segunda-feira, 15 de junho de 2009

QUEM ME ENTENDE É A LUCRECIA MARTEL!


Desde que vi “O Pântano” (2001) há alguns meses, soube que a argentina Lucrecia Martel entendia a realidade subdesenvolvimentista que me rodeia: muita gente num mesmo lugar, muitos problemas competindo por atenção numa mesma casa. A situação fica cada vez mais caótica e a diretora não faz nada para atenuar nosso desconforto: sua principal recorrência estilística é precisamente esta, a plurivocalidade estrebuchante. Nascia ali uma grande diretora!

Recentemente, vi o terceiro filme desta genial cineasta, “A Mulher Sem Cabeça” (2008), e mesmo admitindo que a apreensão adequada deste novo filme depende da revisão dos filmes anteriores da diretora, identifiquei-me deveras com sua temática, com seu estilo, com sua autoralidade... Na trama, uma dentista deprimida tenta consolar a mordorra e o sobejo de problemas domésticos de sua vida pintando repetidas vezes o cabelo. Acidentalmente, atropela um cachorro e fere a cabeça. Sofre em silêncio, enquanto seus familiares clamam por atenção. Ao final do filme, ela pintará os cabelos novamente.

Há poucos minutos, recebi um telefonema de minha mãe: minha irmã acaba de chegar de Alagoas, planejando passar alguns dias hospedada na casa em que vivo. Trouxe consigo três dos sete filhos que pariu. Detalhe: os meninos são repletos de endemias e parasitas e a minha irmã foi expulsa de casa várias vezes, sendo a última delas por ter me acusado de possuir a Pomba-Gira no corpo, de eu ser um idólatra lascivo. Explico: minha irmã é Adventista do Sétimo Dia e não concorda com muitos de meus comportamentos. Ela é daquelas em que “mil vezes um filho drogado do que um filho viado”. Um de seus filhos está tendo problemas com aquele tipo de toxicomania em que a venda de objetos domésticos é requerido para pagar o vício. Por outro lado, os gigolôs de que talvez eu precise estão cada vez mais caros e/ou inacessíveis. Existem poucas camas em minha casa. O sofá fica na sala, onde também estão os eletrodomésticos que utilizo até o início da madrugada. Conclusão: terei mais alguns tumulados dias de personagem marteliano esta semana! Família é uma coisa complicada. Devo pintar novamente o cabelo?

Wesley PC>

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