quarta-feira, 22 de abril de 2009

ENQUÊTE: QUAL FOI O ÚLTIMO FILME TCHECO QUE VISTE?


A pergunta pode parecer estranha, mas, por incrível que pareça, é enorme o investimento de capital e material humano tcheco em filmes de grande orçamento e bilheteria produzidos em Hollywood. Porém, não é destes que estou a falar, mas sim daqueles filmes pungentes e falados em próprio idioma tcheco, que podem registrar desde deliciosas fábulas infantis pancromáticas [como “Um Dia, Um Gato” (1963), de Vojtech Jasny] e complicadas denúncias à burocracia prototípica [vide “O Baile dos Bombeiros” (1967), de Milos Forman] até dolorosos registros de vida marginal involuntária [“Marian” (1996), de Petr Václav] e inusitados registros da invasão nazista [como, por exemplo, “Herói Acidental/Filho da Guerra” (2000), de Jan Hrebejk].

Além dos quatro filmes citados, o último filme tcheco que vi foi “Kolya – Uma Lição de Amor” (1996, de Jan Sverák), vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas que me decepcionou deveras por sua trama excessivamente clicherosa, em que um violoncelista promíscuo – que toca em funerais desde que fora expulso da Orquestra Sinfônica de seu País por causa de um mal-entendido responsivo – casa-se por conveniência com uma russa ilegalmente registrada. Depois que esta emigra para a Alemanha Ocidental e deixa seu filho pequeno na Republica Tcheca (ou melhor, na Tchecoslováquia da época), o protagonista do filme, interpretado pelo pai do diretor, Zdenek Sverák, é obrigado a cuidar do gracioso menino russo do título e descobre novas motivações para sua vida egocêntrica, prestando mais atenção não somente nas pessoas que estão ao seu redor, como na própria política de seu País, ocupado solenemente por vigilantes (e odiados) comunistas russos.

O que torna o filme muito digno de ser visto é que ele registra a comoção pública quando o País deixou de ser comunista, em 1989, graças ao que foi chamado de “Revolução de Veludo”, reflexo das muitas repressões contra estudantes daquele País, em muito influenciadas pelos acontecimentos em voga na Alemanha, até pouco tempo dividida pelo execrável Muro de Berlim. Lendo um capítulo da obra-prima literária do historiador Eric Hobsbawm sobre “o breve século XX”, percebi o porquê de as pessoas serem tão avessas ao comunismo, visto que a vigilância governamental sobre os atos cotidianos e quiçá particulares das pessoas era abominável e coercitivo. E, por mais que o filme esteja muito mais preocupado em nos fazer chorar por causa da candura do menininho Andrei Chalimon, graciosíssimo aos cinco anos de idade, a História pulsa e, quando Ela o faz, percebemos que as propaladas diferenças entre Público e Privado não sejam tão relevantes assim...

Wesley PC>

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