quarta-feira, 22 de abril de 2009

O CONSOLO VERBORRÁGICO DO CINEMA FRANCÊS CONTEMPORÂNEO


Conforme suspeitado, fui ao cinema nesta noite de terça-feira. Vi “7 Anos” (2006, de Jean-Pascal Hattu), um daqueles filmes proto-impessoais em que uma mulher visita regularmente o seu marido, preso há mais de um ano por um crime que não sabemos qual. Um dia, ela não consegue entrar na cadeia. Motivo: seu marido está na solitária. Ela é então abordada por um homem que alega estar visitando o irmão, mas é ríspida com ele. Em casa, conversando com uma vizinha, é argüida se já teve algum amante desde que seu marido fora encarcerado. Ela responde que não e toca delicadamente o seu corpo, sozinha, todas as noites, por minutos a fio, um dia, ela resolve ceder um pouco de intercurso erótico para o homem que sempre a interpela na entrada da prisão. Ela não goza, ele sim. Ao final da cópula, ele confessa que é, na verdade, o carcereiro da prisão em que o marido dela está. O que será que acontece depois?

Não obstante o sobejo de informações, a descrição de eventos acima relatada talvez não corresponda sequer a 20 minutos de filme. Ou seja, o início do filme é, pra dizer o mínimo, bastante cativo, mas o diretor e roteirista (que, noutros tempos, fora assistente de André Techiné) perde seu tempo ao imitar o entrecho de “Ondas do Destino” (1996, de Lars von Trier) e leva o marido preso a se tornar muito amigo do carcereiro, a ponto de pedir que este grave os coitos com sua esposa adúltera, de modo que assim possa ouvir os gemidos de gozo da mesma. Era evidente que esta estória não poderia continuar plácida por muito tempo...

A fim de não revelar mais detalhes do filme para quem ainda não o assistiu e demonstre certo interesse em fazê-lo (garanto-vos: muito ainda pode ser contado acerca da trama de “7 Anos”!), sendo que o mesmo está em cartaz num cinema de Aracaju esta semana, destaco a extrema sensibilidade do diretor no que diz respeito à seleção da trilha sonora, que, nalguns momentos parece evocar os “Devaneios à Beira do Mar/Quadros Nordestinos” de nosso amigo Bigato, noutros presta reverência direta à repetição ‘in crescendo’ dos acordes apaixonantes de Philip Glass e à música eletrônica taciturna contemporânea, de maneira que, ao final, uma bela e melancólica canção orquestrada faz-nos vivificar o mesmo bem-estar sofrido que nos toma quando ouvimos qualquer coisa na voz de Frank Sinatra ou Charles Aznavour. Aqueles acordes não mais saíram de meus ouvidos, nem dos ouvidos da pessoa que me acompanhara na sessão e que adormecera em meu ombro direito no interior de um ônibus, enquanto eu ficava a torcer para que um sorveteiro de ‘shopping’ demonstrasse qualquer afetação homossexual no mesmo veículo. De volta ao filme? Digamos que ele perca a oportunidade de ser muito bom, mas, ainda assim, instiga deveras. Nem que seja por mera curiosidade ou para se ter um pretexto para que alguém enfie os pés por debaixo das pernas de sua calça, alegando estar sentindo frio...

Wesley PC>

Nenhum comentário: