquisito de vassoura, quase sem cabo. Lembro que isto me impressionou deveras, para além de todos os sutis dramas familiares registrados no filme, o melhor já produzido na Índia até hoje!

Enquanto isso, Arnaldo Antunes continua a compor suas canções epanafóricas e/ou metalingüísticas. Rafael Maurício está vivo e trabalha. Minha mãe gosta das flores cultivadas em seu quintal (exibidas abaixo, com orgulho). A geladeira de Gomorra está preenchida. Humanos dormem, comem, fazem sexo, vomitam quando bebem demais ou quando estão com dengue hemorrágica. O mundo gira. Viva!

Wesley PC>

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