domingo, 27 de setembro de 2009

“FALTOU LUZ, MAS ERA DIA”...

Para quem acredita em coincidências: numa tarde, fujo dos disparates enlouquecidos (ou etílicos?) de um cobrador de ônibus comparando conformismos vencidos ou reafirmados com um amigo que desejava foder. Ao chegar em casa, minha mãe consente em ver “Onibaba, a Mulher Demônio” (1964, de Kaneto Shindo) ao meu lado. Por mais que o filme fosse selvagemmente vinculado à vanguarda hermética nipônica, ela encantou-se com a história das pobres vítimas das guerras feudais japoneses, com aquela sogra determinada e aquela nora excitada que aguardavam a volta do filho da primeira e do concomitante marido da segunda enquanto esquartejavam soldados desgarrados e vendiam suas armaduras a um traficante de recursos agricultores. Até que um homem chega às brenhas em que elas se escondiam e realizavam sua branda tarefa latrocida. E a necessidade de foder se aplica sobre ambas. A mais jovem é beneficiada ("tu estás viúva!"), a mais velha é rejeitada ("tu estás acabada!"). Desejos não-satisfeitos levam à inveja que leva ao mal que leva ao arrependimento e aos gritos de “eu não sou um demônio, sou um ser humano”. Quedas são repetidas, a energia elétrica é suspensa por algumas horas (isto na vida real) e a máscara punitiva contra a inveja e a lubricidade não sai do rosto quando chove. Os médicos não chegam à conclusão se meu irmão mais velho está vitimado pelo AIDS ou pela Hepatite C, de maneira que foi recomendado à sua (e, por extensão, à minha) família que seus pertences e talheres fossem separados. “AIDS não se transmite em abraços”, diz um chavão propagandístico. E agora, minha mãe acha que pode estar infectada com o HIV. E que eu sou doente, sempre estive. Tinha um livro sobre História Japonesa em cima da estante. Foi melhor assim...

Wesley PC>

Um comentário:

Marcos Otsuka disse...

Ótimo filme. Quando a necessidade nos transforma em demônios. Eu não sou um, sei que você também não. Saudades.