quarta-feira, 5 de novembro de 2008

AS VERDADEIRAS INTENÇÕES SÃO AS MELHORES?


Há algumas semanas, Rafael Coelho tachou alguns de meus atos desejosos de indignos, no sentido de que minhas intenções ao cometê-los não são as mesmas que aparentam. Em outras palavras: ele chateia-se porque eu sempre faço tudo com “segundas intenções”, porque desrespeito a suposta noção idealizada de reciprocidade que deve acompanhar qualquer interação entre pessoas... Queria eu que fosse assim, mas algumas coisas independem de minhas vontades, meu bem!

Lembram daquele desenho de rosto na parede de Gomorra? Pois bem, o mesmo Rafael Coelho disse que gostou dele, no sentido de que parece uma versão cômica e infantil do quadro “O Grito”, do Edward Munch. Fiquei orgulhoso com a comparação, mas tive que confessar que, ao fazer o desenho, tudo o que pensava era numa demonstração prática de sexo oral. Isto muda o resultado da contemplação? Interfere na composição do produto?

Olhem para a imagem que acompanha esse texto. Dois homens dançam juntinhos, enquanto um terceiro executa uma romântica peça de violino. Por este motivo, pela ternura que a fotografia emana, ela é considerada a mais tenra imagem do que é chamado de ‘queer cinema’ (‘cinema bicha’). Não é mais bonito pensar nela desse jeito do que no que ela realmente representa, um mero fotograma científico de um protofilme, com menos de um minuto de duração, no qual a única coisa que importava era demonstrar que o som poderia ser futuramente captado pelas câmeras de cinema?

Ai, ai...
Seja lá qual for a interpretação escolhida, “Dickson Sound Experimental Film” (1894, de William Dickson) é uma obra-prima do pré-cinema!

Wesley PC>

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