quinta-feira, 13 de novembro de 2008

FAVELA NO CINEMA (DE NOVO)!


(Não) Convidei Rafael Maurício para ir ao cinema comigo nesta quarta-feira. Ele tem prova na sexta-feira pela manhã, não pôde ir. Comprei um ingresso para a sessão das 19h10’ do filme “Última Parada 174” (2008, de Bruno Barreto). Não esperava que fosse bom. Sabia do que se tratava: mais um daqueles filmes pseudocomiserativos sobre assaltantes com história de vida triste, sobre gente pobre que nunca encontrou muita solução na vida, além das igrejas evangélicas e do tráfico (em qualquer ordem). A tragédia é conhecida, mas aconteceu uma coisa muito legal – e surpreendente – na sessão em que estava.

Como o filme em pauta é passado no eixo morro–rua–reformatório, evidentemente, o que não falta é gíria. È “malandro” pra cá., “porra” pra lá, “caralho” no meio o tempo inteiro, etc.. É tanta esculhambação lingüística, tanta utilização de gírias como auto-afirmação que a platéia atrás de mim riu. Não tirei a razão deles: se a coisa estava parecendo engraçada, é porque os produtores do filme estavam pouco se lixando para o que estava sendo retratado na tela. Tudo ali era motivo para capitalizar em cima da pobreza alheia. Foi então que uma mulher dentro do cinema segurou meu braço e gritou: “tanta tristeza na tela e o pessoal fica rindo. Queria ver se fosse algum filho deles, ou sobrinho, ou um parente, para saber se eles iam continuar rindo desse jeito!”. Gritou e mudou de lugar. Fiquei um pouco parado, atônito, e depois não me contive: tive que rir também. Pensei, com dó no coração: “caramba, este filme forçado consegue atingir algumas pessoas!”. Pois é, enquanto houver “amor à família acima de tudo”, haverá crime no mundo, haverá glorificação do Dinheiro! Enquanto uma noção espúria de família for defendida pela mídia e houveres pessoas crédulas o suficiente para acreditarem neste discurso, a tragédia real mostrada na imagem (real)repetir-se-á, ano após ano, ao redor do mundo...

Wesley PC>

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