quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

JÖRG BUTTGEREIT!


Conheci este cineasta alemão no final do ano passado, graças aos auspícios de um gentil rapaz formado em História, de nome Ébano Santana. Este, graduado graças a uma monografia sobre o impacto da indústria pornográfica, presenteou-me, assim, de graça, sem segundas intenções, com um DVD repleto de filmes deste que eu logo consideraria um gênio do cinema ‘splatter’, visto que seus filmes dedicam-se literalmente à contemplação de cadáveres, ao entendimento de pessoas que só conseguem vislumbrar o prazer quando este se atrela à degeneração evidente da carne. Alguns amigos até ameaçaram deixar de falar comigo, tamanho o fascínio que este cineasta teve sobre mim, na época. Por sorte, todos sobrevivemos, mas a paixão pelo Jörg Buttgereit continua...

No DVD que Ébano me deu, podiam ser vistos os filmes:

- “NEKRomantik” (1987), verdadeiro clássico do cineasta, uma obra de arte sobre pessoas que se amam, apesar de tudo. A trama é bem simples: um trabalhador legista é despedido do emprego depois que se recusa a lavar suas roupas encharcadas de sangue, pois ama o cheiro da morte. Antes de ser despedido, porém, e de ficar deprimido por perder sua fonte de renda dupla (monetária e letal), ele rouba um cadáver apodrecido, a fim de saciar os desejos de ‘menáge a trois’ de sua bela namorada. Esta, ao saber que o namorado foi despedido, foge com o cadáver, deixando o protagonista enlouquecido de dor e solidão. Ele, então, completamente desesperado, sai às ruas em busca de prazer e assassinato. Só redescobrirá o gozo com a masturbação, numa das cenas mais bonitas do cinema sobre o assunto: manuseando seu pequeno, porém funcional, órgão sexual, o protagonista ejaculará largamente, sendo que seu sêmen logo será substituído por um acalentador jorro de sangue. É uma cena maravilhosa que, graças a Deus, já pude ver da forma adequada: abraçado a um namoradinho adolescente, que hoje me odeia, como todos os homens por quem já fui atraído em vida... ;

- “NEKRomantik 2” (1991), mostrado em foto, desnecessário como qualquer continuação cinematográfica, inexplicavelmente bem-humorado, mas capaz de resgatar o clima romântico do primeiro filme, dado que mostra a agonia de uma ex-namorada do protagonista autofalecido do primeiro filme, que, após desenterrá-lo e conservá-lo pútrido em seu banheiro, tenta achar outro homem digno da sanha necrofílica de seu amante morto. Assassina vários moços bonitos, mas um amor perdido não se recupera. Ela termina, então, grávida de um cadáver, numa cena bizarra que serviu de inspiração para o desfecho do mais recente e irregular filme do genial cineasta José Mojica Marins. É um filme tolo, mas, ainda assim, muito recomendado.

- “Schramm” (1993), até ontem, o melhor filme do cineasta, em minha opinião, mais clínico, mais psicanalítico, mais cronenberguiano, analisando única e simplesmente os pensamentos confusos de um ‘serial killer’, que, no momento de maior psicose, vislumbra vaginas dentadas que devoram tanto seu juízo que ele se sente compelido a pregar seu pênis numa mesa. È um filme forte, mas não tão gratuitamente explícito quanto o anterior. Creio que até mesmo quem quase deixou de falar comigo por causa do cineasta apreciará este belo filme psicótico e triste...;


Com estes três filmes maravilhosos, dava por completo o meu fascínio por Jörg Buttgereit. Mas, em julho deste ano, quando minha instabilidade emocional me fazia pensar em suicídio, Ébano procurou-me no trabalho e presenteou-me com mais um filme redentor, a obra-prima do tétrico alemão de quem falei nesta página: “Der Todesking” (1989), absolutamente sublime, sobre 7 maneiras diferentes de suicidar. Como descreverei este filme com melhores detalhes no Fotolog, deixarei em suspenso a exegese, mas repito: Jörg Buttgereit é um grande cineasta e merece ser conhecido por todos, por mais que isto implique em perder a amizade de pessoas que não entendem que temos o direito de fazer as mais esdrúxulas escolhas em nossas vidas, por mais que estas se revelem equivocadas algum tempo depois. “A escolha é o maior atributo humano”, já diziam os personagens de Woody Allen em “A Rosa Púrpura do Cairo” (1985).

Beijo para todos os habitantes de Gomorra.
Estou vivo e amo-vos!
Wesley PC>

2 comentários:

Unknown disse...

Sim! concordo com a frase dos personagens de Woody Allen.

Unknown disse...

Só para registro, eu estudei com ébano. Não sei quando, nem sei em que turma.