sábado, 26 de setembro de 2009

PERGUNTA: “O QUE FOI QUE OS FORASTEIROS NOS TROUXERAM DE BOM?”. RESPOSTA: “SUA MÚSICA”

Este é apenas um ponto de vista extraído do novo clássico “Ondas do Destino” (1996), um dos propalados espetáculos de paixão e sadismo dirigidos pelo dinamarquês Lars Von Trier. Para além de eu legitimar ou não este diálogo contido nos primeiros 5 minutos de filme e que trata, nada mais, nada menos, de um argumento chinfrim para que a angustiada Bess (Emily Watson) consiga a permissão dos anciãos de sua aldeia para casar-se com um petroleiro estrangeiro, a trilha sonora do mesmo (ou, mais particularmente, uma canção) é o que está a conter o meu esmagamento neste exato momento. Nome da canção: “Your Song”, de Elton John, executada antes de um epílogo fúnebre. Já falei sobre esta canção aqui no blog, mas não custa nada traduzir alguns de seus versos e deixar claro em que(m) penso quando ela escuto (algo que agora faço):

“É um tanto engraçado este sentimento interior
Eu não sou daqueles que conseguem escondê-lo facilmente
EU não tenho muito dinheiro, mas, rapaz, se eu tivesse
Eu te compraria uma grande casa, onde poderíamos viver
(...)
Eu sei que não é muito, mas este é o melhor que eu posso fazer:
Meu presente é esta canção e ela é para ti
E tu podes dizer para todo mundo que está é tua canção
Pode ser muito simples, mas agora já está feita

Eu espero que tu não te importes
Eu espero que tu não te importes que eu ponha em palavras, mas
Como é maravilhosa a vida quando tu estás no mundo”!


Como explicar o que esta canção, tão bem utilizada numa das cenas finais do filme, me causou sem estragar as dolorosas surpresas de quem ainda não assistiu a esta preciosidade cruel e tão realista em seus exageros neuróticos? Como?

Em verdade, a trama do filme é bem simples: uma moçoila solitária de uma cidade isolada deseja se casar. Apaixona-se perdidamente pelo escandinavo que ocasionalmente encontra e consegue a permissão para sair de casa e viver em comunhão marital. Ele, porém, precisa voltar ao trabalho. Ela grita e chora copiosamente quando ele embarca num helicóptero da empresa petrolífera, mas, ao final, é obrigada a consentir em sua partida. Pede a sua mãe fanática religiosa para passar uns dias em sua casa, enquanto espera que ele a telefone, o que o faz com muito atraso, em virtude de mudanças nos turnos de trabalho. Algum tempo depois, ele volta para casa, com um detalhe: sofrera um acidente gravíssimo e está à beira da morte. Crente de que pode conversar com Deus e atendendo a um pedido moribundo de seu amado esposo, ela entrega seu corpo até tão pouco tempo virgem a outros homens, incluindo a tripulação criminosa de um navio. O que acontecerá a partir daí?

Desde o primeiro momento do filme, eu sabia. Eu sabia porque, no lugar dela, faria tudo igualzinho. Por mais que eu tenha plena consciência de que é errado (é errado?), eu faria tudo igual. Eu me entregaria, eu me diluiria, eu me devastaria por amor. Amor a Deus, amor a um determinado ser humano, amor ao que quer que fosse...

Segundo o que eu li sobre a biografia do diretor, uma de suas principais influências literárias é uma obra literária pueril chamada “Coração de Ouro”, a que lera várias vezes na infância. É sobre uma jovenzinha que doa tudo o que tem por filantropia extremada. O final, como em todo livro infantil com mensagens positivas sobre a vida, é feliz, mas... Faltava justamente a página final no exemplar do livro a que o pequeno Lars von Trier teve acesso. Conclusão: não houve o final feliz, não houve a recompensa da bondade, detalhe este que me fez crer ainda mais na tese de um grande amigo meu, que afirmou que, mais do que um seguidor kierkegaardiano, a perversão crescente dos filmes de Lars Von Trier é de cunho pascaliano. Verdade! Afinal de contas, ter fé é como uma aposta: o que se perde se não houver nada ao final de nossas ações? Resta a crença!

Não à toa, portanto, a longa duração do filme é dividida em capítulos. São através destas divisões capitulares que entramos em contato com paisagens naturais gradualmente modificadas, com as antológicas canções ‘pop’ da década de 1970 (interpretadas, além do já citado Elton John, por David Bowie, T-Rex, Deep Purple, Jethro Tull e Roxy Music, entre outros nomes célebres) e com palavras de ordem como Vida, Solidão, Fé, Sacrifício e Funeral. Eis, distintamente, sinônimos precisos para o quer dizer Paixão!

Em dado momento do filme, a personagem principal é condenada por se entregar à lascívia aos prazeres do corpo. Ela insiste que só o fez por amor pleno a seu marido, que implorava para que ela assim agisse, ao que ela insistentemente argüia: “mas eu não amo mais ninguém além de ti”. Ele, secamente ordenava: “prove!”. Ela bem o fez. Eu bem o faria.

Aliás, pretendia utilizar a foto (polêmica?) que emoldura esta postagem intimista/exibicionista com a paráfrase “quem eu quero não me quer”, aproveitando a oportunidade para dizer que, ao contrário do que continua esta canção popular, eu não consigo desquerer quem supostamente me quer. Tentaria manter-me através de exemplos neutros, mas... Não sou destes. Sou daqueles que amam, daqueles que prejudicam por crerem que só querem fazer o bem a quem amam... Sou destes!

Faria tudo igualzinho, tu-sabes-quem!

Wesley PC>

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