quarta-feira, 22 de abril de 2009

DO PORQUÊ DE OUVIRMOS MAIS DE UMA MÚSICA DO MESMO GÊNERO...


Num determinado dia, estávamos eu (fanático por músicas de cunho suicida), um amigo luciferista/pagão (especializado em ‘heavy metal’), um menino deslumbrado (que se locomove entre o anticristianismo posado e o ‘hardcore’) e um esquisito ser eclético, cuja preferência musical tende para o legítimo samba brasileiro, também apreciado pelas duas primeiras pessoas citadas neste parágrafo. Em dado momento, quando vasculhávamos o imenso repertório do nosso anfitrião metaleiro, surgiu uma conversa sobre o quanto as músicas que ouvíamos repetidamente eram influenciadas por traços característicos de nossa personalidade. Não é difícil imaginar que nossos argumentos justificativos foram todos bem fundamentados, no sentido de que eu acumulo potencialmente em mim parte da culpa e do sofrimento do mundo, o anfitrião metaleiro tem fortes ímpetos de destruição reconstrutiva, o jovem posado ainda acredita nas movimentações de massa (no famoso “Do It Yourself” ‘punk’) e o garoto eclético não sabe o que quer da vida, salvo ouvir um bom samba. Foi uma bela descoberta coletiva!

Por que eu lembrei disso agora? Digamos que estive a ouvir o CD que ilustra esta postagem – dado de presente por um amigo metaleiro em constante crise relacional – e puxa, que nojeira ultranacionalista! Quase todas as canções louvam a guerra, a batalha, a luta, a união nacional com base na violência contra outras pessoas discordantes. Nome da banda: Manowar. Nacionalidade: Estados Unidos da América, obviamente. Nome do álbum: “Warriors of the World” (2002), que, apesar de conter uma curiosa incursão do vocalista Eric Adams pela operística canção “Nessum Dorma” (em italiano mesmo!), não passa de um compêndio de hinos bélicos, cuja faixa de abertura, “Call to Arms”, diz mais ou menos o seguinte:

“Lutemos pelo Reino, lutemos com aço
Matemos todos eles, pois seu sangue é a nossa estampa
Batalhemos até que o último dos inimigos esteja morto
Cavalguemos sobre seu sangue, que tão satisfatoriamente nós derramamos”


Não somente George W. Bush Jr. deve ser fã deste álbum como, nem mesmo ao saber que o Manowar está inscrito no Livro dos Recordes como sendo a banda que conseguiu arrancar o som mais alto a ser executado num palco (129,5 decibéis, comparado ao barulho que um Boeing faz quando alça vôo), ficaria tranqüilo se as pessoas de minha casa entendessem o que o vocalista estava falando durante esta música ideologicamente horrenda. Nesta situação hipotética, como agora, sentiria muita vergonha de ouvir isso, mesmo que fosse por pura curiosidade epistemológica!


Wesley PC>

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