sábado, 8 de novembro de 2008

CONSCIENTIZAÇÃO PROLETÁRIA, AINDA?


Como todos sabem, a Reitoria da Universidade Federal de Sergipe ainda está ocupada pelos estudantes, que exigem medidas administrativas que favoreçam os alunos do Campus de Laranjeiras e os bolsistas do Campus de São Cristóvão, entre outros, prejudicados pelo desempenho relapso dos funcionários responsáveis pelos órgãos destacados. Até aí, tudo de bem, concordo com a luta deles, até esqueço que muitos dos participantes envolvidos na tal reivindicação só visam um treinamento político-partidário... Ontem, porém, inventei de me sentar diante de uma das rodas de discussão política do grupo ocupado. Que decepção!

Quando digo decepção, não quero dizer que me oponho por completo ao que foi feito/conseguido por eles ou às boas intenções coletivas, mas frustro-me ao perceber duas grandes disfunções organizativas:

I – Em muitos casos, as intervenções grupais priorizam questões privadas em detrimento de exigências públicas. Explico: as pessoas que passeiam pela Reitoria com pedaços de papelão com a palavra “ocupado” pendurados no corpo agem como se fosse um grupo de amigos num acampamento de escoteiros, vivendo num ambiente repleto de descontração e humor popularesco (vide a fonte musical requerida para muitas das paródias utilizadas como “canções de protesto”), simulando uma disciplina militar sempre que alguns dos organizadores vinculados ao PSTU está com um microfone nas mãos. Reclamo disso particularmente em virtude das primeiras palavras dos depoentes a que assisti ontem, um sindicalista da construção civil paraense com nome de grego e um petroleiro de renome em Sergipe e Alagoas, que tem 53 anos de idade. Ambos iniciaram seus contraditórios discursos com piadinhas pessoais, seja falando sobre por que um deles não fez vestibular (ou melhor, porque desistiu da Universidade pública quando não passou no vestibular) seja vangloriando-se de ter visto o pai, figura amada e querida que trazia dinheiro para casa, perseguido pela ditadura militar brasileira. Nos discursos, o particular era mais relevante que o geral. Isso são seria problema se fosse uma particularidade assumida, mas... Infelizmente, não é!

II – O tipo de discurso de protesto utilizado por ambos os discursantes citados no parágrafo anterior e pelos excertos de decorada plataforma política juvenil a que assisti (tão declamado que parecia o texto daqueles meninos que vendem jujuba no ônibus e dizem “boa tarde, gente, não perguntei nem para um, nem para dois, nem para três, boa taaaaaaaaaaaaaaaaaarde!”) recaía num anacronismo clássico: o apelo à classe trabalhadora. Classe trabalhadora: o que quer dizer isso? Gente que se submete a uma série de medidas e exigências a fim de ter o que pôr na mesa de seus descendentes e que dedica pelo menos 8 horas de seus dias a atividades emburrecedoras ou mantenedoras do sistema capitalista que os reivindicantes pareciam criticar. Na palestra a que assisti, os discursantes elogiavam o fervor de um grupo de grevistas que invadiu uma empresa para exigir 13ºs salários atrasados. Noutro momento, eles reclamam que o Governo Lula não está abrindo tantos concursos para funcionários públicos quanto eles queriam. Pergunto: não são justamente funcionários públicos aqueles que estão sendo impedidos de trabalhar, por inépcia, pelos estudantes ocupados? Não seria mais interessante elogiar greves que requerem modificações na própria estrutura trabalhista ao invés de necessidades monetárias discriminadas em constituições estatais. Não sei se eu ando abobado demais ultimamente, depois que – olha só, que coincidência! – fui despedido da Universidade Federal de Sergipe, mas... Não sinto orgulho nenhum de ser trabalhador, no sentido empregatício do termo. O tal aforismo de que “o trabalho dignifica o homem” está sendo violentamente deturpado por esse tipo de discurso. Temos que abolir o emprego e valorizar o trabalho como enxergava Friedrich Engels, enquanto potencializador das capacidades humanas e não enquanto mero proporcionador de salários.

Abrandando minha decepção: acredito nas boas intenções, admito que as exigências semi-atendidas pela Reitoria são causas ganhas pelos estudantes, mas este anacronismo socialista (?) subjacente aos discursos das pessoas com microfone nas mãos neste tipo de ato de revolta só alimenta o Capitalismo contra o qual eles/nós acreditam(os) que estão lotando!

Wesley PC>

Nenhum comentário: