quinta-feira, 1 de outubro de 2009

E, MAIS UMA VEZ, O JULIANO CAZARRÉ ME DEIXOU POSITIVAMENTE TENSO...

Não que “A Festa da Menina Morta” (2008), dirigido, escrito e musicado por Matheus Natchergaele seja um filme ruim. Mas, em seus 110 minutos de duração, a sensação que prepondera sobre o espectador é que algo vai acontecer, que algo pode acontecer, mas que este algo nunca chega. Considerando-se o clima de anunciação questionável que o filme transmite desde a primeira cena e a minúcia antropológica com que seu ambiente amazonense é reconstituído, em inversa sintonia com o histrionismo de algumas atuações (comentário este de um amigo meu), o sentimento que mais me tomou durante a sessão foi uma espécie de tensão apaziguadora. Achei o filme mal-resolvido e inócuo em muitas situações, mas ele mexeu comigo – isto é certo!

A trama principal do filme é centrada nos preparativos para o evento do título: a comemoração para-religiosa do aniversário de 20 anos de uma jovenzinha falecida, cujo irmão autodenominado Santinho (bem interpretado por Daniel de Oliveira) alega ter poderes sobrenaturais, ao passo em que grita o tempo inteiro com aqueles que o cercam. Maltrata sem piedade uma garota que insiste em lhe servir e desenvolve uma relação incestuosa com o pai alcoólatra, ao passo em que se destaca na aldeia por ser “branquinho”, sem os traços indígenas da população local. Porém, o que mais me incomodou (no melhor sentido do termo) é a relação ambígua que ele desenvolve com Tadeu, personagem vivido pelo brasiliense Juliano Cazarré, que já havia me seduzido no polêmico filme de estréia do José Eduardo Belmonte. Na cena mostrada em fotografia, ele se banha depois de, completamente embriagado, brigar com um homem que se aproveita do evento-título para comercializar. Numa cena, vemo-lo chorar enquanto derrama água sobre seu corpo nu. Na cena seguinte, acompanhamos diversos quelônios bebericando a água que escorre de seu banho. Não sei se a cena consegue transmitir a significação desejada, mas é que é tensamente bela, ah, isto é!

Para quem não viu o filme, um adendo: busquem-no, dado que, em nenhuma outra obra, veremos novamente o espetáculo significativo das Trigêmeas Espaciais, que antecede uma exótica apresentação de índios dançarinos de ‘hip-hop’. A Amazônia não é mais a mesma. Tristes e cruéis tempos: “a palavra deste ano é dor!”
Wesley PC>

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