domingo, 14 de dezembro de 2008

AS MENTIRAS DO ‘EU-LÍRICO’


Antes de se iniciar o concerto do Tom Zé deste ano, aqui em Sergipe, o artista local Alex Sant’Anna apresentou um pouco de seu trabalho à base de “dor pimba” (leia-se: influenciado por bandas que promulgam aquela típica melancolia amorosa britânica). Gostei das duas primeiras canções e da última, mas fiquei irritado durante a sua apresentação, no sentido de que, como conheço detalhes pessoais acerca da vida do artista, sabia que ele mentia ao divulgar aquela tristeza e aquele abandono em primeira pessoa em cada uma das canções. Perguntei, então, a meu vizinho conselheiro e musicalmente erudito se era possível compor boas canções sobre solidão quando se é/está feliz. Ele me trouxe à pauta uma nova questão: “e o papel do ‘eu-lírico’ nessa história? Não funciona com Chico Buarque, por exemplo, que canta de forma subjetiva milhares de dores que não o acometeram efetivamente?”. Concordei, mas o caso do artista mais lembrado pelo belo baiano que vive próximo de Gomorra merece um estudo à parte: nele, é possível identificar claramente ‘eus-líricos’ diferentes, inclusive quando ele canta com voz anímica de mulher (vide “Olhos nos Olhos”, por exemplo). Consolei-me, mas continuei sem gostar (por falta de crença afetiva) da maioria das canções do Alex Sant’Anna executadas naquela noite de expectativas...

Pensando neste dilema, dou-me aqui o luxo de invocar um ‘eu-lírico’ caro a Roberto Carlos, que não saía de minha cabeça enquanto via um filme brasileiro ruim com minha mãe agora à noite:

“De hoje em diante vou modificar o meu modo de vida
Naquele instante que você partiu, destruiu nosso amor
Agora não vou mais chorar
Cansei de esperar, de esperar enfim
E pra começar eu só vou gostar
De quem gosta de mim”


Estou cantando isto, mas é mentira: continuarei gostando das mesmas pessoas que sempre gostei! Gostem elas ou não de mim...

Wesley PC>

Um comentário:

Unknown disse...

É. Apesar de eu ter falado sobre casos específicos como o do Chico Buarque, eu compreendo e concordo com sua indignação. Tenho a mesma reação quando ouço o já bem sucedido Chorão cantar que é pobre e fudido.