segunda-feira, 15 de junho de 2009

DA LEITURA DE “O SABER LOCAL”, DE CLIFFORD GEERTZ:


Já confessei aqui que estou recentemente obcecado por assuntos antropológicos. Levando esta obsessão adiante, comecei a ler esta semana “O Saber Local”, livro de Clifford Geertz, em que, dentre tantos outros assuntos, ele avalia a História Social da Imaginação Moral, ou seja, o quanto aquilo que aprendemos e admiramos tem a ver com os julgamentos morais que depositamos sobre o mundo.

Pois bem, numa admirável passagem desta obra fundamental da Antropologia contemporânea, o autor faz uma longa citação de um texto do dinamarquês L. V. Helms, em que este último descreve em detalhes uma cerimônia fúnebre balinesa, na Indonésia, em que o chefe da tribo morto, por ser considerado impuro, é carregado num caixão em formato de tigre, tem uma serpente sacrificada com flechas e flores como derradeira oferenda honorífica e três de suas viúvas atiram-se voluntariamente ao fogo, morrendo violentamente carbonizadas. Ao final, o autor da obra original, datada de 1880, escreve: “trabalhos como este [aquele que descreve pormenorizadamente os rituais fúnebres e sacrificiais] são credenciais através das quais a civilização ocidental faz valer seu direito de conquistar e humanizar raças bárbaras e de substituir as civilizações antigas”. O que é escrito a seguir, portanto, é uma crítica severa e bem-fundamentada contra esta apologia equivocada ao imperialismo colonizador. Fiquei impressionado ao ler estes parágrafos. Senti, naquele momento, que entendia cada vez mais e mais o fato de que existem pessoas com hábitos e costumes diferentes dos meus (e vice-versa). Gosto de lamber pés, cheirar sovacos e ingerir sêmen. Tem gente que não gosta disso e prefere comer carne ou torcer para galináceos que brigam. É normal. Mas será que a quota de sacrifício voluntário é semelhante em todas as situações listadas?

Não sou eu quem vou responder. Passo novamente a palavra ao antropólogo Clifford Geertz, de quem já me tornei fã, e que diz: “os ganhos, em termos de crescimento e abrangência , que uma sensibilidade forte pode ter quando encontra outra sensibilidade tão forte ou mais forte que ela mesma, acontecem somente às custas de uma perda de bem-estar interno”. Incomodo-me, desde já! E, ao fazer isto, incomodo também. Eis a vida!

Wesley PC>

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