quarta-feira, 12 de novembro de 2008

UM NOVO QUESTIONAMENTO ACERCA DA NOÇÃO DE DIFERENÇA


Na minha casa, existem duas televisões de 29 polegadas: uma na sala, outra no quarto de meu irmão caçula. A existência destas duas televisões, portanto, deveriam extinguir a necessidade de brigas por espaço, de pendengas por TV. O problema é que meu irmão e minha mãe, que assistem comumente aos mesmos programas, não querem ficar confinados no quarto, ao passo que eu lamento o fato de que, no quarto dele, não haja nem DVD, nem rádio, nem os canais de filmes contidos na televisão da sala. Conclusão: sou familiarmente injustiçado mais uma vez! Teria eu razão em pedir que meu irmão e minha mãe sacrificassem a sua interação no meio da sala em favor de um capricho estético?

Eu nunca havia prestado muita atenção neste dilema, pois trabalhava o dia inteiro. Como estou de férias, estou sendo obrigado a dormir cada vez mais, a fim de evitar prejudicá-los com minha presença. A dormir e a ler bem mais. Hoje de manhã, depois de dormir mais de 9 horas (das 2 da manhã até ás 11 do dia seguinte!), peguei um livro do Terry Eagleton, chamado “A Ideologia da Estética” (datado de 1990), e fui ler suas considerações sobre o pós-modernismo, era histórica em que, segundo o autor, as três grandes questões da Filosofia encontram-se misturadas, suprimidas em função da última. Tais questões são: uma de caráter cognitivo (“o que podemos saber?”), outra de caráter ético-político (“o que devemos fazer?”), e a terceira, supressora, de caráter estético-libidinal (“o que nos atrai?”). É em função desta última questão, inclusive, que redijo este texto, preocupado justamente com minhas atitudes no que se referem às primeiras questões: é doloroso perceber-se excluído de muitas tradições familiares apenas por não gostar de telenovelas nem de ficar reconhecendo os vizinhos que foram presos no programa do Bareta!

O pior: tal dilema não é exclusividade de minha família. Eu é que fui tolo e não vi a tempo, na época em que alguma solução preventiva ainda podia ser tomada. Na foto, uma evidência: 29 de maio de 2004, noite de minha formatura. Meu irmão não foi à cerimônia porque estava bêbado, mas chorou, tomado por um estranho orgulho que fê-lo dizer: “Deus não dá asas a cobras”. No caso, ele reclamava que eu não estava dando ao fato (minha formatura) a importância que ele supunha merecida. Tudo o que eu queria era mostrar minhas unhas pintadas de preto e vermelho e deixar minha mãe um pouquinho feliz ao receber a minha medalha de maior média do C.E.C.H. (Centro de Educação e Ciências Humanas). Fi-lo. De que isso me adiantou?

Wesley PC>

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