domingo, 9 de novembro de 2008

RESSURGIMENTO DA OPINIÃO PÚBLICA


Quando eu era aluno da disciplina Economia da Comunicação e da Cultura, li um texto de Jürgen Habermas sobre a diferenciação entre Esfera Privada e Esfera Pública. Do texto lido há mais de 5 anos, lembro que a Esfera Privada sempre existiu, é uma característica basilar da burguesia, da aristocracia, das classes sociais acostumadas a amores ressentidos. A Esfera Pública, por sua vez, surgiu gradualmente, justamente após a publicização de sentimentos e atividades que, até então, eram exclusividades da Esfera Privada. Nesse processo de transição, o romance “Les Liaisons Dangereuses” [“As Relações Perigosas”], escrito em 1782 por Choderlos de Laclos, que deslindava uma série de intrigas e chantagens perpetradas por uma malévola marquesa e pelo célebre e priápico Visconde de Valmont, foi fundamental. Detalhe básico sobre o romance: ele é inteiramente epistolar, constituído pelas cartas redigidas e enviadas pelos personagens. Ou seja: o que deveria ser mais íntimo no círculo social dos nobres personagens – suas cartas e confissões mais pessoais – era agora assunto público. Surgia aí o que hoje conhecemos como “opinião pública”.

Pensei neste romance porque, como todos sabem, possuo diários íntimos. Tudo o que se passa em minha vida, tudo o que penso, tudo o que penso estar pensando, tudo o que sinto, tudo o que desejo, eu escrevo lá... Ao contrário dos aristocratas, porém, eu sempre disponibilizo meus diários para que as pessoas leiam ao final do ano, o que geralmente causa problemas para algumas das pessoas citadas, pois eu me envolvo demais, apaixono-me “de com força” (como diz a gíria corrente), às vezes interpreto equivocadamente fatos corriqueiros, por mim transformados nos mais preciosos fetiches românticos. Eis um dilema que me acompanhará até o fim de meus dias...

Curiosidade: o nome da minha professora de Economia da Comunicação e da Cultura era Messiluce Hansen. Ela era tão exigente, passava tantos livros interessantes para que lêssemos que a turma não gostava muito dela. Apelidaram-na de “Messilúcifer”. Eu, por coincidência, passei com média 10,0 nas matérias que estudei com ela. Sou diplomado nesta confusão entre público e privado (risos).

Wesley PC>

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