terça-feira, 26 de maio de 2009

“YOU KNOW I’M NO GOOD”!


Na noite de 20 de março de 2002, no fulgor de meus 21 anos de idade, enfrentei um das crises morais mais significativas de minha vida erótica. Passeava pela sala em que minha mãe via TV e deparei-me com imagens de um médico que molestava seus pacientes adolescentes. Ele dopava os garotos (entre 14 e 16 anos) e,quando estes estavam dormindo, punha seus pênis na boca com toda a avidez, sugava aqueles órgãos sexuais como se sua vida dependesse disso e gravava em vídeo todas estas sessões de moléstia hebefílica. Por algum motivo, algumas das fitas foram parar no lixo. Como sempre, alguém as encontrou e as enviou para o sensacionalista Programa do Ratinho, que exibiu o seu conteúdo com discretos borrões nas partes pudendas dos adolescentes. O tom da exibição era obviamente acusatório: um crime hediondo era exibido diante de nossos olhos. Eu, porém, experimentei uma das mais violentas ereções de toda a minha vida audiovisual! Precisei masturbar-me no mesmo momento e, ainda assim, a excitação não passava. Assustava-me com o que sentia, percebia que estava a legitimar um crime, mas meus instintos estavam em ebulição. A assimetria ostensiva das práticas sexuais do médico tarado encontrava eco imediato no tipo de conformismo erótico a que fui obrigado a me vincular. Será que terminarei meus dias da mesma forma, visto que pesa contra mim o trauma significativo de ter sido vítima de repetidos sexuais por pessoas mais velhas na infância?

Não obstante hoje, sete anos depois, eu me sentir muito mais seguro em relação à minha sexualidade desviada, jamais esquecerei aquele estopim eréctil! Queria ter gravado aquelas imagens (é uma confissão, desculpem-me), ignorando completamente o crime hebefílico que ali era praticado. O que me instigava era a assimetria relacional, que pode muito bem ser posta em prática com adultos. Evidentemente, tal restrição não diminui minha parcela de culpa e cumplicidade. Talvez eu seja um monstro por dentro! Lembro que, uma vez, uma amiga brigou severamente comigo por acusar-me de glorificar tais abominações sexuais. Mas juro que não é intencional... “É a minha natureza!”. Afinal de contas, faço o possível para boicotar minhas ereções públicas e, junto a este episódio crasso de exploração televisiva, as duas grandes ereções públicas de minha vida recente foram quando vi as fotos de um garoto acidentado no Orkut (aquela perna dilacerada por um acidente de motocicleta me fez desejar sobremaneira uma pessoa por quem não sinto nada na vida real) e durante uma secreta viagem de táxi, após uma festa (num contexto em que qualquer extrapolação de caráter sexual era dispensável). Sou um monstro! Um monstro em potência, talvez.

Após a divulgação e desgaste destas imagens sexuais, o médico hebiatra Eugênio Chipkevitch foi condenado a 124 anos de prisão, reduzidos para 114 anos. Com certeza, já deve ter sido estuprado, violentado, espancado e torturado inúmeras vezes na prisão, seja por carcereiros seja pelos próprios prisioneiros. Ele é um monstro! E é isso que deve ser feito com eles no contexto social criminalizante que nos cerca. Morte aos monstros! Dor para os monstros! Façamos os monstros sofrerem! E, enquanto isso, eu cantarolo uma canção magistral da psicótica Amy Winehouse:

“I cheated myself
Like I knew I would
I told you I was trouble
You know that I'm no good”


Será que eu sou mesmo um monstro? Ou, dentro das condições hodiernas de sobrevivência, apenas humano? Pelo sim, pelo não, repito: “é a minha natureza!”.

Wesley PC>

Um comentário:

Mαяι Rσɗяιgυεs disse...

Cara, gostei mesmo do seu blog, ta de parabens!! ^^