sábado, 3 de outubro de 2009

“NUM FAZ BEM DOMAR A RAIVA”...

Um homem repete isso para si mesmo enquanto embosca o irmão que supostamente está dormindo com sua mulher, segundo acusação de um afilhado abobalhado que, na verdade, é seu filho ilegítimo. Em poucas palavras, este é o clima que perpassa “Olho de Boi” (2007), filme de Hermano Penna que, exibido com alguns breves problemas de som na noite de ontem, fez com que seu diretor berrasse, irritado: “este é o cinema brasileiro!”. O que um problema técnico ocasional tem a ver com a generalização da produção cultural de um País? Prefiro não debruçar muito tempo sobre este tema e, ao contrário do que faz o protagonista, domar – e muito – a minha raiva. Não vou falar mal sobre nada do que vi este ano no Festival Ibero-Americano de Curtas-Metragens de Sergipe (CURTA-SE 2009). Muito pelo contrário: por mais que a programação deste ano não esteja tão atrativa quanto a de edições anteriores, receio que os organizadores do evento (ou melhor, a organizadora Rosângela Rocha) merecem elogios pelo tino organizativo. Estou sendo obviamente concessivo com esta declaração, mas sou sincero no que digo: parabéns!

Aproveitando o ensejo, convém elogiar também o curta-metragem “Relicário” (2008, de Rafael Gomes) também exibido na noite de ontem. O tema do curta é um tanto repetido em produções recentes (um jovem percebe que vai morrer e, como tal, repensa o que foi feito de sua vida nas últimas horas de vida), porém a sinceridade interpretativa do mesmo faz com que sejamos inquiridos acerca de como nos sentiríamos em situação similar: acreditaríamos em Deus se fôssemos morrer de câncer aos 20 anos de idade? Acharíamos convencida a pessoa que amamos se esta dissesse que sabe o quanto a amamos? Sorriríamos ao reencontrarmos a avó que nos ensinou a viajar pelo mundo, mesmo se estivéssemos “invertendo a ordem natural das coisas” e morrendo antes dela? Agradeceríamos por nosso melhor amigo talentoso ter aberto um parêntese em sua carreira de poeta para nos escrever um réquiem? Tudo bem, admito que alguns destes pensamentos interrogativos são demasiado pequeno-burgueses, mas... Quem não é assim diante da morte certa e anunciada? Quem não enxerga nesse tipo de questionamento um problema menor quando se percebe progressivamente invejoso em virtude de não conseguir se imaginar numa situação similar à da foto, uma das cenas finais do curta-metragem, quando menina e menina se despedem na praia, declarando eternamente o amor que sentem um pelo outro? É tempo de eufemismos em nome do bem comum...

Wesley PC>

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