segunda-feira, 28 de setembro de 2009

“EU QUERIA QUE ESTE FIO-DA-PESTE LEVASSE UM TIRO BEM NO MEIO DA CABEÇA. ELE É MUITO MALVADO, VELHO!”

Assim exclamou (e foi atendida) a mãe de meus vizinhos favoritos diante de “Rota Comando” (2009, de Elias Junior), um dos piores filmes a que fui voluntariado em me submeter durante toda a minha vida. Produzido como resposta competitiva ao ótimo “Tropa de Elite” (2007, de José Padilha - filme que, insisto, considero ótimo), a ação desta violência disfarçada de obra midiática ruim se passa no Estado de São Paulo e não possui um foco definido, como no outro filme. Não possui sequer trama. Possui clímaxes mal-feitos por cima de clímaxes mal-feitos, tiroteios de 5 em 5 minutos, confirmando pateticamente a reclamação de um crítico (não lembro agora quem foi, François Truffaut, talvez) que dizia que “um filme sem momentos mortos entre os clímaxes é como um colar de pérolas sem cordão: não se sustenta”. É incrível como ele teve razão ao dizer isso: o filme é absolutamente insustentável!

Chocante, para mim, foi descobrir, depois de iniciada a sessão, que o filme possui 138 minutos de duração. Repetindo: 2 horas e 18 minutos de muita ação ruim, propaganda mal-feita da polícia, atuações precárias, ângulos de câmera deletérios, música xaroposa e tudo o que mais poderia ser falado de algo que se pretende um filme. Pretende [do inglês: ‘to pretend’ = fingir], repito, dado que os elementos formais da produção assemelham-se mesmo àqueles programas sensacionalistas policiais da TV Record, no caso mais tolerante possível, com uma daquelas telenovelas espalhafatosas da mesma emissora, que gozam da audiência fiel da telespectadora com quem vi o filme. Durante o tempo de projeção do mesmo, crimes são desmantelados e a equipe policial destacada que dá nome à produção é mostrada como incorruptível e crescentemente isenta de erros. Em outras palavras: simplesmente abominável!

Depois de uma narração de abertura que plagia descaradamente um clássico dos anos 1990 dirigido por Brian De Palma, o filme se movimenta irregularmente entre o cotidiano profissional e doméstico de policiais (clicheroso em todos os sentidos), trocentos incômodos criminais enfrentados pela população em geral (cenas que, admito, assustam quem já vivenciou um assalto, estupro ou congênere) e os xingamentos intermináveis e progressivamente neutros de estouvados bandidos, que brigam por qualquer bobagem (novamente, outro clichê vicioso da atual produção brasileira sobre o tema, mas que, concordo, é realista). O problema é que o tom adotado é sempre muito condescendente, previsível até, desviando o sentido da expressão “baseado em fatos reais”, dado que, ao invés de optar pela parcialidade biográfica (perdoável), os roteiristas escolhem a previsibilidade unilateral, encerrando o filme com um repreensível lema: “existem dois caminhos: o do bem e o do mal. Aqueles que escolherem o caminho mal, mais cedo ou mais tarde, trombarão com a ROTA em seu caminho. E, se trombarem, irão passear de camburão, sentados ou deitados”. OK, OK!

Se (me) serve de consolo, a satisfação de minha vizinha ao ver um dos principais vilões do filme receber justamente um tiro certeiro na testa fez com que eu sentisse na pele o porquê de este filme abominável estar obtendo sucesso de público nos camelôs de meu País. Sentisse na pele todo o medo vinculado a tal sucesso imitativo, inclusive. E olha que eu sei o que é ter a própria casa invadida por “policiais bem-intencionados”...

Wesley PC>

Nenhum comentário: