quinta-feira, 24 de setembro de 2009

“EXPANSORES DO MÚSCULO CEREBRAL” NO CINEMA – UMA INTRODUÇÃO SUBJETIVA:


Na tarde de ontem, Rafael Torres pediu-me encarecidamente que eu escrever algo atrelando a Sétima Arte à Psicodelia. Para além de achar a tarefa deveras lisonjeira, creio que muitos já o fizeram antes de mim, de maneira que só dignificaria tal intento se o fizesse através de um viés fortemente pessoal. Deixarei tal diligência para uma oportunidade vindoura. Por ora, adianto o tema por um ângulo transversal: como, até então, os “expansores do músculo cerebral” manifestaram-se ante mim através dos filmes?

Antes de qualquer coisa, convém adiantar de onde tirei tal expressão sinonímica: graças a uma definição de Arnaldo Baptista, que assim definiu as substâncias com efeitos concomitantes à maconha e ao LSD. Li uma de suas entrevistas recentes e, ao falar sobre os rituais grupais experimentados na Europa, no final da década de 1960. Fiquei contente ao ler tal expressão. Poderia assim abandonar o termo pejorativo (ou, no mínimo, demasiado genérico) drogas.

Quando foi que vi alguém utilizando tais substâncias expansoras num filme pela primeira vez? Acho que tal rememoração específica é irrelevante. Prefiro esboçar comentários sobre cinco de minhas experiências mais marcantes:

1 – TEMPOS MODERNOS (1936, de Charlie Chaplin): quem mais senão este gênio absoluto poderia cometer a ousadia de fazer com que um presidiário, gozando de “boa vida” na prisão, ingerisse por engano uma larga porção de cocaína diluído em seu café e, assim, malograr uma rebelião de encarcerado e ser libertado por bom comportamento, voltando a ser um infeliz sem-teto? Se este brilhante esteta tragicômico já havia causado o meu estupor prolongado no curta-metragem “Rua da Paz” (1917), quando flagramos um bandido injetando heroína em seu braço, aqui ele apresenta todas as contradições e ambigüidades ensejadas no extraordinário título do filme, sem dúvida, um dos melhores já lançados em toda sua História!

2 – O HOMEM DO BRAÇO DE OURO (1955, de Otto Preminger): clássico sofrido sobre um músico (interpretado por Frank Sinatra), que sai de um centro de reabilitação para viciados em heroína e se encontra dividido entre o tédio, o desemprego, os preconceitos e duas mulheres, uma sinceramente apaixonada e outra chantagista e louca. As cenas de abstinência são violentamente dramáticas!

3 – TRAINSPOTTING – SEM LIMITES (1996, de Danny Boyle): a obra-prima absoluta sobre o tema, o filme que, até então, melhor apresentou a questão sem os perniciosos julgamentos morais ou sem as perigosas apologias juvenis parciais. No filme, conhecido, visto e elogiado por quase todos, um grupo de amigos (ou conhecidos) escoceses reagem à heroína e ao que está atrelado a ela, no sentido gregário do termo, usando até mesmo Vitamina C, “desde que esta fosse proibida”. Uma aula de livre-arbítrio!

4 – RÉQUIEM PARA UM SONHO (2001, de Darren Aronofsky): não obstante este filme ser bastante elogiado por jovens deslumbrados, acho a sua abordagem negativa, no sentido de que o pretensioso diretor utiliza seus bem-sucedidos recursos videoclipescos para cometer uma atrocidade moralista, em que o castigo para os vícios mais diversos é imposto como se fosse um imperativo categórico. É um filme que diverte e seduz, mas, enquanto discurso, é nojoso, deplorável. Pode ser bom, admito, mas deve ser recomendado com muitíssima cautela, em casos direcionados, deveria vir com uma bula acoplada ao seu suporte midiático.

5 – Por fim, CIDADE DE DEUS (2002, de Fernando Meirelles & Kátia Lund): admito que é delicado assumir que gosto deveras deste filme, mas, por enxergar de dentro o problema do tráfico de drogas (neste caso, utilizar o termo ‘drogas’ é importante), a maneira como o magno roteirista Paulo Lins instiga os espectadores ao fazer com que eles percebam-se como sutis mantenedores do sistema longevo de perpetuação da malevolência sistemática neste filme me fizeram sentir assustadoramente contemplado: o que acontece nas cidades-cenário deste filme acontece ao redor de todo o mundo, neste exato momento. Fica o aviso a mim mesmo.

Ficam aqui os primeiros passos de minha abordagem temática e, na foto, uma campanha publicitária antiga, de uma época em que os portadores privilegiados destas substâncias “expansoras” utilizavam-na a seu bel-prazer comercial. Conforme diz o povo, este tema é muito mais delicado do que parece num primeiro bater de teclas. Para além do bem e/ou do mal, o tema voltará...

Wesley PC>

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