sexta-feira, 25 de setembro de 2009

“TODOS DIZEM EU TE AMO”?


Todos dizem? Deveriam, talvez...

Assim asseveram os personagens de um dos filmes mais originais e insuspeitos do prolífico Woody Allen: “Todos Dizem Eu Te Amo” (1996). Trata-se de um musical protagonizado pelo próprio diretor, Julia Roberts, Goldie Hawn, Drew Barrymore, Edward Norton e grande elenco. Todos os atributos publicitários do filme poderiam fazer com que este fosse um dos trabalhos mais conhecidos do grande público deste brilhante cineasta (eu, por exemplo, vi este filme pela primeira vez no horário nobre de um canal da TV aberta), mas pouquíssima gente viu esta obra de arte, este apelo à vida, este elogio encantado à arte de viver...

Naquela que talvez seja a melhor e mais divertida cena do filme, a alma de um velhinho recém-falecido levanta-se e convoca os presentes ao seu velório a aproveitarem a vida enquanto ainda têm tempo; noutra cena, um noivo apaixonado disfarça a sua falta de dinheiro para comprar um presente material encetando “My Baby Just Cares for Me”, eternizada na voz da imortal Nina Simone; e, em vários e preciosos momentos, os personagens cantam “I’m Thru With Love”, cantada por Marilyn Monroe num celebre clássico do Billy Wilder. Na cena final, a ex-esposa do protagonista literalmente voa enquanto pronuncia os versos tristes da canção. O amor é algo perene...

“I'm through with love
I'll never fall again.
Said ‘adieu’ to love
Don't ever call again.
For I must have you or no one
And so I'm through with love”

Antes de a sessão findar, pensava eu em escrever um texto citando nomes bem específicos, pôr aqui uma imagem pessoal, declarar o meu amor incondicional a “sabemos bem quem”, mas agora o deslumbramento sincero que estou a sentir me faz perguntar “de que adianta?”. De que adianta? Contrariando o título do filme e a fascinante cena final, talvez ainda haja quem não diga “eu te amo”, quem não se deixe ser amado, quem não se importe, quem esteja acima (ou abaixo) disso, quem esteja cheio do amor... Não é meu caso, nem do Woody Allen, que continua a lançar filmes no mundo como se fossem gotas de sêmen...

Vale lembrar que este foi o primeiro de seus filmes a conter cenas fundamentais longe da cidade de Nova York, que este filme abriu espaço para as produções atípicas (e, ainda assim, apreciabilíssimas) rodadas na Europa, que estamos a conhecer hodiernamente. Se Woody Allen é um gênio mesmo quando erra, imaginem o que ele causa neste que é um de seus filmes mais graciosos e injustiçados...

Wesley PC>

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