quinta-feira, 13 de novembro de 2008

TELEJORNALISMO SATANISTA


Como é sabido, ainda creio em Deus. Sou um ser com práticas religiosas recorrentes (percebem que há uma perece na parede) e, por crer em Deus (do qual a existência do belo Rafael Maurício é apenas uma prova efetiva da existência), termino crendo, por extensão inversa, também em forças negativas, como em algo parecido com Satanás. Explico: como me considero uma pessoa com a missão de cultivar o bem na Terra, sempre que tomo banho em completa escuridão, às 2h da manhã, fico preocupado em ser possuído por algum demônio (risos realistas). Mas não é disso que quero falar: hoje eu assisti a um telejornal local com minha família!

Logo na abertura, a câmera do telejornal focalizava com um orgulho justiceiro a revolta de um grupo de moradores do conjunto Marcos Freire I, que destruiu a casa de um homem suspeito de abusar sexualmente de três crianças. Atiraram objetos contra as janelas, destruíram o portão e o telhado, e, após invadirem a residência, foi encontrado um tronco com forma de mulher, o suficiente para que o repórter acentuasse a perversão do suporto acusado, que, conforme acrescentado posteriormente, está hospitalizado em virtude de um linchamento. Em momento algum, confirmou-se a culpa do acusado, apesar dos fortes indícios, do passado como presidiário, etc.. Por enquanto, ele é ainda um “suspeito”, condição agravada pelo fato de que, segundo um dos depoentes, “ele usava drogas o tempo inteiro”. Ok, notícia 1.

Continuei vendo o telejornal. É divulgada a rota de uma corrida que paralisará o trânsito por 4 horas neste sábado, em Aracaju. Noutro canal, falava-se sobre o concurso Beleza na Favela, que visava escolher as adolescentes mais bonitas em bairros menos aquisitivos da Grande Aracaju. O povoado Tijuquinha, localizado próximo a minha casa, foi um dos escolhidos. Caravanas de meninas entre 12 e 16 anos enfrentaram o sol escaldante da manhã a fim de comparecerem no local do concurso. Na noite imediatamente anterior, uma jovenzinha enamorada fora esfaqueada por um ex-namorado na porta do colégio em que estudei entre os 12 e 15 anos. Para que lembrar disso agora?

Fiquei com medo de esperar a notícia 2 e fui para o quarto, ler algo sobre Michel Foucault e o pós-modernismo. Ainda assim, minha mãe Rosane chama-me à sala para ver algo chocante: um garoto de 9 anos, viciado em ‘crack’, é impossibilitado de ser atendido na sala de urgência de hospital por causa de uma greve de funcionários públicos na Barra dos Coqueiros. Ok, hora de desligar a televisão e ligar o computador. Hoje é dia de Gomorra!

Fica a pergunta no ar: ao desligar a televisão, libertei-me realmente das más notícias, das manifestações terrenas de Satanás e seus seguidores? Muito pelo contrário, o que não faltam são “jornalistas populares” passando em frente à minha casa, ávidos por contarem as tragédias mais recentes... Prefiro, então, continuar a repetir minha prece: “Rafael Maurício, volta logo!”... Mesmo que ele não tenha ido embora ainda, não custa treinar, afinal de contas, religião é que nem o militarismo: sem prática, não funciona (risos).

Wesley PC>

Um comentário:

Fábio Barros disse...

No primeiro caso, o do ACUSADO (bem frisado por você) de estuprar as crianças, a gente vê o nosso recorrente sensacionalismo irresponsável da imprensa brasileira de cada dia. Se existe realmente um inferno com um Satanás reinando por lá, seria interessantíssimo que todos esses infames jornalistas fossem parar lá.