terça-feira, 26 de maio de 2009

WESLEY DE CASTRO: EFEITOS COLATERAIS


A melhor forma de explicar isso é com uma fábula célebre utilizada com louvor no filme “Traídos Pelo Desejo” (1992, de Neil Jordan). Na trama, um soldado do IRA (Exercito Republicano Irlandês) é capturado, torturado e morto. Nesse intervalo, o prisioneiro desenvolve uma estranha e imprevista relação de cumplicidade com seu algoz, que, dentre outras coisas, é obrigado a segurar o pênis de seu prisioneiro e balançá-lo, após o ato urinário. Antes de ser executado, o prisioneiro faz um derradeiro pedido ao seu executor: “cuide de minha mulher”. O algoz assente. Mata aquele que deve matar e sai em busca da mulher que seu prisioneiro amava. Encontra-a cantando canções intituladas “The Crying Game” (título original do filme) e “When a Man Loves a Woman”. Apaixona-se por ela, fica encantado e, por algum motivo, mesmo percebendo que ela retribui, não entende porque ela se recusa a fazer sexo com ele, que insiste por mais e mais intimidade. Num dia, eles estão a se beijar. Amam-se. Tiram a roupa. Ele vomita. A câmera desce e flagra o motivo: um pênis! Foi a primeira vez que vi pó órgão sexual masculino em ‘close-up’ na TV aberta!

Não sei se devo contar o que acontece a seguir – visto que já estraguei uma das brilhantes surpresas do filme, considerado “um dos 25 momentos mais chocantes do Cinema”, segundo a revista especializada Premiere, tão chocante que o travesti Jaye Davidson foi impedido de concorrer ao Oscar de ator coadjuvante, a fim de não revelar seu sexo verdadeiro –, mas adianto que o algoz do início será feito prisioneiro antes que o filme se encerre e, a fim de justificar a razão de ele passar por todo aquele constrangimento, ouve da boca de seu/sua amado/amada a fábula supra-anunciada:

“um escorpião tinha gana de atravessar um rio. Encontra uma rã no caminho e pede uma carona:

- Amiga rã, tu te incomodarias em me dar uma carona até o outro lado do rio?
- Claro que não, isto deve ser mais um de teus truques para me envenenar.
- Evidentemente que não, amiga rã. Afinal de contas, se eu cravar o meu ferrão em ti, também morrerei afogado.

Diante deste argumento, a rã anui em levar o escorpião até a outra margem do rio, carregando-o sem suas costas. Ainda no meio do trajeto, porém, a rã sente uma pontada fatal em suas costas. Percebe que o escorpião havia cravado seu ferrão peçonhento nela.

- Por que fizeste isso? Agora eu e ti morreremos afogados!
- Não pude evitar. É a minha natureza”.


Assim sou eu: por mais que saiba que devo evitar algumas práticas constitutivas de meu ser, mas que incomodam alguns de meus amigos sinceros, não posso efetivamente evitá-las. É a minha natureza. Infelizmente, vem com o pacote. E quem ler esse texto (e já tenha passado uma madrugada comigo), sabe do quê e para quem eu estou falando...

Wesley PC>

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