domingo, 19 de abril de 2009

A ARTE DE (NÃO) SER FÚTIL E A PAIXÃO ESTÉTICA POR UM TAILANDÊS


Quando comecei a ler compulsivamente uma das melhores revistas virtuais de cinema do mundo (a Contracampo, hoje decadente), descobri, em matérias sobre os principais festivais de cinema do Rio de Janeiro e de São Paulo, o nome de um cineasta tailandês que logo me prontifiquei a decorar, crente de que assim faria mais sucesso entre cinéfilos ‘pimba’: Apichatpong Weerasethakul. Como moro em Sergipe, um Estado em que os bons filmes exóticos demoram a chegar, não cria que fosse conhecer um dia a obra deste cineasta e, que dirá, encantar-me tão ferozmente por ele. Mas eis que, graças aos esforços de um inestimável amigo, pude ver quatro de suas melhores obras, incluindo a obra-prima mostrada na imagem: “Eternamente Sua” (2002), o mais belo exemplar de bucolismo tardio já produzido.

A trama do filme é de uma simplicidade atroz, mas... Como é funcional! Como é denuncista! Do que se trata o filme? Vejamos: os primeiros vinte minutos são dedicados à insistência de duas mulheres em conseguirem um atestado de saúde para um imigrante birmanês ilegal vivendo na Tailândia. Queriam que ele fosse considerado apto a trabalhar no País, mas não conseguem êxito ao convencer a médica responsável pelo exame a assinar o tal atestado. Frustradas, ambas as mulheres (uma jovem, outra de mais ou menos 40 anos) resolvem passar uma tarde de descanso na floresta. Faltam aos trabalhos mecanizados de que são escravas, simulando indisposições físicas, e se embrenham num piquenique. A mais velha tem um encontro sexual casual com um homem que a ignora depois do gozo, desdenhando as frutas que ela insistentemente oferece e fugindo depois que tentam roubar sua motocicleta. A mais nova, por sua vez, experimenta inúmeras epifanias paradisíacas ao lado do bonito imigrante (chamado Min Oo), que, numa das cenas mais belas do filme, tem seu pênis móvel mostrado em ‘close-up’, quando a jovenzinha pratica sexo oral e contempla a graciosidade do referido órgão. Enquanto isso, o Sol brilha, as árvores resplandecem, mais verdes do que nunca, formigas devoram a comida, a água do riacho corre, o tempo passa... O tempo passa!

Apichatpong Weerasethakul é agora mais do que um nome difícil de se pronunciar. É um gênio, diretor daquele que, agora, talvez seja “o melhor filme de minha vida”, sobre o qual falarei numa ocasião vindoura. Por ora, contemplo: o tempo passa...

Wesley PC>

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