quinta-feira, 24 de setembro de 2009

“LEMBREI, É PANGLOSS!”


Assim gritei num ônibus, quando finalmente consegui lembrar o nome do mentor do personagem-título mais célebre do iluminista Voltaire. Passei o dia inteiro conversando sobre a lógica do “tudo é para o melhor, neste que é o melhor dos mundos”, mas não consegui lembrar o nome de seu idealizador, baseado no filósofo Gottfried Leibnz. Demorou, mas lembrei – e foi lindo e curativo!

Na noite de ontem, visitei Gomorra. Estava com algumas bananas na bolsa e ofereci-as ao meu amigo Glauco. Ele respondeu-me: “ôba, Wesley, vamos fazer um cuscuz?”. Consenti. Quando o referido cuscuz estava sendo cozido, no frescor de sua derivação de milho, senti um estranho cheiro de azedo. Fiz o absurdo comentário olfativo com o cozinheiro e este perguntou se eu estava a padecer daquela doença que nos faz perder a capacidade de reconhecer adequadamente os cheiros das coisas. Nome da doença? Não conseguia lembrar, mas sabia que tal patologia fora tema de um belo filme triste independente, do qual não conseguia lembrar também o nome. Sabia que três garotinhos de 12 anos o protagonizavam. Um deles, gêmeo de um garoto falecido em virtude de um espancamento, alimenta em si fortes intentos de vingança e torna-se um homicida ainda na adolescência. Uma garotinha precoce descobre a sexualidade ao se apaixonar pelos clientes de sua mãe psicóloga. E o terceiro personagem foi aquele que mais me intrigou: um rapazola obeso que detesta maçã, mas, ao padecer da referida doença, após inúmeros sangramentos no nariz, torna-se um consumidor compulsivo da referida fruta. Nome do filme? Nome da doença? Estava tudo na ponta da língua, mas não conseguia lembrar!

Percebi que um grande amor estava presente também no recinto. Encontrei-o num canto da geladeira e conversamos sobre o que ele estava a assistir recentemente, no plano midiático. Ele me falou sobre a telessérie “Dexter”, da qual tornamo-nos fãs do amargurado protagonista. Conversamos, e, para mim, foi bom, muito bom, o melhor momento da noite. Nem dei quatro passos e uma epifania instaurou-se em minha cabeça: o produtor executivo da telessérie, e diretor dos quatro primeiros episódios da mesma, é o diretor do filme cujo título eu queria lembrar há pouco: Michael Cuesta! Conclusão: tudo se revelou. Nome do filme: “12 Anos e Pouca Ilusão” (2005). Gritei “eureka” e minha vida pareceu ter sentido por alguns instantes. Foi lindo!

Daquele momento em diante, tudo seria água abaixo em minha vida. Mas podemos ser maiores do que nossa própria desesperança. E, ao menos, pelo que me conste, ainda não sofro de anosmia, a maldita da doença causadora de degeneração dos nervos olfativos, cujo nome eu desesperadamente pelejei para lembrar...

Wesley PC>

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