quarta-feira, 12 de novembro de 2008

lembrei de Revolução dos bichos

Conversando com alguém, acho que com Baiano, certa vez eu afirmei: "A esquerda quase sempre brigou pelo direito de ser burguês."
Um dia na ufs ouvi um estudante militante dizer que os índios tinham que ser incluídos no ensino de nível superior pra ter ciência da sua condição, ocupar um cargo político pra aí sim defender as causas indígenas. Além de uma visão inocente do índio, como se este não fosse capaz de refletir ou defender seus interesses, ainda creio que essa idéia justifica a colonização, onde jesuítas ou colonos achavam que tinham que civilizar o índio.
Então, modos de vidas alternativos que estejam longe ou indiferente a essa lógica burguesa parecem ser mal vistos pela esquerda que acredita no proletariado como grande arma revolucionária. E de que valeram as experiências hippies, as comunidades alternativas e os modos de vida alternativos urbanos ou não? Será que as pessoas têm que vestir ternos e entrar no jogo da burocracia para revolucionar?

p.s: Não me retive muito nesta reflexão, por isso quero opiniões.

Hoje achei um texto que acho, em parte, relevante para essa discussão. Segue:

A Ideologia da Exclusão Social
Por Fernando Moura 22/04/2002 às 11:23


apresento um pequeno trecho de um texto de Nildo Viana, sobre a ideologia da exclusão social.


" (...) devemos esclarecer por qual motivo utilizamos a expressão lumpemproletarização ao invés de exclusão social, termo que vem sendo amplamente utilizado. Ao nosso ver, o termo exclusão social apresenta limitações que não ocorrem com o conceito de lumpemproletarização. A mais grave limitação que observamos no termo exclusão social é de caráter teórico-metodológico. A idéia de exclusão não tem como pano de fundo uma teoria da totalidade da vida social enquanto unidade dinâmica e contraditória e sim uma visão dualista: a sociedade estaria dividida em duas esferas: a dos “incluídos” e a dos “excluídos”, como se fossem duas unidades sociais que existissem independentemente uma da outra.
Podemos observar outros problemas teórico-metodológicos em torno da idéia da exclusão social. Em primeiro lugar, tal concepção nos fornece uma falsa impressão que não há uma divisão interna entre os considerados “incluídos” e também entre os considerados “excluídos”. Em segundo lugar, não disfarça a sua preferência pelo mundo dos “incluídos” (seja ele qual for, se lembrarmos que este não é homogêneo), que passa a ser visto acriticamente e julgado como um mundo desejável pelos “excluídos” (o problema passa a girar em como “incluir” os “excluídos”). Em terceiro lugar, não trabalha de forma suficiente a razão de ser da chamada exclusão social, demonstrando, na maioria das abordagens sobre este tema, que é um processo sem agentes e sem contradição, sendo produto não se sabe do que, ou, em outras palavras, a idéia de exclusão social assume um caráter descritivo e não explicativo.
A idéia de lumpemproletarização, ao contrário, surge no interior de uma teoria das classes sociais e o lumpemproletariado não é um segmento social totalmente excluído - se houvesse tal possibilidade - pois ele pode estar momentaneamente afastado do mercado de trabalho, dos direitos sociais (da cidadania) e marginalizado no mercado de consumo, mas não está definitivamente excluído de nenhum destes aspectos da vida social, pois existe tanto mudanças que alteram sua situação quanto uma mobilidade entre lumpemproletariado e proletariado, entre segmentos do lumpemproletariado etc. Por conseguinte, consideramos como mais adequado o uso da teoria do lumpemproletariado ao invés do uso da concepção da exclusão social e por isso lançaremos mão dela no presente trabalho" (Viana, Nildo. Catadores de Lixo: Renda Familiar, Consumo e Trabalho Precoce. Estudos – Negócios. UCG. Vol. 27, n. 3, jul.set./2000).

fonte: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2002/04/23850.shtml

Leno de Andrade

3 comentários:

Gomorra disse...

Assim, desconectado do contexto maior, não sei se compreendi a contento a crítica do autor do excerto textual que tu destacaste, mas... Concordo veementemente com esta falácia opositiva entre incluídos X excluídos sociais, acho que o problema está no parâmetro mesmo, como bem disseste na primeira parte de sua postagem...

Creio que toquei em alguns pontos semelhantes quando escrevi minha visão sobre o que vi na última sexta-feira de ocupação na UFS... Estou cansado desta glorificação da "classe trabalhadora", isso não existe mais! Trabalhador hoje em dia é gente que precisa de DINHEIRO (com letras maiúsculas mesmo), com o pretexto de que necessita sustentar família e coisas do gênero... Tô cansado disso, na moral!

Se eu lembro da obra do George Orwell que citaste? E tem como não? è incrível! Este é o problema: eles fazem um estilo de revolução, propõem fazer, que o seja, e impõe a mesma a todos os outros seres, chegando a apagar as partes da História que não os agradam, conforme comentou o próprio Orwell em sua obra magna "1984"... Fodeu-se o mundo!

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Unknown disse...

É, por isso que eu disse que o texto seria relevante em parte. Eu só achei essa parte mesmo. Eu até conheço um pouco o autor. Nildo Viana é um dos caras que estão estudando anarquismo no Brasil.

Valeu por contribuir para minha reflexão.

Pseudokane3 disse...

Não conhecia o tal do Nildo Viana, mas confio no teu julgamento e, como nutro um interesse infindo pela abordagem teórica de temas vinculados ao anarquismo, seja ele no Brasil ou não, preciso ter mais acesso a esse tipo de material... Vou lá , conferir as tuas fontes (risos)

Fui dormir pensando nisso... Vi um filme com a Madonna nua na TNT, que fazia sessões de apucuntura, usava cocaína medicinal e só praticava sexo sadomasoquista... Fiquei pensando o quanto estas atitudes causadores de prazer é que são indiciadoras de classe... É fogo, tudo é indício de classe social hoje em dia, classes que sequer encontram-se em luta mais... Os ricos ouvem os sons dos pobres (vide o manifesto contido em "Negro Drama", canção genial do Racionais MC's), os pobres querem se vestir e falar como os ricos (vide qualquer filme desta chamada "Cosmética da Fome"). Adeus, marxismo!

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